segunda-feira, 7 de setembro de 2009
Não sei lidar com Deus.
Magno Aquino
Carta escrita quando o autor era interno no centro de recuperação de mendigos – Missão Vida, ao rev. Edson Alves, Ig. Metodista – BH –
Gastei os últimos anos olhando para a cruz; diante da autoridade da cruz o homem arrogante, violento e acostumado a dar as cartas foi demolido, desmontado; o sujeito de olhar ruim e armas sempre ao alcance das mãos, diluiu-se enfim.
Face a face com a cruz vivi momentos de tribulação e esvaziamento, sentia uma paz e regozijo que pude afirmar que outro ou mais excelente estado não poderia existir: ser crente. Baixei a guarda pra nunca mais reerguê-la, depus as armas pra nunca mais empunhá-las contra meu semelhante. Por qualquer ângulo eu era outra pessoa. Um crente.
Ao receber o amor de Cristo, de uma única vez me fiz presa desse amor e servo desse Reino. Dispus-me ao serviço do meu Senhor; sem, no entanto aprender o significado de descansar n’Ele. Sempre devedor intruso; persona non grata diante do trono da graça. No meio do seu povo eu cheirava diferente, falava diferente e era, de forma angustiante, diferente. Crente feito às pressas.
Durante quase duas décadas venho amando Jesus e cada palavra dita por Ele e sobre Ele; a Bíblia eu trato por “Santo Livro.”! Mas não relaxo na presença da Deus, falo muito, falo sandices e pra consertar erro de novo. Fui maluco até pra me queixar de um resfriado. Insano. Agora só falta me queixar da dor de dente.
Não sei lidar com Deus.
É grande demais pra alguém tão pequeno; puro demais pra alguém sujo demais; santo demais pra alguém pecador demais; belo demais pra mim. Simples pra ser só simples e amoroso, só assim e pronto; não dá pra entender como Deus pode ser assim! Se não fosse tão bom seria mais fácil ir embora. Um de nós está sempre longe; no lugar ou na prosa desencontrada.
Por temor e respeito sempre interrompo a oração quando suspeito que outro ora um assunto de maior importância e está a seqüestrar-Lhe a atenção; deixo pra lá, minha conversa não é importante, nunca é.
Li, estudei tanto sobre oração que posso criar um manual de oração, teoria é que não me falta; observo com que pressa Ele atende quando por outros peço, que por mim quase peço! Mas quando é assim pra mim eu me travo; pedidor insolente, inoportuno; ralho-me e calo, desvio o olhar e o assunto e desando a falar do céu e do mar e do vento, até aleluia eu falo, pra disfarçar a falta de tato; e sob o olhar de soslaio me ausento.
Num primeiro instante eu creio, pra em pouco tempo apoucar-me a fé que antes de tão densa fazia-me quase tocá-Lo; mas recolho a mão, quase desdigo a prece, peço perdão por medo; pois se não der certo o assunto da oração pode ser que eu murmure, aí se murmurar peco e de pecar estou farto.
Reaprendi a desviar o olhar, olho pro chão; é menos doloroso e menos humilhante do que olhar pra cima e dar de cara com o olhar d’Ele olhando pra outro rumo e não pra mim. Não é preciso que diga que não sei orar, eu digo e disso faço meus dias; sem sonhos grandes, nem pequenos.
Olho a cruz vazada no “Terra Nova” e estremeço, oro em voz alta, é um jeito novo de orar, e se percebo que estou desagradando mudo de assunto, pra não encher. Deus sem dúvida é muito ocupado.
Aprendi a confiar igual ao pastor, que gosta do salmo 40, confiantemente! Eu também creio, me entusiasmo até que venha o terror de deixar de crer e confiar; a fé que tenho é pouca, quase nada e pode secar, e aí? Com esse quase nada eu sobrevivo, mas só com o nada vou viver com o quê? Continua...
(ex-interno do centro de recuperação de mendigos – Missão Vida)
http://www.mvida.org.br Visite-nos
http://www.sola-scriptura.com O prazer da leitura bíblica.
Não sei lidar com Deus.
Magno Aquino
Carta escrita quando o autor era interno no centro de recuperação de mendigos – Missão Vida, ao rev. Edson Alves, Ig. Metodista – BH –
Gastei os últimos anos olhando para a cruz; diante da autoridade da cruz o homem arrogante, violento e acostumado a dar as cartas foi demolido, desmontado; o sujeito de olhar ruim e armas sempre ao alcance das mãos, diluiu-se enfim.
Face a face com a cruz vivi momentos de tribulação e esvaziamento, sentia uma paz e regozijo que pude afirmar que outro ou mais excelente estado não poderia existir: ser crente. Baixei a guarda pra nunca mais reerguê-la, depus as armas pra nunca mais empunhá-las contra meu semelhante. Por qualquer ângulo eu era outra pessoa. Um crente.
Ao receber o amor de Cristo, de uma única vez me fiz presa desse amor e servo desse Reino. Dispus-me ao serviço do meu Senhor; sem, no entanto aprender o significado de descansar n'Ele. Sempre devedor intruso; persona non grata diante do trono da graça. No meio do seu povo eu cheirava diferente, falava diferente e era, de forma angustiante, diferente. Crente feito às pressas.
Durante quase duas décadas venho amando Jesus e cada palavra dita por Ele e sobre Ele; a Bíblia eu trato por "Santo Livro."! Mas não relaxo na presença da Deus, falo muito, falo sandices e pra consertar erro de novo. Fui maluco até pra me queixar de um resfriado. Insano. Agora só falta me queixar da dor de dente.
Não sei lidar com Deus.
É grande demais pra alguém tão pequeno; puro demais pra alguém sujo demais; santo demais pra alguém pecador demais; belo demais pra mim. Simples pra ser só simples e amoroso, só assim e pronto; não dá pra entender como Deus pode ser assim! Se não fosse tão bom seria mais fácil ir embora. Um de nós está sempre longe; no lugar ou na prosa desencontrada.
Por temor e respeito sempre interrompo a oração quando suspeito que outro ora um assunto de maior importância e está a seqüestrar-Lhe a atenção; deixo pra lá, minha conversa não é importante, nunca é.
Li, estudei tanto sobre oração que posso criar um manual de oração, teoria é que não me falta; observo com que pressa Ele atende quando por outros peço, que por mim quase peço! Mas quando é assim pra mim eu me travo; pedidor insolente, inoportuno; ralho-me e calo, desvio o olhar e o assunto e desando a falar do céu e do mar e do vento, até aleluia eu falo, pra disfarçar a falta de tato; e sob o olhar de soslaio me ausento.
Num primeiro instante eu creio, pra em pouco tempo apoucar-me a fé que antes de tão densa fazia-me quase tocá-Lo; mas recolho a mão, quase desdigo a prece, peço perdão por medo; pois se não der certo o assunto da oração pode ser que eu murmure, aí se murmurar peco e de pecar estou farto.
Reaprendi a desviar o olhar, olho pro chão; é menos doloroso e menos humilhante do que olhar pra cima e dar de cara com o olhar d'Ele olhando pra outro rumo e não pra mim. Não é preciso que diga que não sei orar, eu digo e disso faço meus dias; sem sonhos grandes, nem pequenos.
Olho a cruz vazada no "Terra Nova" e estremeço, oro em voz alta, é um jeito novo de orar, e se percebo que estou desagradando mudo de assunto, pra não encher. Deus sem dúvida é muito ocupado.
Aprendi a confiar igual ao pastor, que gosta do salmo 40, confiantemente! Eu também creio, me entusiasmo até que venha o terror de deixar de crer e confiar; a fé que tenho é pouca, quase nada e pode secar, e aí? Com esse quase nada eu sobrevivo, mas só com o nada vou viver com o quê? Continua...
(ex-interno do centro de recuperação de mendigos – Missão Vida)
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http://www.sola-scriptura.com O prazer da leitura bíblica.