segunda-feira, 31 de maio de 2010

Matizes

M A T I Z E S

Não sou negro
Não sou branco
Não sou amarelo
Nem vermelho bang-bang
Nem verdinho marciano.

Mulato
Cafuzo
Mameluco

Carrego tantas cores no sangue
Que qualquer dia desses
Tatuo um arco-íris na retina

domingo, 30 de maio de 2010

Te agradeço por me libertar e salvar!


 


 

Magno Aquino Miramontes


 

Há muito perdi a conta do número de homens recuperados que pude assistir voltando pra casa; sempre uma boa sensação! Por hábito leio um texto, oramos e, às vezes rola um abraço; contato físico nunca foi o meu forte, nem o deles. Paulo André triunfou; das ruas pra Jesus!

Duzentos e dez dias!

Um investimento de tal envergadura pode ser contabilizado de formas várias: 840 refeições (oficialmente falando), mais de trezentos banhos (não oficialmente falando), 420 cultos e devocionais, dezenas de filmes, alguns passeios, incontáveis versículos memorizados, curativos, analgésicos, e a eterna pergunta: "Como eu vim parar aqui?".

Hoje aqui na Missão Vida na Bahia foi um dia assim, com assinatura em público do documento de conclusão do programa; o texto foi Rm 14: 4b, oração, uma meditação breve e é claro, hoje também foi um dia sem abraços, sou ruim nesse trem de abraçar, Paulo André também é; um aperto de mão firme e ficamos conversados.

Se o pastor Zilvan estivesse por aqui ele certamente abraçaria o Paulo André; o pastor abraça muito bem! Douglas também é bom nesse negócio de abraçar.

Dá pra notar a expressão bagunçada no rosto do ex-interno; alívio, cansaço, ansiedade, perplexidade. Uma sensação de abandono, todo mundo fica assim meio sem pai nem mãe, sem chão nem norte (mais perdido que cachorro quando cai de caminhão de mudança).

Conheço o sentimento, nunca me esquecerei do meu dia nº 210!

Boa parte da apreensão agora é por não se ter a menor ideia do que vem a seguir; é diferente de bandido que levanta a mão, vira crente e tem que voltar pras ruas (conheço esse sentimento também); agora o tempo é amigo, mesmo sendo impiedosamente rápido; o ex-interno agora é na maioria das vezes um crente em Jesus, com um passado vergonhoso, um presente confuso e um futuro sabe lá Deus...

Em todas as cartas aos crentes, São Paulo deixa afirmações a respeito de gente desse tipo: "E permanecerá em pé, porquanto o Senhor é capaz de sustentá-lo." Rm 14: 4b e tal afirmativa nunca foi tão preciosa como neste momento.

Assumir que precisa de ajuda, pedir ajuda, aceitar a ajuda que conseguir, aproveitá-la e então processar tudo e correr a carreira proposta. Fácil?

Ser crente depois de ser um monte de coisas ruins, adequar-se e prosperar na fé, no conhecimento e relacionamentos e alegrar-se no Senhor; triunfar.

Um mundo inteiro contra nós, um mundo sem chances novas, sem trabalho decente, seco e frio, impessoal e indiferente; um sabor estranho de solidão até que ecoe nos nossos corações outra declaração paulina: "Deus é por nós!".

Acostumamo-nos a esse versículo e com o tempo ele como tantos outros perde o sentido, o valor e poder de produzir fé e uma viva esperança de que mesmo tendo uma barricada contra nós, Aquele a quem nós só conhecíamos de ouvir falar e a Quem nunca dirigimos a palavra, é por nós.

Como se numa briga de rua quando todos se preparassem pra me surrar e de repente o meu pai aparecesse e mudasse tudo, até os ânimos e eu não estou mais só, não estou em desvantagem, não estou mais à mercê; o pai que interfere e muda a situação, isso faz o coração bater diferente, a figura heróica do pai que ajuda.

Ta certo, eu não tive pai aqui, mas ando me aproximando do Pai. Cada vez que leio que "Deus é por nós!" eu me sinto protegido. Deus por perto.

Permanecer inabalável é questão de opção, também de empenho e da compreensão de que sem Deus, não iremos muito longe. A Missão Vida oferece a chance de permanecermos assim, de pé.

Posso não ser bom com esse trem de abraços e coisa e tal, mas entendo bem de "recomeços". Recomecei. Paulo André também. Deus te abençoe meu irmão! A paz!

(ex-interno do Centro de Recuperação de Mendigos – Missão Vida)

http://www.mvida.org.br Ajudar faz bem!


 

http://www.sola-scriptura.com O site de leitura bíblica.


 


 


 


 


 


 


 


 


 

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Eu amo gente! II


 


 

____________ Magno Aquino Miramontes


 

No filme institucional da Missão Vida há uma afirmativa contundente: "Precisamos de toda a ajuda que pudermos conseguir!" Um brilhante apelo, direto e lúcido; e que verdade!

Todos os dias, assim que as nossas preces são atendidas deparamos com novas necessidades; precisamos sempre de coisas e pessoas novas aqui e ali e acolá, pois a misericórdia do Senhor tem nos levado a diferentes e distantes lugares nestes últimos tempos. Bradarei aleluia a isso! Aleluia!

Na nossa Igreja diluímos o nosso tempo, conhecimento e recursos em tarefas e entretenimentos vários que preenchem o nosso tempo sem, contudo remi-lo; Agilmente angariamos recursos vultosos para "N" projetos que mantém o rebanho ocupado, em movimento, atarefados de tal forma que, às vezes nos esquecemos de gastar tempo e recursos com o "próximo" (e próximo não é abstração social da nossa tradicionalmente social igreja).

Não chamemos um pobre de tudo de excluído, pois excluído sim é uma abstração social de igreja com discurso idem (social-abstrato); a mesma igreja que por indigência espiritual se furta de fazer o bem, mesmo quando tem em suas mãos a condição e a chance de fazê-lo. A Bíblia ensina que os discursos são bem-vindos quando acompanhados de pão, sabão e salvação; ação social de verdade (gente crente é diferente, Dom Walmor Oliveira afirma isso).

Se contabilizássemos as oportunidades desperdiçadas coraríamos; crentes constrangidos, sinônimo de Evangelho pulsando.

Estou no ônibus pra Salvador, temos a promessa de atendimento médico e de alimentos; as pessoas com as quais terei contato terão a chance de amar os mendigos que a Missão Vida tira das ruas e ama enquanto alimenta, veste, dá atendimento médico, ensina sobre higiene e, evangeliza. Amor e Fé na prática é Evangelho Social, sem discurso.

Ontem durante a devocional (que já não acontecem na árvore-capela) sob o ventilador da sala falei disso, sobre abandonarmos a nossa estóica atitude na qual ajudamos no intuito de nos livrarmos da desagradável companhia dessa gente.

Sermos bíblicos o suficiente e nos aproximar, abordar com o pão, a vestimenta, o calçado, a palavra que transforma, e o "firme propósito de caminhar com esse tipo de gente até as últimas conseqüências, até a sua promoção."

Transportá-lo da condição de pobre de tudo, bastardo da igreja do Senhor, pra outra situação social, próximo ao rebanho, junto ao Pastor; trazê-lo à realidade de amado filho da abençoada família de Jesus, o compassivo.

Houve um período no qual abandonei o que aprendi na fazenda da Missão Vida, foi quando deixei de orar com e pelos internos; passei a considerá-los apenas como a parte penosa da minha rotina de trabalho e não considerá-los a parte realmente importante do ministério.

Foi nesse tempo quando esqueci as preciosas lições do pr. Arnaldo, e passei a irritar-me grandemente com "gente desse tipo", carente de tudo me procurava à espera de atenção e compreensão; alguém disposto a ouvi-los, demoradamente.

Mas foi nesse tempo que Jesus, o Senhor, Bom como Ele só, me trouxe à memória que não fazia muito tempo, uns anos atrás, eu era o carente inoportuno, solitário interno à espera de uns ouvidos; desesperado a procura de abrigo, e atenção.

Foi fácil vestir roupas boas, "consertar" os dentes e esquecer-me de onde fui resgatado e a que preço (preço na cruz e preço na fazenda); mas foi entendendo aquela afirmativa e sendo voluntário e depois sendo recebido como obreiro aqui é que Deus, o Senhor, Bom como Ele só, devolveu-me a alegria de servir. E é isso que faço.

Preciso de toda a ajuda que puder conseguir, pra aprender a ser grato todos os dias; estar aqui é assunto do Céu.

(ex-interno do Centro de Recuperação de Mendigos – Missão Vida)

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