quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Uma só carne, duas vidas.


É necessário descontruir mitos pra alcançar o êxito e alegria reais num relacionamento; não preciso ficar repetindo pedantemente: “Oh, como a minha vida é uma extensão da lua de mel!”, primeiro porque é falácia, segundo porque maravilhoso pra mim é chegar em casa, e mesmo cansado conversar sobre tudo com a mulher que amo, achando graça até da pia “a la Elê”.
Passar a vida falando de alegrias passadas é um crime contra a evolução dos sentimentos, é perder preciosa oportunidade de construir algo novo, cotidianamente. É imaturo perseguir um relacionamento perfeito; agora nós somos imperfeitos em dobro.
O amparo e o acolhimento diário de Deus é que nos faz continuar (como diz pastor Cacaio, estamos “casados em Deus”), sua intervenção no meu e no coração da Elenice; conseguir discordar sem afrontar, um gesto continuado de generosidade no trato.
A reciprocidade da assertividade aliada a um pensamento dócil e caráter adulto; uma liberdade de raciocínio e expressão casada com um ardente desejo de sentir prazer na mais banal das conversas.
Tem sempre um monte de coisas que gostaríamos de dizer às pessoas que amamos, mas nunca dizemos; sobram coisas a dizer, falta é o jeito, o tato e ocasião adequada. Não criamos ocasiões e elas não caem do teto.
Recém-casados se arriscam muito quando não levam pra dentro de casa a experiência auferida no namoro e noivado; o péssimo hábito de acreditar que ser “uma só carne” é mais ou menos como um “upgrade”, pra iniciar um programa novo tem que apagar o anterior e todos os seus arquivos, formatar.
Entrar numa corrida de tanque quase seco; o problema do “upgrade” é que volta e meia preciso fuçar oHD atrás do “back-up” pra descobrir como isso ou aquilo funcionava antes da “configuração”.
Quando me vejo numa situação difícil no casamento (nada alarmante, calma, não precisa ligar pras nossas mães) procuro lembrar como reagia antes da “configuração do sim” frente a assuntos agora comuns a nós.  Percebo que nossas experiências somadas nos fornecem subsídios pra decisões e reações adultas.
Eu devo continuar implicando com o tubo de creme dental apertado no meio, e aberto (irch!), ela vai continuar discursando sobre perseverança todas as vezes que descobrir outro livro que li pela metade e larguei na cozinha ou um trabalho de seminário protelado.
Ela ainda vai segurar muitas explosões de humor quando eu me esquecer do quanto é importante dar importância às coisas importantes (pra ela), da mesma forma que eu não vou me deprimir toda vez que ela não der a mínima pro artigo novo do Robinson Cavalcanti que eu julgo de leitura imprescindível. Rsrs!
Desarmados e cientes, desta forma vamos caminhar; implicando menos e relevando mais.
Não vamos nos anular, uma carga de experiências e expectativas é a nossa caixa de ferramentas pra construir nosso casamento todos os dias, perto ou distante, com bons ou maus dias, em paz ou atribulados, construir o relacionamento diário tendo Deus como arquiteto, apaziguador e guia.
As coisas que nos mantém atentos um ao outro e unidos, são maioria; nossas diferenças nos preparam, novas etapas nos aproximam, sem crise.
Aprendemos nos livros e com outros casais, mas o enredo de nosso casamento deve ser de nossa autoria. Todas as alegrias e riscos são de nossa inteira competência e responsabilidade.
A propósito, ela pode não saber muito de culinária, mas faz o melhor suco de carambola desse lado do país.
Feliz casamento pra vocês também.
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quinta-feira, 31 de março de 2011

Jesus, Esperança Nossa!


 “... estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós” 1 Pedro 3: 15 – ARA – 2ª edição
As questões que povoam a vida da Igreja tem, invariavelmente, recebido tratamento raso e nenhum cuidado; respostas prontas exaustivamente repetidas, e do outro lado do púlpito ouvidos cansados e ansiosos por palavras que façam algum sentido e satisfaça-lhes a fome de concretude e profundidade.
Vivemos, nós a Igreja, de esperança, a esperança viva e nova que emana da obra e vida de Jesus, o Cristo de Deus; Ele próprio a razão da nossa fé, se quisermos uma resposta absoluta e sem rodeios.
A minha vivência produz respostas satisfatórias a respeito da esperança estampada na minha rotina? A minha alegria é irrepreensível? Meu júbilo é franco? Atraente é a esperança em mim? Repetimos respostas e reeditamos fórmulas neopentecostais de duvidosa aparência e duvidosa eficácia; a Igreja se perde em devaneios tolos de crescimento e desaponta rebanhos inteiros.
A Igreja sequer olha pra trás, pra se perguntar sobre o que restou de verdadeiro no seu discurso; pergunto-me se na minha diária pregação ainda há elementos coerentes com as palavras do Cristo.
Sobre o que falamos mesmo?
Há uma desqualificação na mensagem e nas obras da Igreja, que perde a autoridade na mesma proporção em que perde a vitalidade da esperança.
Outra pergunta: A nossa pregação responde responsavelmente às angustiadas necessidades das pessoas que ainda nos ouvem? Quando indagados acerca da razão da fé anunciada, o que temos de substancial pra dizer?
Nossas fórmulas copiadas às pressas dos manuais neo-gospel até fazem certo sucesso nas noites de domingo, pra logo na segunda sentirmos fome; esquecemos a pregação do Evangelho que cura, liberta, conforta e salva do inferno e fazemos sinais de fumaça. Empolgamos sem, no entanto responder; dissimulamos com aparência de santidade.
Que ninguém duvide das nossas intenções, ninguém diga que não estamos nos esforçando, pois estamos e muito; gastamos tempo, recursos e energia estudando, planejando formas de suprir o alimento e a segurança do rebanho; mas é patente o nosso cotidiano fracasso. Andamos às cegas, à míngua.
Ouço e leio críticas à igreja em qualquer lugar, contundentes e ferozes às vezes; e ainda que tais críticas careçam de profundidade de conhecimento, é um questionamento que a própria Igreja deveria começar.
Qual a nossa relevância e contundência? Questionar a Igreja é prerrogativa da Igreja; cabe ao homem cristão e à mulher cristã contestar o modelo de santidade vendido por aí. Nem de muito perto é perceptível nosso processo de similaridade com o  varão perfeito.
O que há de real consolidado do testemunho da graça no meu cotidiano e, por conseguinte na vida da Igreja?
É imaturo crer ser minha intenção responder sozinho ou em nome da Igreja; há em mim uma diária peleja à procura das pessoas de Deus no meio do povo de Deus e caminhar, perto e ao lado.
Sem furtar-nos de anunciar em todo lugar e tempo a mensagem da cruz, é urgente olharmos pra dentro, vasculhar nosso vocabulário e descobrir as nossas estéreis e vãs repetições, avaliá-las coma ajuda do Espírito Santo pra reformular as respostas, eliminar parte do arsenal e sua inutilidade.
Um rebanho desnutrido não sobreviverá aos mais rudimentares questionamentos ateus e existencialistas, a crítica é revitalizada pela pequenez das nossas respostas.
Qual a razão da nossa esperança? Ainda esperamos? Precisamos ser francos e assumir que respostas honestas e satisfatórias foram esquecidas; sobraram frases prontas aprendidas nas campanhas e palavras de ordem repetidas por gente que não tem o que falar.
As pessoas continuarão procurando no ajuntamento dos crentes por respostas e por refrigério, e encontrarão quando voltarmos o nosso olhar pra elas, e olharmos com a mesma compaixão e interesse que identificavam Jesus.
Teremos como explicar a fé quando refletirmos a partir das afirmativas herdadas pela Igreja quando esta era a mais perfeita tradução do esplendor do noivo, Jesus, Esperança Nossa.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Dor em Tempo de Hipocrisia


 

Eu sirvo a Deus e faço isso servindo a pessoas que, pela própria vida que tiveram antes de serem acolhidos, tornam os nossos dias um campo minado.

Retirar homens das ruas implica em acolher suas mudanças bruscas de humor, suas paranóias, um sem fim de reprováveis hábitos, mentiras e fantasias. Nos primeiros dias andamos por tato (nós e eles).

Mesmo com todos os anos de experiência na recuperação de viciados em drogas, alcoólatras e mendigos, a decisão de dividir nossas vidas com pessoas que sofreram demais e que fizeram outras sofrerem tem sido, via de regra, uma experiência nova, desafiadora e de expectativas interessantes.

Homens assim costumam estabelecer relacionamentos superficiais e convenientes, regra áurea de sobrevivência no mundo das calçadas e marquises. (já reparou? Tem cada vez menos marquises na cidade).

Amá-los e trazê-los a um nível de relacionamento responsável, promover mudanças no diálogo saindo da cômoda condição de observador pra situação de confronto; a autoridade missionária confere-me autonomia para confrontar o comportamento nocivo na mesma proporção que me concede a oportunidade de ser amistoso; não rude no trato.

Obedecer e gastar-me nessa aparentemente infrutífera tarefa de comunicar o amor e vida nova contidas no Evangelho de Jesus Cristo a pessoas que se adequaram ao fracasso cotidiano; a coragem de continuar mesmo vendo outros desistirem se mistura a esperança renovada em cada restauração.

Cito a coragem como virtude na forma de confiar nos variados aspectos que envolvem um programa de recuperação do porte da Missão Vida, no qual tudo é planejado e praticado com vistas ao choque.

Encontrar o quarto limpo, roupas de cama e banho decentes, alimentação variada e farta além de uma estrutura missionária com obreiros preparados especificamente para cuidar-lhes. Ser tratado dignamente após tanto tempo sendo confundido com o lixo, crendo até ser parte do monturo; ser cuidado de modo franco e prático como nunca antes, nem mesmo pela família. Um choque contundente e positivo.

Não obstante, a despeito do que podemos oferecer a uma pessoa, se não caminharmos ali, logo ao lado, identificando os desvios de caráter e tratando-os bíblica e efetivamente, auxiliando na mudança de comportamento e relacionamento, caímos na armadilha de "alimentar e vestir" sem visitar as reais e interiores necessidades, com as quais a maioria se recusa a lidar.

O adesivo da Missão Vida traz uma afirmação esclarecedora quanto à opção de servir: "Porque eu amo gente!". Amar gente é se importar, se importar é se dispor a caminhar até as últimas consequências visando a promoção humana, o que muitas vezes leva ao confronto, e nos devolve ao assunto.

A maioria dos internos que cuidamos não tem alguém que se importe o suficiente pra dizer-lhes a verdade acerca do seu comportamento, por isso eles viveram até aqui de forma nociva; por medo ou falta de interesse não houve pessoas para quebrar o silêncio e dizer o necessário.

Como crentes em Jesus é nossa responsabilidade abordar assuntos espinhosos e desconfortáveis; quando ampliamos o assunto chegamos aos relacionamentos na igreja, escola, trabalho e família; confrontar alguém da liderança local, um dileto membro do conselho ou algum colega de trabalho a quem apreciamos nunca é confortável, nem fácil.

Na carta aos gálatas lemos: "Irmãos, se alguém for surpreendido em algum pecado, vocês, que são espirituais, deverão restaurá-lo com mansidão." Gl 6: 1 – NVI – Todas as vezes que deixamos de cumprir este ensinamento, varremos o lixo pra debaixo do tapete, colocamos uma pedra sobre o assunto e perdemos a chance da cura e do crescimento.

Andaremos unidos e bem quando andarmos livres de assuntos mal resolvidos, quando esclarecermos as pendências e eliminarmos os equívocos; assertividade é ser absolutamente honesto, sendo gentilmente claro quanto ao que pensa do que o outro faz, fala ou deixa de fazer e falar.

Estamos todos cansados de ficar em silêncio em nome da paz, ainda mais uma paz não real; ausentamo-nos quando deixamos pra lá, deixamos de lado, deixamos como está pra ver como é que fica. Nossos relacionamentos e nossos ministérios se deterioram por covardia e alguns fingem não enxergar o caos logo à frente.

Não importa se no Centro de Recuperação de Mendigos da Missão Vida ou na Igreja, onde Deus te estabeleceu, importe-se, "abandone a velha natureza e fale a verdade ao seu próximo, pois somos membros de um mesmo corpo." Faça isso, com mansidão e prudência, descubra que ser transparente é ser parecido com o Senhor. Mansamente firme e firmemente suave. O Deus da paz será com você, certamente.


 

Missão Vida. Porque eu amo gente!


 


 


 


 

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Ah, Jesus, agora eu entendo!”


 


 


 

"Assim, temos ainda mais firme a palavra dos profetas, e vocês farão bem se a ela prestarem atenção, como a uma candeia que brilha em lugar escuro, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça no coração de vocês." 2 Pe 1: 19 – NVI

O Espírito utiliza-se de Pedro e anima os judeus convertidos que nasceram e cresceram ouvindo e/ou lendo os livros do que chamamos Antigo Testamento e nele, a promessa que permeia toda a Palavra, alimentando em esperança geração após geração: o Messias, o Cristo de Deus.

Conhecedores da promessa do Messias, esses homens e mulheres, ao ouvirem sobre as boas novas de Jesus e tendo em seus corações o agir do Espírito Santo, ajudando-os a crer, compreendiam e cada coração convencido do amor de Jesus pelo Espírito, ao receber o perdão dos seus pecados, podia declarar: "Ah, Jesus, agora eu entendo!" A respeito desse amor foi que profetizou Isaías e tantos outros, sobre Jesus de Nazaré.

A promessa de Deus que atravessou a História humana finalmente é real; o Crucificado, dele falam as Escrituras! O Ressurreto, dele falam os salmos! O Glorificado, dele falam todos os que deixaram tudo, até o amor pela própria vida.

Prestando atenção nas palavras dos profetas é que homens e mulheres de todos os cantos até hoje, ao serem apresentados ao Evangelho, experimentam trocar a luz da candeia em lugar escuro pela luz da Estrela da Alva, Jesus no coração de todo aquele que crê. Crer e ser salvo, ato contínuo.

Não foi diferente comigo, guardadas as variações; ao ouvir de Jesus e do Seu amor, ao prestar atenção e o Espírito interferir no meu raciocínio, permitindo-me entender, ajudando-me a crer, aceitei toda a força do amor do Cristo de Deus pra em seguida me render dizendo: "Ah, Jesus, agora eu entendo!"

Cresci numa família não religiosa, mas pude conhecer a Bíblia desde cedo através das Histórias do Antigo Testamento contadas toda noite pelo meu avô Alexandre; encantava-nos ouvir sobre Abraão, Isaque, Jacó, José. A Palavra só me atingiria muito mais tarde.

Na cruz todos os meus anseios e angústias encontraram respostas, pra logo depois me nasceram novos anseios e angústias, coisas de crente novo (?). Diariamente cada dúvida, anseio e desesperança tem encontrado resposta na cruz, ali e em nenhum outro lugar a minha alma se dobra e recebe refrigério, ali meu coração se aquieta e aprende.

A carta aos coríntios foi motivo de sucesso para o poeta Renato Russo que falou do trecho encontrado no capítulo 13 sobre conhecer apenas parcialmente; Stephen Collins e Justus Nelson (uma parceria) deixaram outra canção que traduz-nos o anseio que, por vezes não entendemos (Da linda pátria estou mui longe...)

O texto aos coríntios traz afirmações poderosas ao comunicar-nos que: "Agora, portanto, enxergamos apenas um reflexo obscuro, como em um material polido; entretanto, haverá o dia em que veremos faca a face. Hoje, conheço em parte; então conhecerei perfeitamente, da mesma maneira como plenamente sou conhecido." 1 Co 13: 12 – NVI –

O reflexo imperfeito produzido pelo bronze polido à época do apóstolo ainda é o que sabemos hoje da glória; fazemos bem em prestar atenção às palavras dos apóstolos e demais autores do Novo Testamento, afinal, certo que estou da minha salvação (ainda que alguns desavisados afirmem que os arminianos sofram uma sem igual angústia quanto ao assunto; mas são apenas desavisados) aguardo o dia "Quando ao Céu eu chegar."

Ah, então estarei com Jesus, face a face com o salvador de todo aquele que crê! Verei a Sua glória e esplendor; demoradamente e profundamente aspirarei o cheiro bom do Céu que exala d'Ele, o Redentor.

Uma vez lá, com essa minha indisfarçável cara de mineiro distraído, direi: "Ah, Jesus, agora eu entendo!" Era desse lugar que falávamos nos púlpitos, a esse doce aroma e sensação se referiam os hinos que cantávamos no coral e na congregação; gastamos muitos domingos imaginando tal arquitetura!

Há outro hino que diz: "Eu vou pro céu, lindo céu, com Cristo eu vou morar num lindo céu." - Dick Torrans – (sempre quis fazer um solo, mas nunca permitiram) A pátria celestial terá uma frase certa: "Ah, Jesus, agora eu entendo!" na boca de todo humano que, crendo foi salvo e perseverando santo permaneceu salvo.

Agora vejo em parte, sinto e entendo em parte, mas face a face com o Salvador saberei plenamente; o poder da afirmação "Então, conhecerei perfeitamente, da mesma maneira com plenamente sou conhecido." está na certeza da intimidade com o Senhor, eu O conhecerei como me conhece hoje o Espírito; não haverá mistérios nem reflexos obscuros.

Agora eu entendo, é de Jesus que minh'alma tem saudades.

Missão Vida, porque eu amo gente!


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 


 

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

A morte de Deus e a morte de Cristo


 

Olá Dr. Craig,

Eu gostaria primeiramente de agradecê-lo pelo tempo e trabalho que você dispensa ao seu ministério. Tem me beneficiado grandemente e foi o seu exemplo que me fez estudar e conseguir uma graduação em filosofia.

Sobre a minha questão, eu nunca consegui uma resposta clara a ela. Quando Jesus morreu na cruz, Deus morreu? Se sim, a essência de Jesus verdadeiramente morreu?

Esta questão realmente me incomodou enquanto eu estava escutando a música "And Can it Be?" [E pode ser?]. Tem uma parte nela, no fim do coro, que diz "Amazing Love! How can it be that Thou my God shoudst die for me? Amen!" [Grande amor! Como pode ser, Tu, meu Deus, morrer por mim? Amém!].

Eu nunca consegui uma resposta clara e concisa para esta questão e parecem existir diferentes opiniões entre os teólogos sobre a natureza desta questão. O pastor John MacArthur parece acreditar que Deus morreu, uma vez que Jesus é Deus. Já R. C. Sproul discorda e acredita que Deus não pode morrer.

Eu não consigo entender como pode ser possível que Deus pudesse verdadeiramente morrer. Por que se Deus pudesse, Ele não seria um Ser metafisicamente necessário. Mas isto é impossível porque, por definição, Deus deve ser necessário. Assim, quando Cristo morreu na cruz, foi apenas sua parte humana que morreu?

Esta é uma questão difícil, e eu apreciaria muito se você pudesse lançar alguma luz sobre ela.

Muito obrigado,

Jesse


 

Resposta do Dr. Craig:

Não pude resistir à sua questão, Jesse, uma vez que ela apela ao meu hino favorito, o magnífico"And Can it Be?", de Charles Wesley. Eu desafio qualquer cristão que conheça apenas músicas de louvor e a adoração a ouvir este hino e contemplar sua maravilhosa letra sobre o incrível amor de Deus.

Sua questão é uma das que confunde nossos amigos mulçumanos e é, portanto, muito urgente. Felizmente, a Igreja cristã histórica já discutiu esta questão de forma clara.

O Concílio de Calcedônia (451) declarou que o Cristo encarnado era uma pessoa com duas naturezas, uma humana e outra divina. Isto gerou conseqüências muito importantes. Isto implica que, uma vez que Cristo exista antes de sua encarnação, ele era um ser divino antes de falarmos sobre sua humanidade. Ele foi e é a segunda pessoa da Trindade. Na encarnação, esta pessoa divina assume uma natureza humana também, mas não há outra pessoa em Cristo além da segunda pessoa da Trindade. Existe um acréscimo de natureza humana que o Cristo pré-encarnado não tinha, mas não há acréscimo algum de uma pessoa humana à pessoa divina. Existe apenas uma pessoa, com duas naturezas.

Portanto, o que Cristo disse e fez, Deus disse e fez, uma vez que quando falamos de Deus, estamos falando sobre uma pessoa. Esta é a razão do Concílio falar de Maria como "a mãe de Deus". Ela carregou no ventre uma pessoa divina. Infelizmente, esta linguagem tem sido desastrosamente interpretada, porque soa como se Maria tivesse dado a luz à natureza divina de Cristo quando de fato ela deu a luz à natureza humana dele. Maomé aparentemente ensinou que os cristãos acreditavam que Maria era a terceira pessoa da Trindade, e Jesus era o descendente da relação entre Deus Pai e Maria, uma visão que ele corretamente rejeitou como blasfema, não obstante nenhum cristão ortodoxo a abraçasse.

Para evitar tais desentendimentos, é proveitoso falar do que ou como Cristo fez em relação a uma das suas naturezas. Por exemplo, Cristo é onipotente em relação a sua natureza divina, mas é limitado em poder em relação a sua natureza humana. Ele é onisciente em relação a sua natureza divina, mas ignorante sobre vários fatos em relação a sua natureza humana. Ele é imortal quando nos referimos a sua natureza divina, mas mortal quando nos referimos a sua natureza humana.

Você provavelmente já consegue entender agora aonde eu quero chegar. Cristo não poderia morrer em relação a sua natureza divina, mas ele poderia morrer em relação a sua natureza humana. O que é a morte humana? É a separação da alma do corpo quando o corpo cessa de ser um organismo vivo. A alma sobrevive ao corpo e se unirá com ele novamente algum dia em forma ressurreta. Foi isto que aconteceu com Cristo. Sua alma se separou do seu corpo e seu corpo cessou de viver. Por alguns instantes ele desencarnou. No terceiro dia Deus o ressuscitou dos mortos em um corpo transformado.

Em parte, sim, nós podemos dizer que Deus morreu na cruz porque a pessoa que submeteram à morte era uma pessoa divina. Então Wesley estava totalmente correto em perguntar "Como pode ser, Tu, meu Deus, morrer por mim?". Mas dizer que Deus morreu na cruz é conduzir erradamente a questão, da mesma forma como fazem quando dizem que Maria era a mãe de Deus. Assim eu acho melhor dizer que Cristo morreu na cruz em relação a sua natureza humana, mas não em relação a sua natureza divina.

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Tradução: Eliel Vieira

Fonte: On Guard

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

[John Wesley e o Espírito Santo


 


 


 

________________________________________ Duncan Alexander Reily


 


 

Norman Lawrence Kellett, na sua tese de doutoramento argumenta que a Doutrina do Espírito Santo tinha quase desaparecido na Inglaterra, devido ao deísmo tão difundido entre teólogos da Igreja da Inglaterra e do socinianismo e moralismo entre os puritanos ("dissidentes"). Concordo com a tese de Kellett; ao restaurar a doutrina do Espírito Santo, Wesley contribuiu também para um saudável equilíbrio na fé e na prática do cristianismo na Inglaterra e, através do movimento metodista, ao protestantismo em geral.


 

No entanto, o propósito do presente ensaio não será a defesa da tese de Kellett e, sim, uma análise da doutrina do Espírito no pensamento e na prática de Wesley. Trataremos principalmente da doutrina da Trindade, da doutrina da redenção e da vida no Espírito e, por fim, consideraremos um complexo de questões que agruparemos sob a indagação "Era Wesley um 'entusiasta'?"


 

O Espírito Santo e a Trindade


 

Wesley manifestava pouco interesse em uma teologia meramente especulativa; por isso, apesar de aceitar a doutrina da Trindade como verdadeira e em harmonia com a revelação, ele se recusou a tentar explicar como era possível o único Deus ser também três. Defendia, porém a formulação oficial nos Trinta e Nove Artigos da Igreja da Inglaterra, elaborados durante o reinado da Rainha Isabel (ou Elizabeth I). Veremos logo abaixo sua adaptação dos Trinta e Nove Artigos, por ocasião da criação da Igreja Metodista Episcopal, em 1784. O que, na verdade, realmente mereceu a atenção de Wesley era a efetivação da plena salvação humana através da ação conjunta de um Deus triuno e a essencial harmonia de todas as pessoas divinas que perfaziam a plenitude da trindade.


 

Na sua célebre "Carta a um Católico Romano", escrita em 118 de julho de 1749(Letters, III, 7-14), Wesley demonstra o quanto se assemelham as doutrinas protestantes e católicas, a partir da sua crença em Deus como Pai, Filho e Espírito Santo. Na referida carta, ele define Deus como ser "infinito e independente", "pai de todas as coisas", sendo "de maneira especial o Pai daqueles que Ele regenera pelo seu Espírito, os quais Ele adota no seu Filho, como co-herdeiros com Ele...". Portanto, a redenção e obra do Deus trino, a regeneração sendo uma função do Espírito. Encontramos na mesma carta outro exemplo da co-participação das três pessoas divinas, esta vez na obra da revelação: O salvador, Jesus de Nazaré, "sendo ungido pelo Espírito Santo, foi profeta, revelando-nos a vontade plena de Deus". Novamente temos, então, uma Trindade "funcional", sendo a tarefa particular do Espírito Santo a de ungir o Filho como profeta de Deus Pai (e bem assim, dos seus ofícios como Sacerdote e Rei).


 

Wesley continua com a descrição, não mais com a pessoa do Espírito (a qual enfaticamente afirma), mas com função deste. Estas funções, no entanto, serão tratadas mais adiante, na parte sobre a vida do Espírito. Wesley não chegou a elaborar urna confissão de fé original; mas, quando da constituição do metodismo norte-americano


 

(FALTA UMA FRASE AQUI)


 

Pessoas da mesma substância, poder e eternidade - Pai, Filho e Espírito Santo." O 4° Artigo declara: "O Espírito Santo, que procede do Pai e do Filho, "e da mesma substancia, majestade e gloria com o Pai e com o Filho, verdadeiro e eterno Deus."

 
 

O 4° Artigo contrário ao Credo Niceno na sua forma original e contra a postura da Igreja Ortodoxa afirma que o Espírito Santo procede do Pai e do Filho. John Wesley não ignorava a história do acréscimo das palavras "e do Filho" (filioque, em Latim), o qual havia resultado na ruptura do Cristianismo em duas Igrejas distintas, a Católica Romana e a Ortodoxa (1054). Wesley a inovação, a qual tinha a intenção de enfatizar a igualdade entre Pai e Filho. Comentando João 15.26, ele escreveu: "Que ele procede do Filho, bem como do Pai, pode ser corretamente argentado por ele ser chamado o Espírito de Cristo -I Pe 1.11; e do fato de ser declarado aqui dele que fora enviado por Cristo [da parte] Pai, e também pelo Pai em meu nome".(Notes, loc. cit.)

 
 

Pelo exposto, fica evidente Que Wesley não a aceitava a doutrina da Trindade impensadamente. Ele percebeu na formulação tradicional da Trindade uma clara expressão da harmonia entre as operações do Espírito Santo e as do Pai e do Filho.


 

Por exemplo, devemos notar a íntima relação entre o Espírito Santo e Jesus de Nazaré. Os Evangelistas afirmam que Maria "achou-se grávida pelo Espírito Santo" (Mt 1.18; cp. Lc 1.35). Foi o Espírito que ungiu Jesus por ocasião do seu batismo, enquanto Deus dizia "Tu és meu Filho amado, em ti me comprazo" (Mc 2.1; cp. Mt 3.16,17 e Lc 3.21,22). Wesley comenta o acontecido: "Este foi um sinal visível daquelas operações secretas do abençoado Espírito, porque ele foi ungido de uma maneira peculiar; e abundantemente preparado para sua obra pública (cp. Lc 4.18 e o comentário de Wesley nas Notes). Assim Jesus (o Filho) foi constituído profeta pela ação do Espírito Santo, para declarar a vontade de Deus Pai, sendo o verbo a própria "Palavra" do Pai.


 

A função do Espírito Santo na inspiração é tema freqüentemente mencionado nos hinos de Carlos Wesley.


 

Nessa harmonia de intenção e de ação, não seria possível que a trombeta desse sonido confuso (cp. 1Co 14.8); quaisquer novas revelações teriam necessariamente de estar em harmonia com a "Lei e o Testemunho" (cp. Is 8.19,20; Wesley usava a frase com freqüência). Qualquer discrepância entre uma nova palavra, profecia ou revelação e as Sagradas Escrituras teria que ser considerada inautêntica, pois a concordância entre as três pessoas divinas da Trindade evitaria qualquer contradição.


 

A importância desse fato para Wesley é ilustrada por um significativo diálogo que ele manteve com um Quaker, ou seja, membro de uma corporação religiosa que muito prezava a direção da "luz interna" em tudo. O Quaker havia, outrora, assistido à pregação de Wesley, mas não o fazia mais. Deu como a razão que Wesley não era conduzido pelo Espírito Santo, pois marcava com antecedência o lugar e horário das suas pregações, sem esperar imóvel aguardando uma ordem do Espírito para pregar em um ou outro lugar. Wesley perguntou ao homem se o cristão não deveria fazer o que Deus manda nas Escrituras (isto é, pregar a palavra a tempo e fora de tempo - cp. 2Tm 4.2) e se as conversões que efetivamente ocorriam não seriam suficiente confirmação de que ele estivesse agindo em harmonia com a vontade do Deus triúno. O Quaker não concordou; para ele, Wesley devia esperar que o Espírito o movesse a pregar; de outra forma o metodista estaria valorizando "a letra que mata" mais que a instrução do Espírito. Assim Wesley escreveu no seu Journal no dia 6 de julho de 1739, "Deus queira que eu sempre preze [Sua palavra] todos os dias da minha vida." Não é que Wesley descria em direção direta do Espírito, mas ele tinha a certeza de que tal direção ou instrução nunca poderia contrariar a clara revelação de Deus; de outra forma, Deus, o Espírito, estaria em conflito com Deus, o Pai, uma situação inconcebível para uma pessoa que se considerava HOMO UNI US LIBRI.


 

Outra ocasião em que o mesmo tipo de questão estava em jogo talvez deva ser narrada aqui. No dia 31 de agosto de 1784, o octogenário João Wesley escreveu uma carta de consolo e conselho a Ann Bolton. Na carta, Wesley narrou um acontecimento antigo que houve na sua família. Wesley Hall namorava Kezia, a filha mais jovem da família Wesley. Hall falou a Kezia que Deus a havia escolhido para ser sua esposa; Kezia orou e se convenceu que Deus realmente os havia feito um para o outro. Mas, depois de uma semana, Hall largou a Kezia, namorou Marta ("Patty"), e se casou com ela, deixando Kezia desolada e perplexa. Assim João Wesley, aproveitando a narrativa para tal, aconselhou Ann Bolton (a qual aparentemente passava por crise semelhante) que nunca se devia confiar demais nas orações em semelhantes situações e, sim, só na "palavra de Deus escrita", (Letter, VII, 233).

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Fonte : Rede Metodista