sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Eu falo a língua de Deus.


 

Magno Aquino


 

"Portanto, ponham em primeiro lugar na sua vida o Reino de Deus e aquilo que Deus quer;" Mateus 6: 33a NTLH

"Ainda sofro ao recordar das pessoas sendo forçadas a cair, coagidas a balbuciar qualquer coisa estranha numa mal ensaiada "crise epiléptica"; entristece-me a lembrança de olhares vazios procurando alguma verdade; não havia verdade alguma naquilo." Do livro, "Kalabashurya! O transe." -Magno Aquino - Edições Cury

"Muitos querem me fazer crer que as bençãos do Senhor estão disponíveis nos seus espetáculos da fé; mercadorias do céu a preço de ofertas. Uns investem na bolsa, outros no altar absurdamente humano."

"Observo crentes sérios que de soslaio observam os templos "neo" e tem a sensação de que algo lhes falta; ah, nada lhes falta, amados, de igual modo fomos todos igualmente selados no Espírito Santo." - idem

Não se equivoque nem minta aqui; é patético invejar as experiências carismáticas, sejam elas genuinamente geradas em Deus ou ardilosamente ensaiadas no diabo; absurdo é copiá-las e conduzir gente simples e de boa índole ao vexame e frustração.

Ir á frente do rebanho neste voo cego é irresponsabilidade; é desonesto, é cruel. Numa aventura pentecostal sem bússola nem mapa. Bússola e mapa de crente em Jesus são as Escrituras e o seu criterioso e submisso exame.

Por outro lado, não se deve esperar de certos grupos o mesmo rigor e disciplina no estudo de determinados assuntos; o esmero "bereano" não é das qualidades a mais apreciada pelos mascates da fé. Não foram conduzidos, nem conduzem à Fonte; alguns há por demais emotivos, alguns impropérios misturados a lisonjas denominacionais e estão saciados.

Não minimizo sequer nego o agir de Deus e as suas mais variadas formas em qualquer comunidade religiosa; não me cai bem a toga.

A pergunta é: À luz do Novo Testamento, o que o Espírito tem pra Igreja que não foi entregue, ou anunciado?

Observo o desespero de crentes sérios perseguir as línguas estranhas, porém, quase nunca percebo neles a mesma sede por uma oportunidade de serem achados compassivos e misericordiosos; "Glossolalia é crachá de santo, misericórdia é crachá de otário!" (?)

Ninguém é crente em Jesus se não o for por obra do Espírito Santo; dependo plenamente do batismo de Deus pra testemunhar, e servir.

Não quero gastar energia e tempo perseguindo experiências que não resultem em vida graciosa, bem comum e serviço de adoração; minha vida, toda ela resgatada não me serve por deleite, ainda que espiritual.

Eu sirvo, é isso que faço; dependo dos dons do Espírito, também do fruto d'Ele derivado, e ainda do selo outorgado no batismo pelo Senhor Espírito Santo.

Eu não peço a Deus nada além de graça e criatividade pra servi-lo, servindo aos outros.

Que proveito há no êxtase "novo" sem conversões novas? De que me serve o transe restrito ou coletivo (este mais complicado que aquele) sem o exalar contagiante do bom perfume de Cristo?

Qual é o real valor das línguas estranhas na boca de gente sem compaixão?

Gastar o meu tempo comigo é egoísmo, é desonesto. Sou crente em Jesus, pertenço ao Senhor e a esse "pertencer" pertence o meu tempo e dons que devem ser empregados no serviço de adoração e socorro.

À minha volta um rebanho inteiro de famintos, nus, sedentos e desacompanhados; fecho a boca, oculto a língua e estendo a mão.


 

Letra Santa. A sua rede de leitura.


 


 


 


 


 


 

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Até Deus já gostou de mim!


 

Magno Aquino Miramontes

"No amor não existe receio; antes, o verdadeiro amor lança fora todo o medo." 1 João 4: 18a KJA

"eu não fui assim a vida inteira..." Foi esta a frase que ouvi ao parar pra dar atenção a um mendigo, próximo à igreja.

Por todo o dia fiquei pensando nas palavras daquele homem; atingiram-me. Ele continuou o seu desabafo e o curioso era o fato de se dirigir a mim que passei um longo período afirmando a mesma coisa ("eu não fui assim a vida inteira, eu já prestei!"), desesperado tentando provar a mim mesmo que em outro tempo as coisas foram diferentes.

"Cê pode até duvidar, mas já teve gente que gostava de mim!" Gritava ele a um metro e meio de distância, "Se bobear, "irmão", até Deus já gostou de mim, eu já prestei, eu já tive casa e tudo, emprego bom tive uns cinco e amigo era pra todo lado, cê tem que ver a lindeza da princesa que deixei em casa!". Uma foto amarrotada surge nas mãos encardidas, um bebê.

Fiquei calado esperando o fim do dolorido discurso. Transtornado pelo álcool e por drogas as chances de uma conversa decente eram nulas; entreguei-lhe uma cédula de dois reais sem ao menos tecer as recomendações que nós os crentes temos o péssimo hábito de fazer; não obstante, meu pensamento saiu dali encharcado com as imagens que as palavras daquele mendigo fizeram brotar.

"Eu não fui assim a vida inteira..." Eu também não... Andei desconfortável por vários quarteirões; pregaria em instantes e todo o meu entusiasmo se desvanecera; deprimi. Sem vontade nada além de vontade de chorar.

Gente assim! Gente que de uma hora pra outra abre os olhos e descobre que o seu passado virou fumaça e o seu presente é o resumo do caos; lixo e roupas sujas e comida velha e moedas de pequeno valor e pontas de cigarro e cachaça ruim e cheiro de urina e gente limpa que se desvia e gente limpa que lança moedas de pequeno valor. Nenhum valor.

Esqueci-me do sermão e do compromisso na "igreja grande" e percebi o universo rasteiro que me rodeia e que muitas vezes nem noto; mendigos pra todo lado. Aspirei e senti o cheiro característico e até pouco tempo comum, cheiro de gente de rua. Gente assim.

Imagens de um passado não muito distante, cenas de dias vazios, ruins de lembrar; difíceis de acreditar e difíceis de esquecer.

Naquela conversa o homem por detrás daquela derrota recordava as vezes que tentou e até conseguiu ficar limpo por um tempo, mas contava também todas as vezes que de uma hora pra outra se descobria ali, no lixo, rodeado de dias ruins de viver ruins de suportar.

Tenho a sensação desagradável de estar fazendo as coisas pela metade, fazendo de um jeito que não acaba bem; as pessoas saem dos centros de recuperação e nem mesmo estréiam seus documentos novos e suas vidas novas e já estão de volta; um olhar inexpressivo e uma história repetida; sobrou isso.

Identifico isso tudo nas conversas do reincidente, ele saiu do centro de recuperação onde ficou meses e meses sem drogas, sem álcool, sem roubar, e com sorte ouviu sobre o amor de Deus, até mesmo, com muita sorte experimentou esse amor; agora é ele e a rua e o placar já começa contrário. Ser ex é sempre um drama.

Quando não encontra acolhida em casa, nem na igreja, sequer trabalho arruma, vai rondar e rodear velhos companheiros, velhos lugares e sente-se confortável, aceito e seguro; por um tempo é assim.

Quando a sensação de conforto se torna inquietação, a aceitação vira cobrança e a segurança não é mais tão segura assim, volta pro centro de recuperação, único lugar seguro e familiar e onde ele sabe que mesmo que por um pouco de tempo será cuidado e amado, mais um pouco. Amado.

A conversa daquele moço me trouxe essa questão e agora só penso nisso: "O que a Igreja tem feito a respeito de gente assim?" 1 João 4: 18


 


 


 


 


 


 

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Deus! Muda o meu coração!


 

Magno Aquino Miramontes


 

Tenho repetido esta oração desde os tempos nos quais sequer compreendia as razões do arbítrio e o fato bíblico de Deus permitir-nos escolher o próprio caminho, e suas implicações.

Suplicava sofridamente que as minhas atitudes, ou melhor, as minhas reações frente às injustiças, às afrontas e ao desprezo fossem maduras, equilibradas; mas qual nada!

Diante da primeira dificuldade relacional eu explodia, descobria que Deus não fizera a parte d'Ele; não mudara o meu coração.

Eu orara e isso era fato. Então qual o motivo da minha intempestiva conduta? Minha desmedida ira? Cadê o sobrenatural em mim? O operar inexplicável no meu duro coração que diligentemente suplicara por uma intervenção divina, uma ampla transformação no meu relacionar?

Eu precisava urgentemente que Jeová interferisse em mim, (tipo quando fez aquelas coisas com o Faraó nos dias que antecederam o Êxodo).

Na primeira epístola de São Pedro há uma expressão abrangente, nos primeiros versos Deus traz através do apóstolo uma série de afirmativas concernentes a quem somos nós, quem Ele é, o que fazemos aqui e, o motivo da inexplicável exultação da nossa alma, a saber, Jesus, crucificado, ressurreto, ascendido, glorificado.

Então vem a tal expressão abrangente: "Porquanto, estais realizando o alvo da vossa fé: a salvação de todo o vosso ser." l Pe 1: 9 KJA

O Espírito Santo não disseca nem subtrai o humano, antes, associa-o a si mesmo, integral; a maioria das versões limita a salvação da "alma", parte do ser; aqui se amplia o sentido: "... todo o vosso ser."

Deus na Bíblia muitas vezes operou de forma unilateral, mas Deus na Bíblia jamais mentiu acerca de Si mesmo e não me lembro de ler nalguma sobre Ele violar um humano; o Pai, amoroso como Ele só, não se constrange com a nossa demora em compreender a Sua vontade, sendo o Eterno, "tem todo o tempo do mundo!".

A conversa aqui é sobre o que Deus não fará por mim e por meus particulares desacertos.

Hoje pela manhã as minhas orações duraram pouquíssimo tempo (minhas orações são sempre rápidas, atropeladas; hoje foram muito rápidas e muito atropeladas), pois ao pedir a intervenção divina numa área de controle humano, violei o princípio do arbítrio. Entendi isso me lembrando exatamente do Faraó.

Jeová afirmou coisas a respeito daquele moço, utilizou-se dos elementos, das pessoas e das circunstâncias e crendices pra chegar ao coração dele e através dele triunfar sobre o mal institucionalizado ali no Egito; mas não violou o coração daquele moço.

Quando eu oro: "Deus! Muda o meu coração!" Necessito entender: fatores externos serão acionados e o Pai, mesmo sendo amoroso como Ele só, vai esperar a minha reação, e "torcer" para que os tais fatores externos ao me atingirem e alterarem o meu mundinho, também me ensinem, e o meu coração mude o seu curso, ou a sua prece.

Não há lugar em nosso relacionamento com o Senhor pra intervenções grosseiras; Deus permite-me perceber ao meu redor a sua ação. Da minha sensibilidade depende a minha compreensão.

Elias descobriu que Ele não estava nem no vento, terremoto ou fogo, o texto do livro dos reis 19: 12b, diz: "um cicio tranquilo e suave."

O Senhor "espera" que nos aquietemos e compreendamos a Sua ação em favor de nós, Ele sempre faz isso mesmo quando não merecemos; e nunca merecemos.

Um coração humano age como tal, até ser redimido e santificado segundo os padrões do Padrão, que é Jesus; sem isso, nada feito.

Deus não vai mudar o meu coração; ainda que desde criança, antes de conhecer e submeter-me a Jesus, eu conheça o texto de Ezequiel sobre o coração de pedra e o coração de carne, é tão somente retórico! Deus não vai proceder a uma cirurgia em mim, até pode, mas não vai, não age assim por definição.

"Deus! Muda o meu coração!" Essa minha oração repica na minha cabeça o tempo todo, espero e não consigo ver mudanças, ah, Deus!

Até quando começo a me perguntar o que de fato Deus fez a respeito de tudo isso, pra aí me calar; contemplo o caminho percorrido e não sem esforço identifico a constante ação de Deus durante o dia difícil, através do sermão cansativo e ruim de pregar e, por conseguinte, de ouvir; pela oração demorada demais ou curta demais ou descomprometida demais.

Percebo o cuidado com o meu coração até no hino fora dos trilhos e nos avisos e nas conversas enfadonhas e reuniões intermináveis de trabalho, e até no trabalho repetitivo de fazer a mesma coisa todos os dias do arrebol ao ocaso.

Deus, lindamente espera que me acalme e me desocupe; desafogue-me, me desenlace e me desobrigue pra então falar, sem o alvoroço do vento, do terremoto ou do fogo.

Tranquilo e amoroso Ele aguarda a minha atenção, espera até que eu desvie o meu olhar das coisas e das pessoas; não vai fazer alarde, vai falar mansa, doce e suavemente e a Sua Palavra será de fácil entendimento e o meu coração, quieto, atento e ouvinte, mudará. Certamente.


 

(Ex-interno do Centro de Recuperação de Mendigos – Missão Vida)


 

Missão vida. Ajudar faz bem!


 

sola Scriptura! 02 anos de leitura bíblica.