quinta-feira, 29 de abril de 2010

As coisas mudam

_________________ Magno Aquino


 

 

 

Vi um cárcere romano. Uma placa que acompanha as fotos nos afirma que é o mesmo local onde foi preso o apóstolo Pedro e onde em outra ocasião o não menos apóstolo Paulo teve o desprazer de ser encerrado. Desconcertante.

Conheci cadeias e conheci algumas das piores que possam imaginar. Experimentei situações que citá-las não me atrevo, pois não serei eu a perturbar os irmãos com histórias que já não são e querer auferir simpatia ou solidariedade contando sobre as surras e maus-tratos da prisão é dolo, má-fé.

Apoiar-me e usar artifícios que condeno é a forma mais eficiente de cair em descrédito e voltar aos velhos hábitos do velho homem de reprovável proceder. Quando ouço o testemunho de um ex- um monte de coisas detalhando os terrores da corró, do quartinho, da peia de manta, da manicure e toda sorte de "gentilezas" que a nova criatura enfrentou me lembro de onde fui resgatado e prá onde fui transportado. Cl 1: 13, 14.

Conheço Onésimos por todo este país e fora dele com histórias as mais variadas; certamente há algumas que de tão brandas fazem-me parecer um sobrevivente do Holocausto enquanto outras há que me tornam um sério candidato a personagem do livro "As mais belas histórias"; este eu li quando criança, presente de mamãe.

Todos os Onésimos que conheço se esforçam no prazer sem igual de conhecer o Senhor e torná-Lo conhecido de muitos. 

Tais homens se alegram; eu me alegro, ao ver a mão levantada no meio da multidão, o passo inseguro em direção ao Senhor que convida em tom de desafio, o ajoelhar desajeitado, as mãos pra cima, entregues; mais um perdido que se rende ao amor de Cristo Jesus.

O capítulo 16 de Atos, a partir do versículo 23 registra: " E, depois de lhes darem muitos açoites, os lançaram no cárcere, ordenando ao carcereiro que os guardasse com toda a segurança. Este, recebendo tal ordem, levou-os para o cárcere interior e lhes prendeu os pés no tronco." 

Os açoites foram ilegais, sendo Paulo e Silas cidadãos romanos (v. 37 ), e os pés presos no tronco também, era um tratamento dispensado a malfeitores; seria justo se Paulo e Silas gritassem por seus direitos civis, um abuso! ( pensava que era coisa do meu tempo ).

Com pérfida riqueza de detalhes os pseudo-Onésimos distrairiam os crentes caçadores de aventuras por horas. Ainda bem que Paulo e Silas eram homens ocupados e envolvidos demais com o Evangelho para gastar precioso tempo entretendo desocupados com histórias de cadeia.

Mas o capítulo 16 de Atos continua a história: " Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de prisão escutavam." Conheci cadeias, conheci algumas das piores que possam imaginar, mas em nenhuma delas vi dois presos depois de açoitados, cantarem.

Isso me faz lembrar o apóstolo Pedro escrevendo: "Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome." I Pedro 4: 15,16.

Assim eu entendo a atitude de Paulo e Silas, louvar a Deus por serem dignos de sofrer por serem cristãos; é mais, é muito mais do que se pode pedir ou pensar; quando o coração se aquece, indagamos: somos dignos da afronta pelo honroso nome de crentes? 

O capítulo 16 de Atos conclui: " De repente, sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu os alicerces da prisão; abriram-se todas as portas, e soltaram-se as cadeias de todos." Ao ouvirem a pergunta do carcereiro, Paulo e Silas não evangelizam aquele homem assustado, não era necessário, Deus se fez conhecer, Deus pregou naquela noite, Paulo e Silas só cuidaram da liturgia e fizeram o apelo.

Naquela prisão Deus estava presente, pois os homens que lá foram lançados sofreram por serem cristãos e não por serem ladrões, assassinos ou malfeitores. Paulo e Silas seguiram viagem após serem libertados, e continuaram a fazer a mesma coisa que os levou à prisão, pregar e viver o evangelho, sem mencionar os açoites e o tronco. 

Insisto na questão do testemunho de crentes resgatados do submundo, me lembro de um poema de Sarah P. Kalley que lamenta gastarmos tanto tempo falando somente do pecado, do inferno e de satanás; Paulo declara que o Reino de Deus é... " Justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo." Rm 14: 17b.

Também já acreditei que relatando todos os horrores vividos no submundo faria as pessoas se desapontarem com o pecado e correrem para Deus; não funciona assim, é Deus, na pessoa do Espírito Santo quem convence e vence a distância, as barreiras, e se aloja amorosamente no coração daqueles que ouvem a Sua voz e aceitam o desafio de nunca mais sofrerem como malfeitores; como crentes, se preciso. Com Jesus, as coisas mudam... Salmos 113: 7,8.


 

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domingo, 18 de abril de 2010

Eu amo gente!


 

Eu amo gente - I


 

Ao referir-se no sermão do monte aos "pobres de espírito", Jesus distingue um grupo social que até ali passara despercebido dos escritores bíblicos: os "Sem-nada"; classe inexpressiva nos quadros sociais daqueles, e destes tempos. (os comentaristas da King James certamente discordam desta visão "social" de Mateus 5: 3)

Ali ao lado do Senhor estavam aqueles que não tinham pão, nem paz, nem com eles se usava de justiça, nem misericórdia; é desse tipo de gente que cuidamos aqui na Missão Vida, o tipo de gente que ninguém quer por perto, nem a Igreja do Senhor se interessa; já fui os dois tipos de gente: fui daqueles que ninguém queria por perto, e depois de uns anos de crente me tornei um dos que não queriam esse tipo de gente atribulada.

Penso que foi por não querer "esse tipo de gente..." por perto, nem no mesmo banco da igreja é que voltei a ser, tristemente aquele tipo de gente que ninguém quer.

Quando quiser descobrir essa gente, dê um giro pelas ruas; tem muita gente ainda acreditando que mendigo nasce ali, que nem erva daninha.

Em Mateus 25: 35, 36 o Senhor Jesus lista duas situações claras: pobres materiais e pobres espirituais; pois fome, sede e nudez neste país nem mesmo o governo ajuda verdadeiramente a resolver, não fossem os "caridosos" e teríamos famintos e sedentos e nus aos montes, mais que já temos, e poucos são os dispostos a socorrer, acolher os pobres de tudo.

O pão, a água fria e a vestimenta são compaixão, um sentimento divino que Ele empresta-nos; agregar a estas coisas as palavras do amor de Deus, vida eterna é obedecer ao IDE integral.

O Senhor, compassivo como só ele pode ser, esteve presente em cada situação de uma mão estendida, pedindo, e outra mão estendida, ajudando.

Se tiver chamado e tempo disponível, voluntarie-se no ministério (ainda pequeno) da Missão Vida: Sopa, Sabão e Salvação, ou se una ao pequeno exército: Madrugada com Deus, da Missão Batista do Pelourinho que assim como na Missão Vida, em Anápolis, amanhece pelas ruas de Salvador, acolhendo e ouvindo e salvando.

Nestes e n'outros ministérios há oportunidades, nunca dantes imaginadas, de aprender quão pouca se gasta de si mesmo pra amar esse tipo de gente! Mas deixe o preconceito em casa, nas ruas tem muito gente desbocada, mal-cheirosa e que não gosta de crente.

Deus te envia a pregar e ser irmão e irmã dos necessitados e aflitos, Deus não te chama pra fazer sala pra fartos e entediados; as ruas estão cheias de gente assim, gente do tipo que se parece com a corça do salmo 42; eis a chance da sua vida, suje as mãos, e o seu bom nome. É o trabalho perfeito pra quem quer perder muitos pontos no ibope da patota gospel; desde que se envolveu com este tipo de gente o pr. Wildo foi alcunhado como o louco de Anápolis.

Mas sabe aquele tipo de olhar de olhar de Deus que persegui por anos sendo "o melhor em tudo"? Pois então! Cê vai dar de cara com o olhar de Deus todas as vezes que olhar nos olhos de um pobre de espírito, pobre de pão, pobre de afeto, pobre de roupas, pobre de amizades, pobre de escola, pobre de comunhão, pobre de Deus.

Missão integral: Há vagas.

_____________________ Magno Aquino

(ex-interno do Centro de Recuperação de Mendigos – Missão Vida)

http://www.mvida.org.br Ajudar faz bem!


 

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sexta-feira, 16 de abril de 2010

Origem


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De onde venho

Não se olha no olho

Se gasta mais tempo

No movimentar das mãos,

Na metálica agudez do ângulo

Atravessando o ar

A carne

Encontrando-a,

E fim.

Lá de onde venho

Não se dão bem as mãos

Jamais afagam

Nunca ajudam

Sequer acenam.

Estas, e outras

Fraturaram-se em vão.

De paz não se fala

De onde venho

Menciona-se a dor

Presente, constante

Paz inexiste

Dor silencia

Ser ou não ser

Não importa ser,

Ou não.

Venho de percorrer estranhos caminhos

Balbuciar lamentos secos

Pelo brilho que se desfaz

No prazer do minuto,

Sequer seguinte.

Fumaça do engôdo

Solidão de agulha

Falta de ar

Ausência de gente

Terra sem Deus

Inferno das ruas.

______________ Magno Aquino

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Desobedecer é genético

Desobedecer é genético
________________________ Magno Aquino


Adão deu ouvidos à sua esposa, desobedeceu e este ato de desobediência tem custado nosso sangue, suor e lágrimas, ah! Adão!

Não foi o único, a história traz histórias de homens, e mulheres que preferiram dar ouvidos à própria carne a obedecer à razão que emana do trono de Deus; nada há de mais racional que obedecer ao Senhor. Sei disso, falo com a segurança(?) de quem desobedeceu, burramente.

Saul desobedeceu, custando-lhe muito caro dar atenção aos rogos do povo e da própria cobiça, neste caso é preciso pensar no adágio que afirma que o inferno está apinhado de boas intenções; perdeu a razão, a coroa, a vida e a chance de entrar pra história de Israel de forma decente.

Mas ficar aqui escrevendo sobre os desobedientes é fácil, aliás, falar e filosofar a partir dos outros só traz conforto à minha alma, cheia de cicatrizes e lembranças ruins. Tenho conversado com meus irmãos internos do centro de recuperação de mendigos – Missão Vida – em Sobradinho-DF e como em todas as outras unidades pelas quais já passei e servi, vejo e ouço histórias de desobediência.

Não é possível, aos irmãos e irmãs que não vivem esta nossa realidade de missão urbana que recolhe, acolhe, cuida e evangeliza homens de rua, imaginar a quantidade assustadora de crentes caídos encontrados em situação de miséria extrema.
E como todas as histórias de desastres e desgraças começam? Invariavelmente todas começam quando as mentiras de satanás nos encantam e seduzem embotando o brilho das evidências e promessas

do Senhor Deus; deixamos aquilo que vem sustentando-nos há muito tempo em troca de uma sugestão de outras colheitas, em outras paragens.

Desobedecemos até com certa dose de prazer; a adrenalina do pecado, a indescritível sensação de perigo e desafio que acompanham nossa raça; desobedecer é genético. Minha vontade insana suplantando a racional decisão de servir e obedecer.

Quem nunca passou pela perturbadora situação quando a carne grita e o espírito se contorce como uma cobra na fogueira, e então: DESOBEDECEU? Por muitos anos, depois de Jesus eu furtei coisas sem valor ou serventia alguma, mas que no momento do furto me pareceu o mais precioso e indispensável objeto; quanta dor e vergonha neste assunto, meu Deus! Devo ser maluco pra confessar uma coisa dessas.

Desobediência cauteriza a alma, tolda os pensamentos, entreva o espírito antes rendido à razão bíblica. Mentimos ao telefone e mentimos no altar. Adulteramos na carne e no crer. Descremos, só pra desobedecer sem doer tanto. Relativizamos o pecado e drogamos a consciência com novíssimas interpretações de textos que antes temíamos desobedecer.

Não me considero o maior dos desobedientes, S. Paulo já tomou para si o deplorável lugar mais alto do pódio, mas chego bem colocado.

Pessoas desobedecem até quando pregam a respeito d’Aquele que é a Verdade, prometem uma vida melhor pra todos os arrolados nas suas igrejas. Garantem coisas que não estão na Bíblia, afirmam promessas jamais saídas da boca de Deus.

Falando de nós, mentimos na saudação; quantos "to na benção!" na boca de perdedores! Que são perdedores por não conseguirem mais desobedecer a si mesmos e obedecer a Deus. É! Pra voltar a obedecer a Deus eu preciso me desobedecer, contrariar o vil que se fez normal em mim.

Tentaram deixar um homem de Deus em apuros perguntando-lhe o motivo pelo qual Jesus, sendo Deus, escolhera Iscariotes; o homem de Deus respondeu que não poderia responder tal pergunta, uma vez que se encontrava ocupado demais se perguntando o motivo pelo qual Deus o escolhera. To olhando pra tela e me fazendo a mesmíssima pergunta.

Mas graças a Deus por nosso Senhor Jesus Cristo!

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