quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Pra não dizer que não falei do natal


 

Há coisas que aparentemente nunca mudam, são como uma paisagem de carrossel, na qual pessoas e objetos saem do campo de visão por instantes, mas basta um giro completo do eixo do brinquedo e lá estão, objetos e pessoas; pouco ou nada muda de lugar.

Muitos crentes são assim, muitos mendigos são também.

Já precisou de uma vaga pra atender alguém em um albergue no período do natal? Quis ajudar um morador de rua internando-o na Missão Vida ou alguma outra instituição que cuida e trabalha pela recuperação de mendigos no final de ano? Esqueça, não há vagas.

Ninguém quer ficar sozinho durante o natal, nem no último dia do ano, nem no primeiro. Em sã consciência não há quem queira estar sob uma marquise ou viaduto nestes tempos, nem preso.

Somos assim, por traços culturais e por uma íntima necessidade de agregação, de tempos em tempos nos aglutinamos; posso falar sobe isso, conseguia passar quase todo o tempo alheio à maioria dos fatos que uniam as pessoas, embora me unisse a muitas pessoas de igual sina em mentirosos sinais de solidariedade entre viciados; disfarçar a solidão e a derrota diárias.

Porém, quando chegava o natal a angústia vinha acompanhada por uma estranha vontade de sair, ver a decoração da Praça da Liberdade, passar em frente às igrejas; claro que "esnobava" tudo aquilo, mas por dentro, só Deus!

Depois "passei pra lei dos crentes" (rs) e muitos natais tornaram a minha vida infinitamente mais feliz, apaixonei-me pelas cantatas, jograis, apresentação de crianças, filmes, e pelos presépios, estes um encantamento que remonta à infância.

Amava até os intermináveis concílios na Igreja Presbiteriana em Montes Claros-MG, quando escolhíamos os presbíteros e diáconos e a liderança fazia intermináveis leituras de relatórios, saudades! (hoje sou metodista e os concílios continuam sendo a parte chata que ainda amo nesta época).

Mas como todo crente inacabado, relaxei; mesmo "trabalhando tanto pra Deus que nem comia nem dormia direito", fui deixando pra lá, perdi não sei onde nem quando a alegria pelo aniversário do Redentor e pelos outros alegres ajuntamentos do povo de Deus. Fui me transformando na igreja do "eu sozinho", um sujeito infeliz e sem tempo pra Deus, pois trabalhava demais "pra Deus".

O resto da minha particular tragédia quase todos conhecem. Ao olhar pra os centros de recuperação, albergues e igrejas durante esta época, eu percebo quanta gente se parece com aquilo que eu já fui, gente solitária, amarga e triste por incompetência social e emocional.

Sabe aquele mendigo que sumiu da sua rua outro dia? Se for esperto já conseguiu uma vaga nos albergues ou centros de recuperação, pelo menos até passar as festas. Sabe aquelas pessoas da igreja que você nunca encontra durante o ano e que nunca retornam as suas ligações e estão sempre ocupadas para uma oração? Apareça numa cantata, ceia ou concílio que escolherá a nova liderança, vai encontrá-las, estão ali, pelo menos até que possam ser sozinhos outra vez.

Ah, feliz natal..

terça-feira, 7 de dezembro de 2010

Natal: Resposta de Deus à terra aflita (Isaías 9:1-7)

 


 

Bispo Paulo Lockmann


1) Entre Israel e o Brasil 
Estamos chegando a mais um Natal, e chegamos em aflição, pois há guerra e rumor de guerra, no mundo (Coréias, Iraque, Irã, etc.), e no Brasil vivemos a guerra contra o narcotráfico que ocupa nossas cidades e a vida e o coração de milhares de jovens nas nossas cidades. O Rio de Janeiro há poucos dias sentiu isso de maneira alarmante, mas convive com morte e violência há anos.

Neste quadro está dito a Israel, e a nós: "... não continuará a obscuridade (a aflição)". A citação de Zebulon e Naftali se reporta às duas primeiras províncias de Israel, que foram invadidas e tomadas sob o jugo de Tiglate-Pileser, rei da Assíria (cf. 2 Re 15.29). De fato, o rei estrangeiro e seus exércitos de ocupação lançaram no exílio a maior parte do povo, criando aflição e pranto. Do mesmo modo, a ocupação das áreas pobres de favela pelo narcotráfico pôs o povo sobre jugo, e provocou um exílio e consequente despovoamento, como vimos, famílias inteiras em fuga dada a fúria do inimigo.

2) Natal e Promessa.
"Não continuará a obscuridade". O Deus que devido à quebra da aliança, "tornou desprezível a terra de Zebulon e a terra de Naftali." Nos últimos dias, tornará glorioso o caminho do mar. E como Deus fará isto? 
"Porque um menino nos nasceu, um filho se nos deu; e o governo está
sobre os seus ombros; e o seu nome será Maravilhoso Conselheiro,
Deus Forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz..."(
Is 9.6)

A mensagem de Isaías tem seu centro na vinda do Messias. O nascimento de Jesus narrado pelos evangelistas se inspira nessa mensagem profética, especialmente num messias davídico. O anjo, ao comunicar a José o nascimento do Messias, o chama de José, filho de Davi, e em seguida cita Isaías: 
"... eis que a virgem conceberá e dará à luz a um filho 
e lhe chamará Emanuel."
 (Is 7.14b)

Assim, o tempo do Messias tornou-se uma visão de esperança para os aflitos. Dessa promessa do reinado do Filho de Davi, decorrem muitos outros:

a) "... Tornará glorioso o caminho do mar, Galileia dos gentios..."
Recordemos que Jesus se criou na Galileia e ali iniciou seu ministério. Galileia era constituída de terras prósperas, mas desprezada nos tempos de Jesus por conta das muitas ocupações estrangeiras. Quando, no Evangelho de João, Natanael reage acerca de ser Jesus o Messias, ele diz: 
"... de Nazaré (Galileia) pode vir coisa boa?" (Jo 1.46)

Refletindo o preconceito e a discriminação contra essa terra tida como "gentílica", mas, como aprendemos, esses galileus vão compor os discípulos de Jesus, e veem "o caminho glorioso do mar", construído por Jesus, o Messias, de acordo com a profecia de Isaías.

Qual a mensagem? Se houve esperança para a Galileia, há de ter para os lugares aflitos e assolados de nosso Rio de Janeiro. Como povo de Deus, somos convidados, na unção do Messias, a abrir tais caminhos.

b) "O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz." (Is 9.2).

Mateus usa este texto junto com o versículo primeiro ao plantar o inicio do ministério de Jesus. Ele sai do deserto e vai para a Galiléia – Cafarnaum (cf. Mt 4.13-16), onde, após dominação assíria, persa, grega, e agora romana, vivia disperso, perdido, o que causou em Jesus o seguinte sentimento:

"E, vendo a multidão, teve grande compaixão deles, porque andavam 
desgarrados e errantes como ovelhas que não têm pastor"
 (Mt 9.36).

Esse é o sentimento que deve tomar posse do nosso coração, profunda compaixão pelos que ainda andam nas trevas, anunciando que a promessa foi cumprida, a luz raiou:

"No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus, e o Verbo era Deus.
Ele estava no princípio com Deus. Todas as coisas foram feitas por
intermédio dele, e, sem ele, nada do que foi feito se fez. A vida
estava nele e a vida era a luz dos homens. A luz resplandece
nas trevas, e as trevas não prevaleceram contra ela." 
(Jo 1.1-5).

E agora, há esperança para os aflitos! E nós temos compromisso com Ele, o Messias, 
"... a verdadeira luz que vinda ao mundo ilumina a todo homem." (Jo 1.9).

Somos chamados a cantar o cântico: "Grandes são as tuas obras, Senhor todo poderoso!"

Irmão, irmã, neste Natal abra sua boca, proclame bem alto que a luz raiou, e o messias chegou.

O jugo deve ser quebrado, o pecado e a morte foram vencidos por Jesus, que abriu um novo e vivo caminho, para os que nEle creem.

c) "Porque um menino nos nasceu [...] e o seu nome será..."A televisão nos mostrou muitas crianças nas áreas envolvidas dos conflitos. Não há coração que não fique preocupado com o destino, o futuro daquelas crianças. Nossas crianças, nossa juventude esta sendo destruída pela violência, pelas drogas.

Mas a mensagem já foi entregue, e a esperança tem um nome: 
" um menino nos nasceu." Seu nome será: "Maravilhoso Conselheiro,
Deus forte, Pai da Eternidade, Príncipe da Paz... "
 (Is 9.6).

Seus atributos têm por objetivo que:
"... venha paz sem fim, sobre o seu Reino... e estabelecer e o firmar mediante o juízo e a justiça..."

A vinda do Messias Jesus nos adverte que é possível a paz; ela visa a alcançar os homens e mulheres de boa vontade. Assim, como consequência que é a justiça, a restauração do direito da criança e do adolescente.

Uma das nossas grandes prioridades é a criança e o adolescente, nossos projetos de reforço escolar, abrem as portas da igreja para as crianças, visando a tirá-las da rua, e dar-lhes uma oportunidade de vida, já que o tráfico recruta dentre as crianças seus "soldados". É urgente que o novo caminho inaugurado por Jesus, e celebrado no Natal, se transforme em ações permanentes, em favor dos que vivem sob a aflição e jugo da violência, para que conheçam o tempo do reinado do Príncipe da Paz, Jesus. Nada de nos acomodarmos, vamos reagir, vamos pela graça construir um novo tempo.

No amor do menino Jesus,
Bispo Paulo Lockmann

sexta-feira, 19 de novembro de 2010

Posterior

____________ Magno Aquino –


Me esvaziei
Da dor
De ser só,
Escapei, enfim
Saí
Culatra, tangente
Não sei,
Saí
Por uma das.
Teu rodear em mim
Polinizar,
Motivo de já não ser tão só.
Me esvaziei
De toda imensa dor
Pra repousar
Atado ao nome teu
Pois durmo
Já não só.
Pra ti cantei n’outras bocas
Pra te fazer dormir
Ao lado meu
Do outro lado seu
Aqui,
Da dor esvaziado.
Viro pro canto
Pra beijar tua boca
Demoradamente
Ao som do teu suor
À luz de vagalumes.
Me esvaziei da imensa dor
Pra receber
Tua completude em mim.

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Tive fome,


 

Padecemos, pois muitos males afligem-nos; nós, a Igreja, por mania gastamos energia e tempo à procura de formas de gastarmos mais energia e tempo. Fazemos muito por muitas pessoas, mas nossas ações se diluem ao invés de nos concentrarmos e atacarmos um problema por vez.

Gasto tempo burilando a mente em busca de ideias que provoquem a fé e a disposição da Igreja; sonhamos fazer as "coisas grandes" e "as ainda maiores" ao mesmo tempo. Fui chamado pra cuidar de mendigos e obedeci; mesmo que pra isso tenha desobedecido a disposição superior de cuidar de uma igreja.

Entretanto, sofro do mesmo mal que assola-nos como igreja, "síndrome de onipresença"; outro dia li algo em Ultimato e em seguida, um flagrante xilique de onipresença me afligiu entre ser voluntário no Haiti ou evangelista em Cuba; (por telefone a Elê me mandou sossegar o facho, "Uma aflição missionário-geográfica absurda! O sertão baiano ta de bom tamanho.")

Exerço da melhor forma que aprendi o meu ofício: cuidar de mendigos no programa de recuperação da Missão vida. Haiti e Cuba sobreviverão sem mim.

Neste exato momento me encontro ao lado de uma maca de hospital público exercendo o meu ofício, oro e falo do amor de Deus enquanto troco fraldas e lençóis e checo o soro de um moço que a Missão Vida "teima em acolher e cuidar", quando até a assistência social e os médicos já sumiram.

Foi nesse conflito de pensar em coisas grandes ao mesmo tempo em que faço o urgente e necessário é que comecei a matutar sobre nós, a Igreja, fundada pelo sangue e sustentada pelo Espírito de Cristo Jesus. Sem dúvidas a fé sem obras é defunta tanto quanto o contrário disso não é Cristianismo; tudo quanto fizermos para promover o bem é louvável, mas toda ação social sem ação evangelística é só serviço.

Assistência social paliativa é prerrogativa do governo, que faz isso com uma incompetência apavorante (é apavorante ver um paciente cair da maca, bater com a cabeça e ficar ferido e nu naquele chão sujo até que eu me levante pra fazer algo, enquanto gente que deveria fazer algo assiste TV na sala ao lado).

Penso em nós, herdeiros de Deus e co-herdeiros com Cristo, com nosso discurso acerca das ações em favor daqueles que não são ainda, herdeiros conosco; meu pensar é o pensar de um missionário membro do povo de Deus chamado metodista, povo que nasceu proclamando o "caráter social do Evangelho"; penso nas oportunidades que perdemos diariamente ali na porta.

Distribuímos cestas básicas na minha igreja, cuidamos de gente lá e quero dizer que me alegro com isso, mas preciso pensar se fazemos isso como serviço social, somente, ou se é por respondermos amorosamente aos ensinos de Jesus.

Paulo Rogério é crente em Jesus faz só um mês, (levantou a mão na pregação sobre Bartimeu) foi acolhido por nós e me disse que nunca ninguém fez por ele o que fazemos "e gostaria de ser da nossa família". (claro que não chorei na frente dele). Está dormindo agora; alimentado, agasalhado, a fralda e o lençol estão secos, e se sente seguro, (todas as vezes que abriu os olhos encontrou um de nós ao seu lado).

O moço que caiu é morador de rua, está numa maca quebrada, o lençol e a fralda estão sujos, faz frio aqui e certamente está com fome; chegou depois do mingau das dez.

De tanto matutar angustio-me, pois olhar ao redor me leva a pensar n'Aquele Dia quando nós, a Igreja, ouviremos: "Tive fome,sede, frio, estive enfermo e preso e, vocês fizeram mais que reuniões e discursos." Ouviremos?

A Igreja nunca conseguirá cuidar de toda a gente abandonada por aí; não tiraremos todos os moradores de rua das ruas, só tiraremos aqueles que quiserem vir conosco, e só cuidaremos daqueles que aceitarem os nossos cuidados.

Muitos ouviram falar sobre a "nova vocação da igreja", vocação social! Só que, as boas obras de antemão preparadas para que nelas andemos, eu me recuso identificá-las como uma nova vocação. O Evangelho social foi "inaugurado" antes mesmo do calvário. Nas bodas de Caná, na multiplicação dos pães, na ressurreição do filho da viúva, Jesus fez mais "que sinais, milagres e prodígios", Jesus assistiu aquelas pessoas.

A nossa seminal vocação é social, somos a agência de transformação partindo das boas novas. Sal da Terra e Luz do Mundo! Creio nisso, da mesma forma que entendo que as boas obras e os atos honrosos são inerentes ao corpo de Cristo, privilégio dos santos.

Não salvaremos todo mundo da miséria, dos vícios e da condenação, mas como instrumentos, abrimos mão de muitas coisas pra trabalharmos todos os dias em favor dos que aceitarem a nossa ajuda; como crente e missionário, isso afirmo.

O funcionário que indaguei sobre uma maca com grades, lençóis e fraldas secas e alguém pra dar uma olhada na cabeça do moço que caiu, disse que "isso não é assunto meu."

De manhã durante o trajeto de volta à base da Missão Vida eu pensei assim: "Aquele sujeito ta errado, "gente desse tipo" é e sempre será assunto meu, e da Igreja, sim senhor." E você, pensa o quê?


 

Missão Vida. Porque eu amo gente!


 


 


 


 


 

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Vargas Nobel Llosa

07/10/2010 08h02 - Atualizado em 07/10/2010 09h33

Prêmio Nobel de literatura de 2010 vai para Mario Vargas Llosa

Academia Sueca destacou caráter político da obra do escritor peruano.
Autor de 'Pantaleão e as visitadoras' venceu o Prêmio Cervantes em 1994.

Do G1, com agências

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O escritor Mario Vargas Llosa (Foto: AFP)

O prêmio Nobel de Literatura de 2010, divulgado nesta quinta-feira (7) às 8h (horário de Brasília), foi para o escritor peruano Mario Vargas Llosa, de 74 anos.

De acordo com a Academia Sueca, a escolha seu deu por conta da "cartografia das estruturas do poder e as afiadas imagens da resistência, rebelião e derrota do indivíduo" que aparecem na obra de Llosa.

Peter Englund, presidente do júri de literatura do Nobel, afirmou que Vargas Llosa se disse "muito comovido e entusiasmado" ao saber do prêmio. O escritor, que está em Nova York, onde leciona na Universidade de Princeton, contou a Englund que "tinha levantado às cinco da manhã para dar uma aula" e que quando recebeu a notícia já "trabalhava intensamente".

Llosa receberá um prêmio no valor de 10 milhões de coroas suecas (1,5 milhão de dólares). A cerimônia de premiação está marcada para o dia 10 de dezembro.

Autor de obras como "A cidade e os cachorros", "Pantaleão e as visitadoras", "A festa do bode" e "Travessuras da menina má", Llosa já havia vencido, entre outros, o Prêmio Cervantes, o mais importante da literatura em língua espanhola, em 1994.

Em declaração à rádio colombiana RCN nesta quinta, o escritor peruano afirmou que o prêmio é um reconhecimento à literatura latino-americana e em língua espanhola.

Em mais de um século de existência do prêmio, Llosa é apenas o quinto escritor latino-americano a receber um Nobel. Antes dele, foram premiados a escritora chilena Gabriela Mistral (1945), o guatemalteco Miguel Ángel Asturias (1967), o também chileno Pablo Neruda (1971) e o colombiano Gabriel García Márquez (1982).

Candidato à presidência em 1990
Nascido em Arequipa, em 28 de março de 1936, Jorge Mario Pedro Vargas Llosa se formou em Letras e Direito pela Universidade Nacional Maior de São Marcos, em Lima. Antes de se tornar escritor, trabalhou como redator de notícias na extinta Rádio Central, funcionário de biblioteca e até revisor de nomes de túmulos de cemitério, segundo sua biografia em seu site oficial.

Em 1959, ganha uma bolsa de estudos e parte para uma temporada na Europa - incluindo Espanha e Paris - onde publica seu primeiro livro, a coletânea de contos "Os chefes" (1959), e uma peça de teatro chamada "La huída del Inca".

Regressa em 1964 ao Peru e daí em diante passa a passar temporadas em diversos países, incluindo Cuba, Grécia, França, Londres e Espanha - de onde recebe oficialmente a cidadania em 1993.

Hoje conhecido por suas posições políticas consideradas de direita, Llosa se engajou no Movimento Liberdade peruano em 1987, que se opunha ao programa de estatização do então presidente Alan García Pérez. Em 1990, lançou-se candidato à presidência do Peru pelo partido Frente Democrática-Fredemo, mas foi derrotado. Sua experiência na campanha foi relatada no livro de memórias "Peixe na água", lançado em 1993.

O autor estará no Brasil na próxima quinta-feira (14), participando do evento Fronteiras do Pensamento, realizado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Graça dolorosa


 


 


 


 

Graça é romper com o comportamento antigo, pois Deus somente providenciará as circunstâncias para você mudar de atitude; no âmbito da Graça, temos à nossa disposição todas as ferramentas para um viver santo; "Pois vocês foram salvos pela Graça, por meio da fé, e isto não veio de vocês, é dom de Deus." Ef 2: 8 NVI - E pela Graça permanecemos salvos, e prosseguimos santos.

Pela Graça me examino e admito sem sombras o que "é de Deus" ou não no meu caráter; o sentido amplo ou restrito da vida cristã é agradar o Cristo, a despeito das minhas muito bem elaboradas teses, liturgias e do meu pensamento teológico. Em Cristo encerra-se o anseio por santificação.

A Graça em minha caminhada (e aqui faço clara distinção entre o ato da salvação e o processo de santificação) só tem eficácia quando me rendo, afirmo que não há rendição com ressalvas, (muitas vezes, no submundo, tive que depor as armas pra permanecer vivo) quem se rende não impõe condições.

Desta forma ao me render a Cristo deixo no chão todos os meus pensamentos, e posições morais, sociais, políticas, afetivas, religiosas e aguardo silente, até receber o pensamento de Jesus em mim.

Isso dói profundamente. Abrir mão, abandonar meu pensamento por anos entrincheirado: "O que para mim era lucro (...) considero tudo como perda, comparado com a suprema grandeza do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor, por quem perdi todas as coisas. Eu as considero como esterco para poder ganhar a Cristo," Fp 3: 7a, 8 NVI.

Sob Cristo minha escala de valores muda, em Cristo a visão de mim mesmo e do mundo é alterada.

Quando a Graça nos alcança é porque o amor já nos atingiu, abriu caminho trazendo à tona quem realmente somos; neste momento tudo o que antes era precioso assume a aparência e o valor de estrume.

Não há júbilo na confissão honesta e livre diante do Pai; ao considerar a minha condição humana confirmo que bem ou bondade alguma há em mim que não proceda do Pai.

Sem medo de "trair o pensamento arminiano que permeia o meu discurso" eu, pela Graça afirmo não haver oportunidade alguma no meu coração de desviar de praticar o mal e zelosamente praticar o bem; não pratico o bem sem Deus por provedor do bem.

Isso é Graça. A Bíblia nos livra dos equivocados e irresponsáveis conceitos acerca do gracioso trato divino a nosso respeito; "o agir de Deus é lindo..." diz uma canção gospel cantada por todo mundo aqui, até nos botequins que surgem próximos à Missão vida cantam isso.

O agir de Deus é doloroso, requer reação, respostas sinceras, lindo agir divino me libertando da autojustificação e concedendo a graciosa condição de me relacionar noutro nível, elevadíssimo, "e ser encontrado n'Ele, não tendo a minha própria justiça que procede da lei, mas a que vem mediante a fé em Cristo, a justiça que procede de Deus e se baseia na fé." Fp 3: 9

Graça. Graça que liberta a minha mente de racionar alicerçada nos meus conceitos de justiça e justificação, livrando-me do legalismo; capacitando-me para "ser fiel até a morte" ou a segunda vinda. Permaneço salvo, e prossigo santo.

Em meu coração outro desejo não há senão o expresso por São Paulo: "Quero conhecer Cristo, o poder da sua ressurreição e a participação nos seus sofrimentos, tornando-me como Ele na sua morte para de alguma forma, alcançar a ressurreição dentre os mortos." Fp 3: 10, 11 NVI

Isso é Graça, isso me basta.

Magno Aquino

Editor do sola Scriptura


 


 


 

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Orei, e o pior aconteceu.


 


 

_____________________________ Magno Aquino


 

Orei e me tranquilizei; após inúmeras ligações e e-mails desisti de argumentar com a operadora de celular e internet, proverbiei: "mais tem Deus pra dar que o diabo pra tirar!" de origem bem mineira e efetuei o indevido pagamento mesmo tendo "oficialmente" por duas vezes cancelado o contrato de serviços que de nada me serviam.

Não me digam pra acionar o PROCON, a mocinha que lá atende, do mesmo calvário padece. Choquei. O "trem" aqui é de amargar!

Orei e me tranquilizei; a caminho da praia minha conversa com o Senhor girava em torno da minha gratidão pela folga no meio da semana e um pedido pra Ele me "ensinar" a ser cauteloso, atento, centrado, criterioso, desconfiado, cuidadoso, mineiro e todos os adjetivos aplicáveis e bons quando o assunto são os meus proventos; parcos, porém preciosos.

Oração e tranqüilidade, salmo 40 na área!

Apeei da van e aspirei profundamente o "ar do mar", inconfundível cheiro bom e, o pior aconteceu!

De novo! O dinheiro da volta e do lanche que estava no bolso da bermuda, SUMIU! Assim tipo vapt! Assim tipo vupt! Ah, Deus...

Pensa num sujeito desolado! Eu. Não orei nem tranqüilizei, nem pensar eu conseguia; um nó na garganta dificultava respirar, amargou-me a saliva. Uma sensação horrível de abandono me tomou por refém. (agora eu sei o que a minha filha sentiu quando a esqueci no shopping; duas vezes).

Ta, tudo bem, eu sei que eram só "vinte mangos" mas era o dinheiro em si, pelo menos naquele momento não era; eu orara minutos antes, lembra? Tranquilizara-me. Desapontei feio.

Estive confiante; Deus cuidaria de tudo após a oração tão bem feita olhando pra baixo pra não distrair enquanto orava. "Essas coisas agora seriam coisas do passado; sem débitos indevidos, contas fantasmas a me assombrar o orçamento, sem procons." Aquilo sequestrou a minha fé. Por essa eu não esperava.

E o acordo com Deus? Tão bem feito... Lembra de Josué logo após o vexame militar na cidade de Ai? Js 7: 9. Solidarizei. Jefté chegando em casa e dando de cara com a filha? Jz 11: 34 35 ("Jef" eu te entendo...) Meus sentimentos misturados e a minha compreensão comprometida por eles e um vazio de dar dó.

"Ah, isso não deveria acontecer aos crentes. Logo eu, dizimista, ofertante, missionário, voluntário pra um monte de coisas..." Pensava. Tava tão feliz com a matéria da Ultimato "A turma de Jesus" (a revista tem sumido de Viçosa pra cá, êita, os Correios!) Feliz com essa coisa de ser um amigo de Jesus, e como é então que Deus deixa acontecer um trem desses? Minha cabeça ardia.

Eu estava que nem Josué, doido pra botar a culpa em Deus; assim quem Sabe talvez ele mandasse quem achou meu dinheiro, devolver. ("AONDE!" Em bom goianês da Elê.) Bati pernas por aí e Deus, longânimo como só Ele não se constrangeu com meus lamentos e acusações: "Pô, Pai, devia cuidar melhor de mim, né?"

Daí foi que danei a pensar nos desapontamentos relatados na Bíblia: o "desapontamento" de Deus com lúcifer e a sua gang; o "desapontamento" com Adão, ah, Eva. A lista não acaba, tem Babel, bezerro de ouro e por aí vai; Davi! Vich! Noé acordando do pileque... Abraão... Salta essa.

Davi tem dois lados nessa história, "desaponta" e a sua prole era a encarnação do desapontamento. Penso nas vezes que desapontei minha mãe, muitas vezes; desapontei a igreja, tantas vezes; minhas filhas, ufa!

As pessoas, e incluam-me aí, tem o hábito ruim de ampliar a dor e perda pessoais; não compreendendo os motivos, resumem tudo a uma ciranda cruel de ações malignas somadas ao desinteresse divino. Caos.

Não sou deísta, estava desapontado. Ponderando e considerando a "periferia" dos fatos, cai a ficha, Deus não é o meu assessor nem minha babá e não é serviço d'Ele evitar minhas perdas. Sou apenas humano, ingrato e murmurador. Tem hora que nem eu me aguento.

Aprendo com os "desapontamentos" de Deus conosco, entre nós, com os que sofro e causo e aprendo mais nessa hora: "Deus, na verdade nunca me desapontou; uma coisa que deveria saber há tempos." Não posso perpetuar esse meu pueril proceder e culpar Deus por todas as coisas ruins que acontecem aos crentes. Ralhar com Deus é estupidez; cobrar de Deus é insano.

Deus e eu não somos da mesma patente.

O pastor Zilvan me pega aqui quando buscar as meninas na escola; nesse meio tempo zanzeando pela praia, encontro o meu banquinho preferido, me assento e gasto tempo observando pescadores consertando os seus barcos, outros à-toa. Putz! Ainda agora eu tava considerando a hipótese de escrever sobre o meu vale da sombra da morte, meu vale de ossos secos, meu vale de Hinom; mas nem vale a tinta. Vinte reais não valem tudo isso que estive sentindo. Aprendi.

Da próxima eu peço uma cópia do contrato, exijo nota fiscal, espero o recibo; da próxima guardo o dinheiro da volta pra casa, e do lanche na bolsa ao em vez de largar no bolso largo da bermuda de playboy junto com celular, câmera, chaves e sabe-se lá mais o que levo nesses bolsos.

E paro de uma vez por todas de "espiritualizar" cada vez que perco algum objeto ou dinheiro, cada vez que alguém me trapaceia e todas as vezes que tiro um extrato no banco. Pra Deus "conseguir" me ajudar terei que tomar jeito e me organizar melhor. Temer mais e reclamar menos. A carona chegou.


 

Comunidade Letra Santa!


 


 


 


 

domingo, 12 de setembro de 2010

Eu sou amigo de Deus.

Magno Aquino

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"Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas Eu vos tenho chamado amigos, pois tudo o que ouvi de meu Pai, Eu compartilhei convosco." João 15: 15 KJA

Recebemos de Deus a capacidade de relacionarmo-nos com Ele, com os outros e conosco; a declaração do Senhor alegra-nos, os amigos. O servo não toma conhecimento das decisões do seu senhor, pois estas não lhe competem; o amigo é chamado a participar e opinar. Fazer parte da decisão.

Assim trata-nos Deus; o arbítrio livre e a alegria de tê-Lo por perto.

Somos amigos de Deus; tudo que a nós diz respeito interessa ao Pai e esta é a vida cristã na sua integralidade: somos mútuos quando as coisas de Deus ocupam o meu coração e os meus pensamentos e orientam o meu cotidiano. "E a paz de Deus, que ultrapassa todo entendimento, guardará vosso coração e os vossos pensamentos em Cristo Jesus (...) nisso pensai." Fp 4: 7-8b

Não há conflito entre o livre-arbítrio e o serviço que prestamos ao Reino; amigos são infinitamente mais chegados que servos. Amigos servem de bom coração.

Eu sou amigo de Deus; da minha intimidade com Ele apreendo a minha real condição de amigo, amigo de Deus, por isso abandono o relacionamento anterior no qual prevalecia o hábito de pedir coisas, (que receberei de acordo com a Sua perfeita vontade que é santa e boa ) e me dirijo a Ele nos termos da amizade sem igual, "as palavras d'Ele permanecem em mim, e eu permaneço n'Ele!"

Isso me leva a um novo relacionamento de dependência, lealdade e cooperação: "E que Cristo habite por meio da fé em vosso coração, a fim de que, arraigados e fundamentados em amor, vos seja possível, em união com todos os santos, compreender a largura, o comprimento, a altura e a profundidade dessa fraternidade, e, assim, entender o amor de Cristo que excede todo conhecimento, para que sejais preenchidos de toda a plenitude de Deus." Ef 3: 17- 19

O Senhor Espírito Santo tem se aproveitado das minhas atuais leituras pra produzir em mim essa nova consciência desse novo relacionamento; ando meio constrangido por me apresentar assim ao Pai, "sem tirar nem por", desconverso em meio à prece, calo-me na confissão (ainda); é assim o tempo todo. Complicado ser íntimo, né?

Mais de duas décadas e eu aqui aprendendo uns trem novo sobre Deus, meu amigo Deus; parece noivado ou aquela amizade profunda onde não cabe maquiagem nem rodeios. Tudo é absurdamente belo, difícil e cheira muito bem!

"Ah, gastar tempo aqui contemplando o mar e sendo feliz!"

Boa essa minha condição de amigo de Deus, que criou e sustenta e interage com tudo que alcança a minha vista e além, e ainda se importa comigo, dedica-se ao meu dia e me alimenta, cura, capacita, anima,renova e protege.

Nessa perspectiva de filho do Criador do universo vou apoucando-me no conceito que outrora tive e ainda tenho de mim mesmo, percebo-me diminuto, porém não mais "desimportante"; até caber na profunda simplicidade da oração ensinada por Ele, "Pai nosso..." Aproximar-me numa nova expectativa: "Portanto, acheguemo-nos com toda a confiança ao trono da Graça, para que recebamos misericórdia e encontremos o poder que nos socorre no momento da necessidade." Hb 4: 16

Aproximar numa nova condição, amigo de Deus; ex-bandido, sim; ex-ladrão, sim; ex-viciado e ex-bêbado pelas desesperadas ruas de Belo Horizonte, também; mas amigo de Deus, que me acolhe a despeito de mim e "gasta tempo" comigo.

"; e o que vem a mim, de maneira alguma o excluirei." "De fato esta é a vontade d'Aquele que me enviou: que todo aquele que vir o Filho e n'Ele crer tenha a vida eterna, e eu o ressuscitarei no último dia." João 6: 37, 40.

Ao contabilizar o passado de violência e solidão que construí, o presente que diariamente é restaurado pelo Senhor Espírito Santo e o futuro oferecido pela cruz, só me resta erguer os olhos, admirar e chorar alegremente.

Sou amigo de Deus! Isso é Graça, e me basta.


 

Missão Vida! Porque ajudar faz bem.


 

Sola Scriptura! 3º ano de leitura bíblica.


 


 


 

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Eu falo a língua de Deus.


 

Magno Aquino


 

"Portanto, ponham em primeiro lugar na sua vida o Reino de Deus e aquilo que Deus quer;" Mateus 6: 33a NTLH

"Ainda sofro ao recordar das pessoas sendo forçadas a cair, coagidas a balbuciar qualquer coisa estranha numa mal ensaiada "crise epiléptica"; entristece-me a lembrança de olhares vazios procurando alguma verdade; não havia verdade alguma naquilo." Do livro, "Kalabashurya! O transe." -Magno Aquino - Edições Cury

"Muitos querem me fazer crer que as bençãos do Senhor estão disponíveis nos seus espetáculos da fé; mercadorias do céu a preço de ofertas. Uns investem na bolsa, outros no altar absurdamente humano."

"Observo crentes sérios que de soslaio observam os templos "neo" e tem a sensação de que algo lhes falta; ah, nada lhes falta, amados, de igual modo fomos todos igualmente selados no Espírito Santo." - idem

Não se equivoque nem minta aqui; é patético invejar as experiências carismáticas, sejam elas genuinamente geradas em Deus ou ardilosamente ensaiadas no diabo; absurdo é copiá-las e conduzir gente simples e de boa índole ao vexame e frustração.

Ir á frente do rebanho neste voo cego é irresponsabilidade; é desonesto, é cruel. Numa aventura pentecostal sem bússola nem mapa. Bússola e mapa de crente em Jesus são as Escrituras e o seu criterioso e submisso exame.

Por outro lado, não se deve esperar de certos grupos o mesmo rigor e disciplina no estudo de determinados assuntos; o esmero "bereano" não é das qualidades a mais apreciada pelos mascates da fé. Não foram conduzidos, nem conduzem à Fonte; alguns há por demais emotivos, alguns impropérios misturados a lisonjas denominacionais e estão saciados.

Não minimizo sequer nego o agir de Deus e as suas mais variadas formas em qualquer comunidade religiosa; não me cai bem a toga.

A pergunta é: À luz do Novo Testamento, o que o Espírito tem pra Igreja que não foi entregue, ou anunciado?

Observo o desespero de crentes sérios perseguir as línguas estranhas, porém, quase nunca percebo neles a mesma sede por uma oportunidade de serem achados compassivos e misericordiosos; "Glossolalia é crachá de santo, misericórdia é crachá de otário!" (?)

Ninguém é crente em Jesus se não o for por obra do Espírito Santo; dependo plenamente do batismo de Deus pra testemunhar, e servir.

Não quero gastar energia e tempo perseguindo experiências que não resultem em vida graciosa, bem comum e serviço de adoração; minha vida, toda ela resgatada não me serve por deleite, ainda que espiritual.

Eu sirvo, é isso que faço; dependo dos dons do Espírito, também do fruto d'Ele derivado, e ainda do selo outorgado no batismo pelo Senhor Espírito Santo.

Eu não peço a Deus nada além de graça e criatividade pra servi-lo, servindo aos outros.

Que proveito há no êxtase "novo" sem conversões novas? De que me serve o transe restrito ou coletivo (este mais complicado que aquele) sem o exalar contagiante do bom perfume de Cristo?

Qual é o real valor das línguas estranhas na boca de gente sem compaixão?

Gastar o meu tempo comigo é egoísmo, é desonesto. Sou crente em Jesus, pertenço ao Senhor e a esse "pertencer" pertence o meu tempo e dons que devem ser empregados no serviço de adoração e socorro.

À minha volta um rebanho inteiro de famintos, nus, sedentos e desacompanhados; fecho a boca, oculto a língua e estendo a mão.


 

Letra Santa. A sua rede de leitura.


 


 


 


 


 


 

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Até Deus já gostou de mim!


 

Magno Aquino Miramontes

"No amor não existe receio; antes, o verdadeiro amor lança fora todo o medo." 1 João 4: 18a KJA

"eu não fui assim a vida inteira..." Foi esta a frase que ouvi ao parar pra dar atenção a um mendigo, próximo à igreja.

Por todo o dia fiquei pensando nas palavras daquele homem; atingiram-me. Ele continuou o seu desabafo e o curioso era o fato de se dirigir a mim que passei um longo período afirmando a mesma coisa ("eu não fui assim a vida inteira, eu já prestei!"), desesperado tentando provar a mim mesmo que em outro tempo as coisas foram diferentes.

"Cê pode até duvidar, mas já teve gente que gostava de mim!" Gritava ele a um metro e meio de distância, "Se bobear, "irmão", até Deus já gostou de mim, eu já prestei, eu já tive casa e tudo, emprego bom tive uns cinco e amigo era pra todo lado, cê tem que ver a lindeza da princesa que deixei em casa!". Uma foto amarrotada surge nas mãos encardidas, um bebê.

Fiquei calado esperando o fim do dolorido discurso. Transtornado pelo álcool e por drogas as chances de uma conversa decente eram nulas; entreguei-lhe uma cédula de dois reais sem ao menos tecer as recomendações que nós os crentes temos o péssimo hábito de fazer; não obstante, meu pensamento saiu dali encharcado com as imagens que as palavras daquele mendigo fizeram brotar.

"Eu não fui assim a vida inteira..." Eu também não... Andei desconfortável por vários quarteirões; pregaria em instantes e todo o meu entusiasmo se desvanecera; deprimi. Sem vontade nada além de vontade de chorar.

Gente assim! Gente que de uma hora pra outra abre os olhos e descobre que o seu passado virou fumaça e o seu presente é o resumo do caos; lixo e roupas sujas e comida velha e moedas de pequeno valor e pontas de cigarro e cachaça ruim e cheiro de urina e gente limpa que se desvia e gente limpa que lança moedas de pequeno valor. Nenhum valor.

Esqueci-me do sermão e do compromisso na "igreja grande" e percebi o universo rasteiro que me rodeia e que muitas vezes nem noto; mendigos pra todo lado. Aspirei e senti o cheiro característico e até pouco tempo comum, cheiro de gente de rua. Gente assim.

Imagens de um passado não muito distante, cenas de dias vazios, ruins de lembrar; difíceis de acreditar e difíceis de esquecer.

Naquela conversa o homem por detrás daquela derrota recordava as vezes que tentou e até conseguiu ficar limpo por um tempo, mas contava também todas as vezes que de uma hora pra outra se descobria ali, no lixo, rodeado de dias ruins de viver ruins de suportar.

Tenho a sensação desagradável de estar fazendo as coisas pela metade, fazendo de um jeito que não acaba bem; as pessoas saem dos centros de recuperação e nem mesmo estréiam seus documentos novos e suas vidas novas e já estão de volta; um olhar inexpressivo e uma história repetida; sobrou isso.

Identifico isso tudo nas conversas do reincidente, ele saiu do centro de recuperação onde ficou meses e meses sem drogas, sem álcool, sem roubar, e com sorte ouviu sobre o amor de Deus, até mesmo, com muita sorte experimentou esse amor; agora é ele e a rua e o placar já começa contrário. Ser ex é sempre um drama.

Quando não encontra acolhida em casa, nem na igreja, sequer trabalho arruma, vai rondar e rodear velhos companheiros, velhos lugares e sente-se confortável, aceito e seguro; por um tempo é assim.

Quando a sensação de conforto se torna inquietação, a aceitação vira cobrança e a segurança não é mais tão segura assim, volta pro centro de recuperação, único lugar seguro e familiar e onde ele sabe que mesmo que por um pouco de tempo será cuidado e amado, mais um pouco. Amado.

A conversa daquele moço me trouxe essa questão e agora só penso nisso: "O que a Igreja tem feito a respeito de gente assim?" 1 João 4: 18


 


 


 


 


 


 

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Deus! Muda o meu coração!


 

Magno Aquino Miramontes


 

Tenho repetido esta oração desde os tempos nos quais sequer compreendia as razões do arbítrio e o fato bíblico de Deus permitir-nos escolher o próprio caminho, e suas implicações.

Suplicava sofridamente que as minhas atitudes, ou melhor, as minhas reações frente às injustiças, às afrontas e ao desprezo fossem maduras, equilibradas; mas qual nada!

Diante da primeira dificuldade relacional eu explodia, descobria que Deus não fizera a parte d'Ele; não mudara o meu coração.

Eu orara e isso era fato. Então qual o motivo da minha intempestiva conduta? Minha desmedida ira? Cadê o sobrenatural em mim? O operar inexplicável no meu duro coração que diligentemente suplicara por uma intervenção divina, uma ampla transformação no meu relacionar?

Eu precisava urgentemente que Jeová interferisse em mim, (tipo quando fez aquelas coisas com o Faraó nos dias que antecederam o Êxodo).

Na primeira epístola de São Pedro há uma expressão abrangente, nos primeiros versos Deus traz através do apóstolo uma série de afirmativas concernentes a quem somos nós, quem Ele é, o que fazemos aqui e, o motivo da inexplicável exultação da nossa alma, a saber, Jesus, crucificado, ressurreto, ascendido, glorificado.

Então vem a tal expressão abrangente: "Porquanto, estais realizando o alvo da vossa fé: a salvação de todo o vosso ser." l Pe 1: 9 KJA

O Espírito Santo não disseca nem subtrai o humano, antes, associa-o a si mesmo, integral; a maioria das versões limita a salvação da "alma", parte do ser; aqui se amplia o sentido: "... todo o vosso ser."

Deus na Bíblia muitas vezes operou de forma unilateral, mas Deus na Bíblia jamais mentiu acerca de Si mesmo e não me lembro de ler nalguma sobre Ele violar um humano; o Pai, amoroso como Ele só, não se constrange com a nossa demora em compreender a Sua vontade, sendo o Eterno, "tem todo o tempo do mundo!".

A conversa aqui é sobre o que Deus não fará por mim e por meus particulares desacertos.

Hoje pela manhã as minhas orações duraram pouquíssimo tempo (minhas orações são sempre rápidas, atropeladas; hoje foram muito rápidas e muito atropeladas), pois ao pedir a intervenção divina numa área de controle humano, violei o princípio do arbítrio. Entendi isso me lembrando exatamente do Faraó.

Jeová afirmou coisas a respeito daquele moço, utilizou-se dos elementos, das pessoas e das circunstâncias e crendices pra chegar ao coração dele e através dele triunfar sobre o mal institucionalizado ali no Egito; mas não violou o coração daquele moço.

Quando eu oro: "Deus! Muda o meu coração!" Necessito entender: fatores externos serão acionados e o Pai, mesmo sendo amoroso como Ele só, vai esperar a minha reação, e "torcer" para que os tais fatores externos ao me atingirem e alterarem o meu mundinho, também me ensinem, e o meu coração mude o seu curso, ou a sua prece.

Não há lugar em nosso relacionamento com o Senhor pra intervenções grosseiras; Deus permite-me perceber ao meu redor a sua ação. Da minha sensibilidade depende a minha compreensão.

Elias descobriu que Ele não estava nem no vento, terremoto ou fogo, o texto do livro dos reis 19: 12b, diz: "um cicio tranquilo e suave."

O Senhor "espera" que nos aquietemos e compreendamos a Sua ação em favor de nós, Ele sempre faz isso mesmo quando não merecemos; e nunca merecemos.

Um coração humano age como tal, até ser redimido e santificado segundo os padrões do Padrão, que é Jesus; sem isso, nada feito.

Deus não vai mudar o meu coração; ainda que desde criança, antes de conhecer e submeter-me a Jesus, eu conheça o texto de Ezequiel sobre o coração de pedra e o coração de carne, é tão somente retórico! Deus não vai proceder a uma cirurgia em mim, até pode, mas não vai, não age assim por definição.

"Deus! Muda o meu coração!" Essa minha oração repica na minha cabeça o tempo todo, espero e não consigo ver mudanças, ah, Deus!

Até quando começo a me perguntar o que de fato Deus fez a respeito de tudo isso, pra aí me calar; contemplo o caminho percorrido e não sem esforço identifico a constante ação de Deus durante o dia difícil, através do sermão cansativo e ruim de pregar e, por conseguinte, de ouvir; pela oração demorada demais ou curta demais ou descomprometida demais.

Percebo o cuidado com o meu coração até no hino fora dos trilhos e nos avisos e nas conversas enfadonhas e reuniões intermináveis de trabalho, e até no trabalho repetitivo de fazer a mesma coisa todos os dias do arrebol ao ocaso.

Deus, lindamente espera que me acalme e me desocupe; desafogue-me, me desenlace e me desobrigue pra então falar, sem o alvoroço do vento, do terremoto ou do fogo.

Tranquilo e amoroso Ele aguarda a minha atenção, espera até que eu desvie o meu olhar das coisas e das pessoas; não vai fazer alarde, vai falar mansa, doce e suavemente e a Sua Palavra será de fácil entendimento e o meu coração, quieto, atento e ouvinte, mudará. Certamente.


 

(Ex-interno do Centro de Recuperação de Mendigos – Missão Vida)


 

Missão vida. Ajudar faz bem!


 

sola Scriptura! 02 anos de leitura bíblica.


 


 


 

sexta-feira, 30 de julho de 2010

O mal que habita em nós

Somos belicosos. Humanos sempre dispostos ao enfrentamento; sabemos responder "a altura" ao sermos ameaçados e/ou afrontados. Êita sangue crente!

Mesmo quando afirmamos o controle divino sobre o nosso comportamento, ainda assim nos indispomos fácil, fácil; uma reserva infame de nós mesmos que usamos sempre que se apresenta uma ocasião. Somos belicosos.

Ao nos aplicarmos à leitura e, por conseguinte ao conhecimento da Palavra de Deus, percebemos o Senhor ensinando-nos, capacitando-nos para as situações adversas; 1 Pe 3: 17 afirma: "Porque é melhor sofrer por praticar o bem, se for da vontade de Deus, do que por fazer o mal.". O Espírito utiliza-se de Pedro e convoca-nos para um exercício puxado, administrar a situação tensa, administrar a resposta rude, a observação jocosa, ofensiva; aqui na Missão Vida nos tornamos administradores hábeis, coisas do ofício.

Administrar conflitos é uma arte.

Crentes administram conflitos.

Ser crente é uma arte.

Um arremedo de silogismo pra fraturar a monotonia do assunto.

No Evangelho escrito por São João 15: 19, Jesus previne-nos quanto às agruras que aguardam os crentes; as aflições se apresentam logo após a conversão, penso que ainda durante a festa dos anjos, (hoje mesmo tem festa lá no Céu, mais um mendigo virou crente) o inferno já trabalha objetivando o fracasso do novo crente.

Posso falar sobre isso horas a fio, (ao deixar as armas e o roubo e as drogas pela Bíblia, não me deixaram mais em paz, por muito tempo; ser crente é bom demais da conta, se não fosse todo mundo ou quase desistiria na largada, certamente).

Que atitude neste ou no mundo espiritual pode ser mais criminosa que a injúria? O descaso? A Igreja vem se esmerando na infame arte de injuriar e tratar de qualquer jeito.

E o fogo cerrado não ocorre nas ruas, somente; entre nós campeia o mal, que só encontra guarida por encontrar uma porta.

Uma expressão pode ampliar nossa compreensão do quanto facilitamos a progressão maligna em nós e através; Jesus, o Senhor, ao ensinar-nos a orar inclui "Livra-nos do mal" Mt 6: 13a NVI; compreendemos aqui a forma de sermos livres do mal, deixando que o Espírito conduza-nos a lugares seguros, por caminhos seguros.

Não enfrentamos as ciladas do diabo, nos desviamos delas; desviar do mal é assunto do salmo 1:1, e Jó é exemplo desse desviar: "Homem que teme a Deus e, evita o mal." Jó 1: 8b, não obstante, nós recebemos quando não somos nós quem convidamos o mal e os seus agentes espirituais e/ou humanos pra estar conosco.

"Se o teu pé te faz pecar, se a tua mão te faz pecar, se o teu olho te faz pecar, pare de se orientar pelos "teus membros".

"Livra-nos do mal" é parente próximo de "Resisti ao diabo," E o resultado é um só: "e ele fugirá de vós!"

O Senhor ensina-nos a orar e a depender; são atitudes que exigem constância, evitar o mal é ato de resistência.

Não há concessões na Bíblia, nem meio-termo há; o mal na Bíblia é identificado e tratado como o mal, e cada vez que cedemos no falar, pensar e fazer, ao mal cedemos. Mal que se instala, aloja-se.

E Pedro discorre didaticamente sobre o triunfar sobre o mal: "Demonstrai compaixão e amor fraternal, sede misericordiosos e humildes." Isso é guerra contra o maligno proceder! Minamos o inimigo recusando-nos a usar as mesmas armas; a nossa luta não é contra humanos (por mais detestáveis que alguns se apresentem de quando em vez).

A nossa luta é contra o mal por dentro e por detrás de gente que gasta energia e tempo na tarefa ingrata de parecerem bons, mas não se movem em direção à fonte de todo o bem, o Senhor.

Traduzir Jesus é simples: compaixão.

Sentimento algum assemelha-nos ao Senhor como o faz quando nos compadecemos, padecemos com, temos o mesmo sentimento, e pensamento.

"Não retribuindo mal com mal, tampouco ofensa com ofensa; ao contrário, abençoai; porquanto, foi justamente para este propósito que fostes convocados, a fim de também receberem benção por herança." 1 Pe 3:9 KJA

Stott oferece-nos precioso comentário: "Pagar o bem com o mal é demoníaco; pagar o bem com o bem é humano; pagar o mal com o bem é divino."

Dava pra encerrar aqui, mas preciso destacar um termo da epístola de São Pedro: Abençoai; a despeito da infâmia e das ofensas que sofrer, eu abençoarei.

Se fosse fácil todo mundo seria crente. Justamente aqui vemos solapar a fé; abençoar a quem me amaldiçoa, tratar com amor a quem me ofende, desejar e contribuir para o bom sucesso de quem maquina o mal contra mim.

Pagar o mal com o bem e ser de ponta a ponta parecido com Jesus.

(ex-interno do Centro de recuperação de Mendigos – Missão Vida)


 

Missão Vida - Visite-nos!

Letra Santa - Comunidade de leitura

domingo, 20 de junho de 2010

, O veremos!

_______ Magno Aquino
Rever o meu pai após tantos anos seria a experiência que me faltava naquele ano; tinha tres anos quando ele e a minha mãe compreenderam que sozinhos andariam melhor, ou simplesmente seriam menos infelizes.
Quatro anos depois descobri os calmantes da minha mãe no criado-mudo e as bebidas no bar da sala; um pirralho de sete anos que se alegrava tomando calmantes e bebendo run, ou o que encontrasse. Década de 70.
Cidade do Salvador – Bahia; íamos de ônibus e isso em parte era favorável, um tempo longo para que no percurso nós, eu e a Marialice, a caçula pudéssemos conceber imagens, diálogos e botar as ideias e os sentimentos em ordem – tinha algumas vagas imagens, nenhuma lembrança do timbre da voz. Os meus sentimentos eram tão ou mais confusos do que os da minha irmã adolescente.
Expectativa: a palavra apropriada
Apreensão: a palavra reinante
Angústia: nosso estado de espírito.
De um momento pra outro fomos tirados da nossa realidade simples com hábitos e problemas comuns pra uma aventura de mil quilômetros ao encontro de um desconhecido por quem não sabíamos o que sentir. Desconforto e chateação, uma viagem ruim, decididamente; só não era de todo insuportável por termos um objetivo: conhecer o nosso pai.
Eu era um sujeito estranho recém saído da dependência das drogas e do tabagismo, com sérios problemas de saude, mas feliz, a despeito do lastimável estado. Falávamos muito sobre como ele seria agora, se chegaríamos e seríamos polidos distantes, ou se correríamos ao seu encontro e o abraçaríamos sem saber o que dizer; nas nossas mentes confusas era só isso e imagens em branco e preto das fotografias do álbum de mamãe.
Hoje sou homem feito e já passei dos quarenta e pretendo, permitindo o Senhor, viver outros quarenta e tantos; tenho outra expectativa (houve um tempo em que a diferença entre o mundo que deixei – drogas, violência, contrastava e contrasta com o mundo para o qual fui transportado – amabilidade, cuidados) e eu pensava que pedir outra coisa além de poder frequentar uma igreja seria abuso.
Hoje quero gastar toda a minha eternidade somente assim, face a face com o meu outro Pai. Se aquela viagem teve um final surpreendente, pense no desenrolar desta.
Quem ainda não tirou um tempo para imaginar como será lá? Lá na glória, pois não temos aqui cidade permanente, mas buscamos a que há de vir. A Igreja triunfante, noiva! Razão da nossa caminhada. Nós somos um povo triste muitas vezes; desesperançados outras tantas por perdermos a noção exata de quem somos, do que estamos fazendo aqui, porque e pra onde estamos indo.
Vivemos aqui como se este aqui fosse o nosso destino final, mas não é este o nosso mundo no qual o mal impera e do qual já fomos resgatados. Tal sistema nem de longe se assemelha ao que nos está sendo preparado pelo Senhor. Nem imagens em branco e preto desfocadas temos do Céu.
Não sou um romântico como o Padre Zezinho: “Não sei se eram verdes os seus olhos, se tinha cabelos morenos...” Minha esperança está próxima da letra de uma canção dos unicistas da banda “Voz da verdade” “Ali tudo é vida, ali tudo é paz, morte e choro, nunca mais... Tristeza e dor, nunca mais!” Pelo visto quando cita a Bíblia a voz é verdadeira.
Na sua minguada compreensão e no seu estreito vocabulário o apóstolo São João tentando descrever o indescritível abusa dos comparativos; tente contar quantas vezes ele lança mão da palavrinha “como”: “Olhos “como” bolas de fogo”, e muito mais. E quando fala da Santa cidade ele compara certamente com algum lugar do qual só conhecia antes de ouvir falar: “Muros de jaspe, ruas de ouro...”.
Ah, a Árvore da Vida no centro da Cidade e ali o Cordeiro glorificado; penso que até os “como” de João são medíocres.
O povo de Deus necessita urgentemente sonhar ardentemente com o Céu; isso refletirá na qualidade da vida dos crentes, sonhar com o porvir; o Céu.
O Cordeiro glorificado, e nós com Ele.
Eu e a Marialice desembarcamos em Salvador duas décadas atrás com o coração aos pulos e a garganta doendo de angústia; por pelo menos dez vezes pensamos que homens sisudos e bem vestidos fossem o nosso pai, mas ele surgiu de camisa e bermudas brancas e sandálias de couro; Marialice e ele se abraçaram demoradamente, uma imagem ainda hoje forte na minha memória; e eu, bem, eu estiquei a mão, pedi a benção e olhei pro chão.
Mas lá, livre de todas as convenções auto-impostas pelos muitos anos de escuridão, quem sabe ao vê-Lo eu quebre o protocolo e corra ao Seu encontro e tasque-Lhe um beijo um abraço e, dispare a falar (quando calmo, já falo mais que a nêga do leite, imagine eu e Ele, faca a face).
Mas desta vez não desviarei o olhar, porque olhar pra Jesus, face a face é a razão minha de ter esperança n’Ele, Jesus esperança nossa. Isso me sustenta. ... Assim O veremos.

(ex-interno do Centro de Recuperação de Mendigos – Missão Vida)

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s

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Matizes

M A T I Z E S

Não sou negro
Não sou branco
Não sou amarelo
Nem vermelho bang-bang
Nem verdinho marciano.

Mulato
Cafuzo
Mameluco

Carrego tantas cores no sangue
Que qualquer dia desses
Tatuo um arco-íris na retina

domingo, 30 de maio de 2010

Te agradeço por me libertar e salvar!


 


 

Magno Aquino Miramontes


 

Há muito perdi a conta do número de homens recuperados que pude assistir voltando pra casa; sempre uma boa sensação! Por hábito leio um texto, oramos e, às vezes rola um abraço; contato físico nunca foi o meu forte, nem o deles. Paulo André triunfou; das ruas pra Jesus!

Duzentos e dez dias!

Um investimento de tal envergadura pode ser contabilizado de formas várias: 840 refeições (oficialmente falando), mais de trezentos banhos (não oficialmente falando), 420 cultos e devocionais, dezenas de filmes, alguns passeios, incontáveis versículos memorizados, curativos, analgésicos, e a eterna pergunta: "Como eu vim parar aqui?".

Hoje aqui na Missão Vida na Bahia foi um dia assim, com assinatura em público do documento de conclusão do programa; o texto foi Rm 14: 4b, oração, uma meditação breve e é claro, hoje também foi um dia sem abraços, sou ruim nesse trem de abraçar, Paulo André também é; um aperto de mão firme e ficamos conversados.

Se o pastor Zilvan estivesse por aqui ele certamente abraçaria o Paulo André; o pastor abraça muito bem! Douglas também é bom nesse negócio de abraçar.

Dá pra notar a expressão bagunçada no rosto do ex-interno; alívio, cansaço, ansiedade, perplexidade. Uma sensação de abandono, todo mundo fica assim meio sem pai nem mãe, sem chão nem norte (mais perdido que cachorro quando cai de caminhão de mudança).

Conheço o sentimento, nunca me esquecerei do meu dia nº 210!

Boa parte da apreensão agora é por não se ter a menor ideia do que vem a seguir; é diferente de bandido que levanta a mão, vira crente e tem que voltar pras ruas (conheço esse sentimento também); agora o tempo é amigo, mesmo sendo impiedosamente rápido; o ex-interno agora é na maioria das vezes um crente em Jesus, com um passado vergonhoso, um presente confuso e um futuro sabe lá Deus...

Em todas as cartas aos crentes, São Paulo deixa afirmações a respeito de gente desse tipo: "E permanecerá em pé, porquanto o Senhor é capaz de sustentá-lo." Rm 14: 4b e tal afirmativa nunca foi tão preciosa como neste momento.

Assumir que precisa de ajuda, pedir ajuda, aceitar a ajuda que conseguir, aproveitá-la e então processar tudo e correr a carreira proposta. Fácil?

Ser crente depois de ser um monte de coisas ruins, adequar-se e prosperar na fé, no conhecimento e relacionamentos e alegrar-se no Senhor; triunfar.

Um mundo inteiro contra nós, um mundo sem chances novas, sem trabalho decente, seco e frio, impessoal e indiferente; um sabor estranho de solidão até que ecoe nos nossos corações outra declaração paulina: "Deus é por nós!".

Acostumamo-nos a esse versículo e com o tempo ele como tantos outros perde o sentido, o valor e poder de produzir fé e uma viva esperança de que mesmo tendo uma barricada contra nós, Aquele a quem nós só conhecíamos de ouvir falar e a Quem nunca dirigimos a palavra, é por nós.

Como se numa briga de rua quando todos se preparassem pra me surrar e de repente o meu pai aparecesse e mudasse tudo, até os ânimos e eu não estou mais só, não estou em desvantagem, não estou mais à mercê; o pai que interfere e muda a situação, isso faz o coração bater diferente, a figura heróica do pai que ajuda.

Ta certo, eu não tive pai aqui, mas ando me aproximando do Pai. Cada vez que leio que "Deus é por nós!" eu me sinto protegido. Deus por perto.

Permanecer inabalável é questão de opção, também de empenho e da compreensão de que sem Deus, não iremos muito longe. A Missão Vida oferece a chance de permanecermos assim, de pé.

Posso não ser bom com esse trem de abraços e coisa e tal, mas entendo bem de "recomeços". Recomecei. Paulo André também. Deus te abençoe meu irmão! A paz!

(ex-interno do Centro de Recuperação de Mendigos – Missão Vida)

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quarta-feira, 19 de maio de 2010

Eu amo gente! II


 


 

____________ Magno Aquino Miramontes


 

No filme institucional da Missão Vida há uma afirmativa contundente: "Precisamos de toda a ajuda que pudermos conseguir!" Um brilhante apelo, direto e lúcido; e que verdade!

Todos os dias, assim que as nossas preces são atendidas deparamos com novas necessidades; precisamos sempre de coisas e pessoas novas aqui e ali e acolá, pois a misericórdia do Senhor tem nos levado a diferentes e distantes lugares nestes últimos tempos. Bradarei aleluia a isso! Aleluia!

Na nossa Igreja diluímos o nosso tempo, conhecimento e recursos em tarefas e entretenimentos vários que preenchem o nosso tempo sem, contudo remi-lo; Agilmente angariamos recursos vultosos para "N" projetos que mantém o rebanho ocupado, em movimento, atarefados de tal forma que, às vezes nos esquecemos de gastar tempo e recursos com o "próximo" (e próximo não é abstração social da nossa tradicionalmente social igreja).

Não chamemos um pobre de tudo de excluído, pois excluído sim é uma abstração social de igreja com discurso idem (social-abstrato); a mesma igreja que por indigência espiritual se furta de fazer o bem, mesmo quando tem em suas mãos a condição e a chance de fazê-lo. A Bíblia ensina que os discursos são bem-vindos quando acompanhados de pão, sabão e salvação; ação social de verdade (gente crente é diferente, Dom Walmor Oliveira afirma isso).

Se contabilizássemos as oportunidades desperdiçadas coraríamos; crentes constrangidos, sinônimo de Evangelho pulsando.

Estou no ônibus pra Salvador, temos a promessa de atendimento médico e de alimentos; as pessoas com as quais terei contato terão a chance de amar os mendigos que a Missão Vida tira das ruas e ama enquanto alimenta, veste, dá atendimento médico, ensina sobre higiene e, evangeliza. Amor e Fé na prática é Evangelho Social, sem discurso.

Ontem durante a devocional (que já não acontecem na árvore-capela) sob o ventilador da sala falei disso, sobre abandonarmos a nossa estóica atitude na qual ajudamos no intuito de nos livrarmos da desagradável companhia dessa gente.

Sermos bíblicos o suficiente e nos aproximar, abordar com o pão, a vestimenta, o calçado, a palavra que transforma, e o "firme propósito de caminhar com esse tipo de gente até as últimas conseqüências, até a sua promoção."

Transportá-lo da condição de pobre de tudo, bastardo da igreja do Senhor, pra outra situação social, próximo ao rebanho, junto ao Pastor; trazê-lo à realidade de amado filho da abençoada família de Jesus, o compassivo.

Houve um período no qual abandonei o que aprendi na fazenda da Missão Vida, foi quando deixei de orar com e pelos internos; passei a considerá-los apenas como a parte penosa da minha rotina de trabalho e não considerá-los a parte realmente importante do ministério.

Foi nesse tempo quando esqueci as preciosas lições do pr. Arnaldo, e passei a irritar-me grandemente com "gente desse tipo", carente de tudo me procurava à espera de atenção e compreensão; alguém disposto a ouvi-los, demoradamente.

Mas foi nesse tempo que Jesus, o Senhor, Bom como Ele só, me trouxe à memória que não fazia muito tempo, uns anos atrás, eu era o carente inoportuno, solitário interno à espera de uns ouvidos; desesperado a procura de abrigo, e atenção.

Foi fácil vestir roupas boas, "consertar" os dentes e esquecer-me de onde fui resgatado e a que preço (preço na cruz e preço na fazenda); mas foi entendendo aquela afirmativa e sendo voluntário e depois sendo recebido como obreiro aqui é que Deus, o Senhor, Bom como Ele só, devolveu-me a alegria de servir. E é isso que faço.

Preciso de toda a ajuda que puder conseguir, pra aprender a ser grato todos os dias; estar aqui é assunto do Céu.

(ex-interno do Centro de Recuperação de Mendigos – Missão Vida)

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quinta-feira, 29 de abril de 2010

As coisas mudam

_________________ Magno Aquino


 

 

 

Vi um cárcere romano. Uma placa que acompanha as fotos nos afirma que é o mesmo local onde foi preso o apóstolo Pedro e onde em outra ocasião o não menos apóstolo Paulo teve o desprazer de ser encerrado. Desconcertante.

Conheci cadeias e conheci algumas das piores que possam imaginar. Experimentei situações que citá-las não me atrevo, pois não serei eu a perturbar os irmãos com histórias que já não são e querer auferir simpatia ou solidariedade contando sobre as surras e maus-tratos da prisão é dolo, má-fé.

Apoiar-me e usar artifícios que condeno é a forma mais eficiente de cair em descrédito e voltar aos velhos hábitos do velho homem de reprovável proceder. Quando ouço o testemunho de um ex- um monte de coisas detalhando os terrores da corró, do quartinho, da peia de manta, da manicure e toda sorte de "gentilezas" que a nova criatura enfrentou me lembro de onde fui resgatado e prá onde fui transportado. Cl 1: 13, 14.

Conheço Onésimos por todo este país e fora dele com histórias as mais variadas; certamente há algumas que de tão brandas fazem-me parecer um sobrevivente do Holocausto enquanto outras há que me tornam um sério candidato a personagem do livro "As mais belas histórias"; este eu li quando criança, presente de mamãe.

Todos os Onésimos que conheço se esforçam no prazer sem igual de conhecer o Senhor e torná-Lo conhecido de muitos. 

Tais homens se alegram; eu me alegro, ao ver a mão levantada no meio da multidão, o passo inseguro em direção ao Senhor que convida em tom de desafio, o ajoelhar desajeitado, as mãos pra cima, entregues; mais um perdido que se rende ao amor de Cristo Jesus.

O capítulo 16 de Atos, a partir do versículo 23 registra: " E, depois de lhes darem muitos açoites, os lançaram no cárcere, ordenando ao carcereiro que os guardasse com toda a segurança. Este, recebendo tal ordem, levou-os para o cárcere interior e lhes prendeu os pés no tronco." 

Os açoites foram ilegais, sendo Paulo e Silas cidadãos romanos (v. 37 ), e os pés presos no tronco também, era um tratamento dispensado a malfeitores; seria justo se Paulo e Silas gritassem por seus direitos civis, um abuso! ( pensava que era coisa do meu tempo ).

Com pérfida riqueza de detalhes os pseudo-Onésimos distrairiam os crentes caçadores de aventuras por horas. Ainda bem que Paulo e Silas eram homens ocupados e envolvidos demais com o Evangelho para gastar precioso tempo entretendo desocupados com histórias de cadeia.

Mas o capítulo 16 de Atos continua a história: " Por volta da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam louvores a Deus, e os demais companheiros de prisão escutavam." Conheci cadeias, conheci algumas das piores que possam imaginar, mas em nenhuma delas vi dois presos depois de açoitados, cantarem.

Isso me faz lembrar o apóstolo Pedro escrevendo: "Não sofra, porém, nenhum de vós como assassino, ou ladrão, ou malfeitor, ou como quem se intromete em negócios de outrem; mas, se sofrer como cristão, não se envergonhe disso; antes, glorifique a Deus com esse nome." I Pedro 4: 15,16.

Assim eu entendo a atitude de Paulo e Silas, louvar a Deus por serem dignos de sofrer por serem cristãos; é mais, é muito mais do que se pode pedir ou pensar; quando o coração se aquece, indagamos: somos dignos da afronta pelo honroso nome de crentes? 

O capítulo 16 de Atos conclui: " De repente, sobreveio tamanho terremoto, que sacudiu os alicerces da prisão; abriram-se todas as portas, e soltaram-se as cadeias de todos." Ao ouvirem a pergunta do carcereiro, Paulo e Silas não evangelizam aquele homem assustado, não era necessário, Deus se fez conhecer, Deus pregou naquela noite, Paulo e Silas só cuidaram da liturgia e fizeram o apelo.

Naquela prisão Deus estava presente, pois os homens que lá foram lançados sofreram por serem cristãos e não por serem ladrões, assassinos ou malfeitores. Paulo e Silas seguiram viagem após serem libertados, e continuaram a fazer a mesma coisa que os levou à prisão, pregar e viver o evangelho, sem mencionar os açoites e o tronco. 

Insisto na questão do testemunho de crentes resgatados do submundo, me lembro de um poema de Sarah P. Kalley que lamenta gastarmos tanto tempo falando somente do pecado, do inferno e de satanás; Paulo declara que o Reino de Deus é... " Justiça, e paz, e alegria no Espírito Santo." Rm 14: 17b.

Também já acreditei que relatando todos os horrores vividos no submundo faria as pessoas se desapontarem com o pecado e correrem para Deus; não funciona assim, é Deus, na pessoa do Espírito Santo quem convence e vence a distância, as barreiras, e se aloja amorosamente no coração daqueles que ouvem a Sua voz e aceitam o desafio de nunca mais sofrerem como malfeitores; como crentes, se preciso. Com Jesus, as coisas mudam... Salmos 113: 7,8.


 

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