quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

A Deus novo ano!


 

________ Magno Aquino


 


 

Reflito sobre este meu último ano, por conseguinte sobre o próximo; pra fazer algo assim foi preciso despir-me da expectativa criada no início deste e da nova; um balanço requer imparcialidade, esvaziamento emocional; não me culpo mais, glorio-me, às vezes.

Humano; sempre rápido pra encontrar culpados pelos meus dissabores, e fracassos, inclinado aos louros; todos e quaisquer méritos, reivindico-os sem culpa nem insônia. Sendo só sincero: "acertei algumas, atrapalharam-me n'outras!" Eis o sentimento sem retoques doutrinescos nem abalos morais. Êita sem Deus! E me chamam de crente, irch!

Confissões têm alto preço; pedi muitas coisas a Deus, na maioria das minhas orações mantenho as mãos estendidas, descabidamente peço umas coisas e uns trem.. Convulsivamente peço, até pro galo ser campeão... (haja fé!)

No episódio dos dez leprosos; Lucas 17: 11 – 19 há dois exemplos claros: somos gratos, ou nem tanto; o curado que voltou pra agradecer recebeu mais que a cura, foi salvo! O Mestre afirmou isso! Os nove curados que não voltaram, bem, eles não foram salvos; há uma afirmativa de desapontamento por parte do Senhor, que não chega a ser uma condenação: eles pediram "apenas" a cura e receberam "apenas" a cura e foram cuidar das suas vidas; o máximo que posso dizer é: Ingratos!

Sob a ótica bíblica (minha fé, toda ela é dependente da Bíblia, posso e leio muitos livros, mas são coadjuvantes. A Bíblia é a Bíblia. Se você for um crente sabe do que estou falando, se não for um crente, nem mil páginas de bons argumentos lhe darão sequer uma tênue idéia da relação de amor, dependência e regozijo entre um crente e o Livro Santo.)

Sim, sob a ótica da Bíblia eu escolho exercer minha gratidão de todas as formas, aproximo-me de Deus, obedeço à ordem: "Dai graças em toda e qualquer circunstância, porquanto essa é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco." I tessalonicenses 5: 18 (KJA) e há sempre a certeza de aproximar-me do Trono com o coração repleto de gratidão e retornar, no mínimo com a benção do olhar aprovador do meu querido Deus e Pai.

Expressar agradecimentos a Deus conduz-me no mínimo à expectativa (olha a palavrinha aí de volta!) de bênçãos adicionais e não estou pregando nada parecido com os iurdianos ou gracenses; creio que é sobre isso também que nos fala efésios 3: 14 – 21, nós, plenos da presença do Senhor, confiantes em toda circunstância, gratos pela situação de salvos e amparados pela graciosa promessa: "Àquele que é poderoso de realizar infinitamente mais do que tudo o que pedimos ou pensamos, de acordo com o seu poder que age em nós." Ef 3: 20.

Cultos de ação de graças são... Um motivo pra testar nossa crentitude, liturgias mal-acabadas e inacabáveis, alguns lembram as intermináveis campanhas neopentecostais; neste ano queimei a língua. Volta e meia queimo. Fui à Igreja Cristã Evangélica de Sobradinho – DF e pasmem, foi um desses cultos dos quais se lembrarão dele por muito tempo, sério.

É claro que o culto de final de ano deles teve a cara, o cheiro, os modelitos, as poses e algumas falas comuns a este tipo de culto; mas algo mudou durante o "trajeto", Deus interferiu no tom, sem combinarem nada, (minha namorada jogou a programação no livro de Neemias, ali perto de Rute) as pessoas se levantavam pra serem gratas e dizerem isso espontaneamente... (e olha que nós os tradicos, não somos assim tão espontâneos como o são os irmãos pentecos) Contando as bênçãos, todas de uma vez! As bençãos, não as pessoas; tradicos... Lembra?

E um só era o aspecto de cada um naquele pequeno templo, pessoas gratas a Deus por uma pá de coisas! Quando o Joel falou encheu os nossos corações, júbilo e uma afirmação inundaram-nos, Ele é fiel! O cuidado amoroso e o trato gentil do Mestre foi a tônica do discurso agradecido da Gisele, do pr. Valdemir, pr. Wilson, do filho do Josemar.

O testemunho da Rogélica foi um desses torpedos que nos trazem à memória o real propósito de servirmos ao Senhor: pra termos vida, abundante vida. Foi nessa hora que me veio ao coração a alegria de ser crente e de saber que posso todas as coisas n'Aquele; é preciso que o Senhor entre em nossas casas, mesmo nas casas chiques e abastadas e que Ele e não nós interfira no comum itinerário que outrora traçávamos conforme nos desse na telha. Deus que salvou Rogélica, salva-nos também!

Posso dizer apropriadamente que entendo hoje o sentido de um culto de ação de graças; é pra sermos gratos, totalmente gratos. Certamente!

E já que este minifúndio hoje é pra falar de gratidão; também fui à frente pra dizer o quanto o Centro de Recuperação de Mendigos é grato; se hoje servimos melhor aos nossos alunos, é pela generosidade da Igreja que servimos.

Ah! Sou grato também, pois a Elê é de lá!


 

(ex-interno do Centro de Recuperação de Mendigos – Missão Vida


 

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quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

A espiritualidade do descanso /

A ESPIRITUALIDADE DO DESCANSO
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Caio Fábio
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Durante muitos anos eu julguei que esse mandamento de Jesus era para os outros, não para mim. Então pus-me a trabalhar na intenção de “remir o tempo, pois os dias são maus”.

O que somente a experiência revela é o seguinte:

1. Jesus viveu apenas 3 anos de intenso ministério e ainda assim julgou que era preciso parar e se separar do bulício da vida e das necessidades humanas a fim de repousar, de comer em paz e de renovar as forças do ser.

2. Sendo Ele quem era, ainda assim, não brincou com a encarnação. Trata-se de Deus respeitando os limites da condição humana.

3. Desse modo fica-se sabendo que nem Deus em Cristo prescindiu da necessidade do repouso. E as implicações disso são óbvias e simples: mesmo a mais genuína e legitima espiritualidade não pode prescindir dos limites do corpo e da alma. Portanto, qualquer projeto de espiritualidade que pretenda existir acima da condição humana está fadado ao fracasso e à doença!



No arroubo da juventude, estimulado pela energia missionária de potro, corri como quem tinha que salvar o mundo inteiro, e cansei...


As conseqüências são inevitáveis:

1. O coração perde o ardor não por falta de amor, mas por absoluta necessidade de energia.

2. Vivendo extenuado, tudo se torna pesado. E nada é mais stressante que o ministério, se vivido com paixão, calor e intensidade.

3. A alma cansada pede férias. E, muitas vezes, pede férias até mesmo do ministério. O que vem na seqüência é que já não se sabe mais se se está cansado pelo cansaço ou se se está cansado do ministério.

4. O próximo passo é que toda a pilantragem que nos circunda vai fazendo o coração cansado achar que está perdendo tempo, malhando em ferro frio, e, então, surge o marasmo, a descrença e a tristeza.

5. Cansaço deprime, esgota e des-romancia a alma. Então, vem a falência dos ideais e inicia-se o processo de trabalhar mecanicamente.

6. O fim disso é imprevisível. Uns adoecem psicologicamente. Outros anestesiam-se a fim de continuar “empurrando com a barriga”. E outros ainda, caem no caminho da auto-indulgencia, pois, se tudo é tão ruim, por quê não dá a si mesmo um pouco de auto-compensação?


Escrevi isto quando estava voltando da floresta no início deste ano de 2003!

Meu pai tem casa por lá. As cutias comem no fundo do quintal, os rastros dos gatos maracajás aparecem na areia branca e fina, os pássaros gorjeiam aos milhares e os sapos são tenores, barítonos, baixos e sopranos!

E as guaribas?—uma espécie de macaco vermelho—cantam em grupos de 300 ou 400 todas as madrugadas de lua cheia, num coral de vozes guturais e barítonas, regidas pelo macaco chefe, o capelão!

E os igarapés? e as cachoeiras? e os peixes do paraíso, após cada provada não dá mais para comer peixe de mar, carregado de maresia?

E meus amigos caboclos? e suas histórias tão puras? e suas dores tão simples e não neuróticas? e suas alegrias tão singelas? e sua fidelidade tão florestalmente macha e digna?

Ah! hoje, mais do que nunca, entendo porque meu pai nunca quis vir para estas plagas—quase pragas—locais e urbanas, onde tudo e todos ofegam até enquanto dizem descansar!

E é essa vida no descanso da Graça que quero viver. E é nessa paz de poder ser de Deus e servi-Lo sem messianismo de nenhuma natureza que estou gostando muito de viver!



Que Deus abençoe você!

Nele,

Caio

sábado, 12 de dezembro de 2009

Vida integral


 

_____________ Vida integral_____________________

"Ora, assim como o corpo é uma unidade, embora tenha muitos membros, e todos os membros, mesmo sendo muitos, formam um só corpo..." l co 12:12

Somos um mar de gente!

Quer confirmar esta afirmativa? Apareça numa das unidades da Missão Vida; diferenças raciais, sociais, religiosas, futebolísticas e peculiaridades mil. Somos um mar étnico e um caldeirão de rostos.

Mas cada interno tem a sua própria história e na história de cada um residem "os sonhos que se perderam..." a esperança que virou poeira, medos e frustrações; nós, obreiros e internos completamo-nos como corpo, homens sofridos sem hipócritas lamentações; pessoas que antes não eram povo, mas que agora se aproximam e caminham rumo a uma identidade nova, uma vida nova, uma esperança nova e única, numa mutualidade em Cristo.

Mais importante do que nos preocuparmos com as coisas que fazemos "pra" Deus, é contabilizarmos o que temos feito em parceria com Deus em favor do irmão; o naipe da nossa vida é aquilatado tendo por referência o serviço. Somos servos aqui, para isso fomos treinados, nossa função é o serviço; a este cotidiano chamamos de "a nossa nova vida!"

Pessoalmente descubro a cada dia que a obra de Deus pode sobreviver e sobrevive sem os meus humildes serviços e sem os meus substituíveis talentos, mas agrada o coração do Pai ter-me por amigo e servo.

Enquanto vivo uma rotina piedosa pra Deus, engano-me; meus pios atos não movem o coração de Deus. Da minha ação em direção ao próximo, da minha disposição em promover cada interno em múltiplos sentidos é que Deus alcança o seu objetivo; é nessa hora, quando amparo o necessitado, é que Deus se cumpre em mim, pleno. Deus não tem ouras mãos que não sejam as minhas e as suas pra fazer serviço social. Nem outra boca pra falar de amor.

Posso preparar e pregar belos e empolgantes sermões que animem a caminhada do recuperando, e pela graça divina tenho feito isso, e posso presenciar vidas sendo transformadas pelo poder da Palavra; mas é quando cuido da alimentação, das roupas, faço curativos, distribuo calçados e acompanho ao serviço médico, é que eles começam a compreender que tudo no altar faz sentido.

Não é uma apologia às obras como meio de salvação, não, é o meu próprio testemunho: As pessoas se moveram em minha direção quando o mais prudente seria afastarem-se, então compreendi a amplitude da misericórdia do céu; a mão da Igreja é que me ensina que será sempre através dos crentes que gente como eu receberá o amor de Jesus.

Intrincados raciocínios teológicos são bons e válidos pra crentes maduros, isso é fato, necessitamos disso; pregações que nos animem nos desafiem e nos confirmem como homens e mulheres de Deus, marcados pela cruz, amoldados ao caráter do Redentor; homens e mulheres de rua, carentes de tudo, no entanto, esperam primeiro que os tiremos da situação de miseráveis, nus, famintos, enfermos, iletrados, esquecidos; é bíblico, totalmente bíblico.

Para quem nunca padeceu necessidade alguma este é mais um discurso sobre gente pobre, a quem o Evangelho integral não alcançou, as minhas palavras soam como coisa nenhuma; mas a cada um de nós, personagens da ciranda: "Faminto, nu, sedento, enfermo, aflito" e a todos cujos corações foram acariciados pela mensagem do Evangelho inteiro, esta é uma séria conversa sobre amar os outros com graça e qualidade.

O que pode parecer uma brusca mudança de assunto é, na verdade uma afirmação: não importa a sua corrente denominacional, ou qual parte do corpo você se julga ser e é, importa a urgência em satisfazermos a vontade do Salvador, sermos um; o corpo é que cura o corpo, e dele cuida.

_____________________ Magno Aquino Miramontes ___________


 


 


 


 


 

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Só Jesus é suficiente?


 

Uma missionária, seu marido, a impossibilidade de gerar filhos, um campo hostil ao Evangelho; a barreira cultural, comum nestes casos: idioma, crenças conflitantes, costumes estranhos, e até a estratificação social; em meio a isso tudo o labor para manter acesa a alegria missionária, que teima extinguir-se. Ela se pergunta:

Só Jesus é suficiente? O que vemos é tão distante daquilo que sonhamos! (sonhos missionários sempre são grandiosos, o mundo inteiro pra Jesus, com Jesus!) a começar pelo meu campo, a meta sempre é o mundo! Mas não chegamos nem perto desse sonho; dias há nos quais sequer sonhamos ou oramos pelo sonho, a enormidade da seara, a lida constante; dias há nos quais descobrimos que fazemos tudo na "obra" de Deus, exceto a Obra de Deus: pregar as boas notícias da cruz; tarefas cotidianas se amontoam..

O vigor físico extingue-se diante das adversidades, aqui na Missão Vida cuidamos de homens sem esperança alguma, já sem vida própria, roubada pelo vício da mendicância, homens sem expectativa; pessoas que já não creem nem confiam em coisa alguma, embrutecidas, sem amor; gente sem nada e que os outros, muitos outros tratam como gente de nada.

Então pode parecer que após lavá-los, vesti-los, alimentá-los, cuidar-lhes as feridas frequentes, quase sempre purulentas... Basta apresentar-lhes o amor do Senhor Jesus e teremos crentes novos instantâneos! Não, isso não é real, posso até encontrar algum grato, e será raro encontrar um, mas a gratidão não produz crentes, nem roupa e comida e banho traduz-se por vida nova.

Embora seja esta a minha esperança e motivação, que ao pregar o Evangelho e fazer o apelo, eles, os internos se apresentem no altar, deixando as coisas que para trás ficam (amo essa expressão!)

Significativas e visíveis mudanças ocorrem após um interno levantar a mão, mas o penoso trajeto está por vir; agora ele é um crente em Jesus por decisão própria, e um homem de muitos e péssimos hábitos por tabela.

Só estamos começando! Um caminho sujeito à desesperança, crises, legítimas crises existenciais e uma angustiante busca de identidade: "Não sou mais um mendigo, nem ladrão, mentiroso, drogado, alcoólatra, pelo menos em tese não sou mais; só que nem chego perto daquilo que a Bíblia chama de crente." Dias e semanas assim, é de desfalecer!

Nessa balada depressiva é que nos assalta a mesma pergunta que por uns momentos perturbou missionária: "Será que só Jesus é suficiente?" E não adianta as respostas de plantão: "E a fé como é que fica?" Ouvir isso é de cortar os pulsos! Lidamos com "homens que não creem nem confiam em coisa alguma" Levantar a mão e ir à frente significa na esmagadora maioria das vezes que aquele homem que não crê nem confia em coisa alguma, vai tentar novamente crer e confiar em alguma coisa, sem acreditar muito.

Há problemas que de tão grandes afetam-me, sucumbo por osmose (!). Necessitar de ajuda extraordinária não é ausência de fé; nosso método diário aqui na Missão Vida é oração e trabalho. A Bíblia, o regulamento, muitos anos fazendo a mesma coisa, adicione aí algum conhecimento teológico e, é isso que fazemos, pastoreamos vidas; somos uma instituição filantrópica e evangélica, dependemos do Espírito até para o trivial; por ajuda extraordinária entenda-se o apoio de voluntários, pastores, psicólogos, psiquiatras que esporadicamente prestam valorosos serviços em favor desses homens.

O que me prostra é a minha própria fé combalida, fé exausta, fé sem gás, sem forças nem pra mim.

Beiro o risco de cair na tentação neopentecostal de querer acrescentar "algo novo" (tipo a psicologia barata vendida na TV) a fim de turbinar a mensagem, tornar o Evangelho atrativo:

Quase omito: "no mundo tereis aflições." Quase omito as agruras do caminho estreito, quase omito o peso esmagador da cruz diária, quase omito a falta que o prazer faz, e até quase omito Hebreus 12: 4 – 13; vich! Quase conto outra história, só pra ver se a luz do alto entra, mesmo que por outro caminho na mente desses homens que não creem nem confiam em coisa alguma e desça aos seus corações

Mas, o Senhor, logo ao lado, intimamente me faz lembrar que não é assim que as coisas funcionam, não. Semear é assunto meu, fazer crescer e florescer e frutificar e fornecer sombra é assunto d'Ele; difícil é aquietar-me, descansar olhando pra eles como quem admira um canteiro cheio de promessas, belas e fascinantes promessas de vidas novas, homens novos, humanos um pouco mais semelhantes ao Senhor que andou pelas poeirentas estradas palestinas encontrando vidas, restaurando vidas as mais variadas, com os mais variados problemas, e continua a fazer a mesma coisa nos nossos dias, ao nosso lado e com a mesma competência de antes.

A graça do Senhor nos basta!

Suficiente graça!

Suficiente Salvador!

Jesus suficiente!


 

(Ex-interno do centro de recuperação de mendigos – Missão Vida)


 

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quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Os especialistas


 


 

OS ESPECIALISTAS

Magno Aquino.


 

"Eles se dedicavam ao ensino dos apóstolos e à comunhão, ao partir do pão e às orações. Todos estavam cheios de temor e maravilhas e sinais eram feitos pelos apóstolos. Os que criam mantinham-se unidos e tinham tudo em comum. Vendendo suas propriedades e bens distribuíam a cada um conforme a sua necessidade. Todos os dias continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração, louvando a Deus e tendo a simpatia de todo o povo. E o Senhor lhes acrescentava diariamente os que iam sendo salvos." Atos 02: 42-47 (NVI)

O crescimento da Igreja dos crentes é um relato empolgante: temor, amor e calor misturados à oração, perseverança e comunhão. Há neste registro tudo o que sonhamos e precisamos para crescer, um crescer saudável e duradouro; não esse processo no qual a Igreja incha por uns tempos e depois volta ao que era, ou regride. Na labuta pelo aumento do rol lançamos mão de todos os meios lícitos, válidos, cristãos e nem tanto.

Diferentes em tudo da Igreja primitiva buscamos na empresa secular os modelos alternativos de crescimento; ainda que o Evangelho que salva e transforma e o Espírito Santo que dá o crescimento sejam os mesmos, imutáveis desde a eternidade, nós insistimos em novas "técnicas" de expansão do Reino.

Tornou-se comum em nossos dias o surgimento de denominações "especializadas" em seguimentos do Evangelho, e fazendo-se "especializadas" fazem-se também arrogantes e relapsas; prega-se um evangelho adaptável, que se adéqua às necessidades do cliente, digo, do crente. Avulta-se o relativo em detrimento do absoluto.

Então temos: quebra de maldição hereditária, e só; confissão positiva, e só; teologia do riso, e só; descapetização, e só; batalha espiritual (seja lá o que queiram dizer com isso), e só; curas e milagres, e só. Cadê o Evangelho integral, bíblico e gratuito? Na minha igreja nós sentimos um imenso e santo orgulho quando dizem que ninguém estuda a Bíblia com maior zelo do que nós; mas, que as mesmas pessoas não apareçam nas reuniões do ministério de oração; um vazio de dar dó. Yes! Nós temos um ministério de oração, Uau!


 

E quase em frente (à minha igreja) abriram uma "igreja de campanha" e do amanhecer ao anoitecer eles oram e contribuem e empilham envelopes de pedidos e ofertas; (de onde vem tanto envelope?), mas nunca os vi calmamente assentados obedecendo à ordem: "Examinai as Escrituras!" Precisamos de uma e de outra coisa, precisamos atentar para o que diz Pedro: "Crescei na "graça" e no "conhecimento" de Jesus Cristo." II Pe 3: 18. Eu sei, estiquei o versículo!

Carregando o slogan do evangelho social nos tornamos assistencialistas, distribuidores de cestas básicas, e só; sequer oramos por aqueles carentes de tudo, e Mateus 4: 4, como é que fica? Pregamos o Evangelho, a Jerusalém celestial, mas agimos como se aqui e hoje não fossem importantes, mandamos todos para o porvir, sem escalas.

Intercessores, e só; ao passarmos por um "nu faminto sedento enfermo", ao largo passamos. Mt 25: 35. "Ama o teu próximo" vem no vácuo de "Ama o teu Deus"; amo Deus e deixo meu irmão na pior? A igreja da benção "A" despreza a igreja da benção "B" e juntas desprezam a cruz.

O nosso egoísmo produz igrejas egoístas; ouvi um pastor "social" dizer que a igreja crescerá "pra dentro", adeus missionário.

A Igreja precisa apresentar os cuidados com o crescimento social e espiritual aliados à experiência de transformação, da presença soberana do Espírito Santo; estudo bíblico e oração; sopão e louvor e cura cabem no mesmo templo. Adicione conversões aí.

Não precisamos de um evangelho da cura, outro da libertação, da prosperidade, um evangelho da quebra de maldição; mas precisamos da cura, da libertação, da prosperidade, da transformação e da salvação que em nós opera o Evangelho de Jesus, o Cristo.

A santidade em nós é que expressa o poder do Evangelho; os bens aparentes não oferecem uma visão clara da presença graciosa de Deus em nós; os ímpios são escandalosamente "especialistas" em ostentar esses bens aparentes, esmagam melhor do que nós.

O bom perfume de Cristo, a boa sensação causada pela tradução da cruz em nós e que nos diferencia, é que revela que somos humanos de volta à imagem e semelhança do Criador. Igreja que fala de um novo Céu, mas que vive uma nova vida aqui, e divide-a promovendo um todo.

Especialistas sim, especialistas em Deus, e só.


 

(ex-interno do Centro de Recuperação de Mendigos – Missão Vida)

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segunda-feira, 5 de outubro de 2009

A m o r d e C r e n t e


 

Amor de Crente


 

Participava de uma dessas adoráveis conversas após o culto, quando um velho amigo missionário dos tempos em que eu estreava no amor de Jesus se lembrou de uma conversa que tivemos; essa por sua vez bem antiga. Em frente a uma escola onde eu falaria a centenas de jovens; era a turma da noite, sempre mais assediada por vendedores de drogas.

Naquela noite enquanto esperávamos, ele me perguntou sobre como eu entendia a Nova Vida em Jesus, e porque um sujeito como eu era sempre tão risonho; a saúde frágil, a abstinência das drogas que me rendera entre outras coisas, os movimentos involuntários além da perseguição implacável por parte de policiais e de ex-comparsas; respondi como responderia qualquer recém-convertido cuja vida foi virada pelo avesso pela superabundante graça do Senhor.

"Não ligo pra polícia, não ligo pra ex-amigos que me param nas ruas e às vezes me surram por eu não carregar mais uma arma, mas queria muito entender é o motivo dessa gente toda gostar de mim." Ele franziu a testa.

"É difícil pra minha cabeça ver esse povo me tratando como se eu fosse um deles, fosse alguma coisa que prestasse, tivesse importância!"

Davi sorriu, concordando, afinal eu era só um garoto crescido e acostumado desde cedo a ações e reações violentas, a lidar com dor, solidão e desprezo com absurda indiferença. Gente como eu antes de Jesus, não pára pra sentir dor, sente dor enquanto foge; foge sempre.

Ainda se lembrou que me perguntara sobre a minha expectativa quanto ao Céu, morar com Deus... Respondi com a ingenuidade de um deslumbrado com Jesus, mas que ainda não entendia a razão do amor dos crentes: "Missionário, vai me desculpando, mas querer pensar que existe um lugar melhor que a igreja, é viagem. Viver no meio dos irmãos, ir a casa deles, até almoçar com eles, até ir pra igreja de carro com eles; querer mais que isso é abuso."

Comoveu-se e sorriu ciente de que aquele que respondia era só um ex-viciado e ex- um monte de coisas que andava as voltas com as delícias do primeiro amor. Naquele tempo eu morava numa sala da escola dominical da Igreja Presbiteriana de Montes Claros – MG. Aos domingos eu ficava sem casa. Aquele amor genuíno, aquela maneira carinhosa no tratar eram mais que tudo que alguém como eu conhecera até então.

Hoje penso nisso tudo e causa-me desconforto, a pergunta vem seca: Aonde foi parar aquele inigualável amor com o qual nos amávamos? Sei lá, fomos nos tornando crentes estressados, paranóicos e não é exagero, tem segurança na porta das igrejas; leão de chácara.

A Igreja é refém daqueles com os quais deveria estar, aos quais deveria anunciar a boa notícia da cruz. Somos uma sociedade violenta de alto a baixo, verticalmente.

Por não sermos mais uma "Igreja evangelizadora" passamos a criar departamentos, setorizamos a pregação do evangelho; Não sabemos o endereço da cadeia nem da favela, mas já distribuímos milhares de panfletinhos na porta da igreja, ali mesmo; o chão ficou um caos.

Levar as boas-novas e estarmos preparados pra receber gente que se converte, pois se tem uma coisa que sempre acontece é gente se converter quando pregamos o evangelho de Jesus Cristo! Falar desse amor, demonstrar esse amor pelas pessoas, ver mãos erguidas no meio da multidão, crente sem nome nem rosto, só crente.

Gostamos do show gospel da TV; claro que a banda séria da Igreja tem que fazer ouvidos moucos pra tanta parvoíce e canalhice veiculada.

Nós os crentes estamos perdendo o jeito de amar como amavam os crentes de tempos atrás; estamos sendo esvaziados do "amor de crente" que tem esse nome porque só crente dá amor assim, sem medida nem tempo. Amor de crente.

Derrotados surgem aos montes nas portas das igrejas, mas já não vêem em nós aquele amor que arde no olhar do crente; uma geração sem forças pra amar de novo. Mesmo com todo amor que recebi ao chegar à igreja eu fracassei muitas vezes, quase desisti de vencer; hoje em dia eu não duraria um mês. Era ódio demais e dor e tristeza; todo aquele amor foi antídoto, me curou.

Literalmente eu me envergonhava de ser tão amado, era muito pra minha cabeça quente e meu coração frio; indigno de receber amor daquele jeito, mas Deus sabia o quanto eu precisava ser amado "sem medida"! Deus me amou sendo eu ainda pecador, isso era mais que a minha consciência podia apreender, mas foi o amor dos crentes que o Pai usou como referência.

Será que a igreja não consegue mais produzir crentes apaixonados? Apaixonados por gente que aos olhos humanos não valem uma pipoca, mas que pra Deus, o nosso Deus, vale muito, valeu a cruz.

Saia do seu lugar e passeie pelos corredores, entre os bancos e responda uma coisa: há quanto tempo você não depara com um rosto novo de olhar brilhante e sorriso fácil na sua igreja? Crente novo ri à-toa.

Amor de Deus tem de sobra, está faltando é amor de crente nesse mundão de meu Deus!


 

(ex-interno do Centro de Recuperação de Mendigos – missão Vida)


 

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terça-feira, 22 de setembro de 2009

Não sei lidar com Deus. Parte final.

Não sei lidar com Deus. Parte final.

Magno Aquino


 


 

Agora é voltar, pra onde, e como voltar pastor? Insisto que ser crente deveria ser fácil, já que é fácil pra quem nasce crente; penso nisso o tempo todo; nascendo crente poderia estar em qualquer lugar que quisesse e seria um homem feliz, não aqui à cata duma fé construída a ferro e fogo. Não herdei a minha fé. E comunhão é coisa que deve existir só na minha cabeça; queria falar muita coisa pra Deus, se falasse eu melhoraria muito.

Não entendo de comunhão, leio a Bíblia e concluo, objetivamente concluo; permanecer longe das armas, e das drogas, e do roubo e da violência e do passado, essa, pastor é a religião que aprendi na Bíblia; tem mais coisas, eu sei, mas quando lembro o que Deus já fez de bom, contento-me com o que tenho e me calo, pedir mais alguma coisa pode piorar a situação.

Olho aquele dia pastor Edson, quando levantei a mão e me lembro das seis paradas por overdose de "artani" moído e PCP (pó de anjo) e penso que só fui lá à frente por puro desespero, só por não ter mais a quem recorrer, só por entender que eu "já era", por estar cansado demais daquela vida toda, cansado pra continuar fugindo e me jogando por aí, na esperança de que uma hora qualquer alguma coisa acontecesse, nem precisava ser boa de verdade, não tão ruim como de costume já seria lucro.

Não havia um sentimento bom ou nobre em minha decisão de ser crente, igual às pessoas que decidem nobremente seguir o Evangelho; só desespero, só cansaço pra apresentar lá na frente, nada que prestasse ou chamasse a atenção de Deus; mãos sujas e um coração pesado, oferta de Caim. Quem quer isso? Deus não há de querer.

Tem um versículo que diz: "Quero trazer à memória aquilo que me pode dar esperança." A dimensão desse desejo é enorme, amplia-me, sinto certa alegria pensando. Esperança é uma palavra que tento evitar, há um peso, uma ilusão nessa palavra, mas termino por "tropeçar" nela todo o tempo: versículo, música, artigos, textos devocionais, até na pregação o pr. Arnaldo destaca a esperança, além da sua carta pastor; "receitando" o salmo 40.

Ainda agorinha eu parei de escrever esta carta, hora do culto e adivinha o texto do sermão? Salmo 40... Irritou-me a princípio, mas depois me concentrei e sem motivo aparente me alegrei ouvindo sobre confiança; não foi assim me alegrar sobremaneira, me senti bem. Leio o salmo repetidamente, mudo de versão e sempre a mesma coisa, parece ter vida própria (é só um jeito de falar), pois cada parte me toca, é esse o termo, me toca, incomoda, perturba; é desconfortável e conforta (viiiich!).

Penso, quando leio, que uma hora será minha hora de ser o protagonista do salmo 40 (to pirando né?), Ele vai se inclinar pra mim e finalmente vai me ouvir o clamor, e olha que eu tenho clamado pra dedéu; ouvir é sinônimo de atender. A outra parte já foi, a que fala do poço de lama e perdição, Ele já me tirou desse poço maldito, então, Ele é fiel pra terminar o que começou, não é assim? Ou eu me agarro a isso ou morro.

Aí fica a parte de firmar o meu pé sobre a Rocha, firmar os passos, pra depois chegar à parte visceral: "Me pôs nos lábios uma nova canção!", nessa parte sem Ele não vai dar; cântico novo vem do coração, mas vem antes do coração d'Ele. Canção do céu. "Aloprei de vez". Mas é assim que as coisas estão nesse momento na minha cabeça, é um processo, pois a boca fala do que o coração está cheio; nova canção só pode sair de coração novo, mas não posso me reconverter. Mas posso pedir arrego, posso dizer que se pra Ele tiver tudo bem que eu quero tentar de novo. Do jeito d'Ele.

Ta entendendo pastor? A resposta pode vir pela palavra, novo coração; a partir daí as coisas podem se encaixar; Deus entra com a boa vontade de resolver as coisas, Ele tem boa vontade, Ele não vai me deixar assim cheio de esperança e me largar na mão, vai?

Fica faltando resolver o problema da fé, mas não é falta total de fé não, é só fé pequena, fé sem prática, mas deve servir pra começar, precisa servir. Meio que do nada eu me vejo animado, esperançoso até, como se uma coisa boa estivesse a ponto de acontecer pastor. Eu não vou me animar demais pra não parecer falta de reverência, mas Ele olhou na minha direção, tenho certeza que olhou...
Depois eu escrevo falando sobre o negócio da obedìência que o Paulão insiste tanto.
Saude e bem!


 


 


 


 


 


 

terça-feira, 15 de setembro de 2009

Não sei lidar com Deus 2ª parte


 

Magno Aquino

Já não sofro os "grandes pecados" de blasfêmia, violência e roubo e sangue, ou mortes; amedrontam-me os miúdos, com cara de ingênuos, mas que ferem, desapontam deixando um gosto ruim na boca das pessoas que lutam consigo mesmas pra não me odiarem mais. Passo horas, dias gasto na improdutiva tarefa de listar nomes e ofensas; se me deprimo só de lembrar, fico imaginando o que vai pela cabeça das pessoas. Angustio-me; minhas cólicas pioram de tanto pensar nisso. Sofro pra dedéu, é sério, sofro.

Por quanto tempo um crente pode ouvir mentiras, ofensas, insultos e perdoar, e estender a ao, e sorrir e ajudar de novo como se ajudasse pela primeira vez, e até saudar com a paz do Senhor?! Escrevo intermináveis cartas com pedidos de perdão, sinceros; por prudência não as envio, as pessoas certamente sofrerão segunda vez por se lembrarem o quão vil me portei. Se bem que de onde vim tem um ditado: "Quem bate esquece, quem apanha não."

Orei e jejuei nos últimos dias; nunca me aborreci tanto. Pensei que orando e jejuando encontraria Deus em dias melhores, mais atencioso tal, qual nada! Até o Domingos que me tratava bem me escamou por ninharias. Por causa de um interno folgado o pr. Arnaldo me disse poucas e boas! E parece que todos os internos têm um plano pra me atazanar. Porque as pessoas jejuam? Nada de bom acontece durante o jejum.

Com o Senhor Espírito Santo as coisas vão bem; na oração até falei: "Meu velho novo amigo, Senhor Espírito Santo..." Quando falo com Ele, e tenho conversado com Ele nas madrugadas, eu sempre O trato por Senhor Espírito Santo, formal; é Deus. Só não sei orar por mim, mas aprendo que orar pelas pessoas é uma forma de presenteá-las, poupá-las, protegê-las com a presença constante do Senhor; como não é pra mim mesmo disparo pedindo, peço lá pra casa, pra sua casa pastor e pra casa do Paulo. Orar pelas pessoas tem essa vantagem, Ele ouve, e atende.

Não sei se estou mais perto de Deus; certo é que passo muito tempo pensando em Deus, é quase uma convivência; sinto-me tranqüilo às vezes, sinto-me quase filho, tipo assim; mas nunca fui lá grande coisa como filho, nem pra mamãe, nem pra Deus. Na boa rev. Edson, sei que não sou a ovelha dos sonhos de ninguém, nem do senhor, sem grilo, sei quem sou.

Obedecer me submeter, acatar as ordens docemente, é o que o Paulo me propôs, anotei tudo; mas obedecer do jeito que ele quer, isso leva tempo; gasto tempo considerável pra me organizar mentalmente e obedecer em silêncio, sem questionar; tarefa espinhosa pra um sujeito que passou a vida desobedecendo, a mãe, o mundo, o pastor, a igreja. Sou interno da Missão Vida, eu obedeço, não preciso gostar de obedecer, só tenho que obedecer. Tem hora que sou muito infeliz aqui na Missão, não é toda hora, mas tem hora que é difícil ser interno e ficar.

Dª Eunice falou que é possível levar a vida inteira pra começar a aprender a obedecer (ela ligou, no celular do pr. Arnaldo, putzgrila!). Dª Álmen disse que a disciplina pode me fazer um sujeito feliz, eu falo sujeito, mas Dª Álmen não chamaria alguém de sujeito. Dª Noeme, também numa carta disse que Deus vai atender as minhas necessidades, pois eu ponho-me e a minha fé a serviço dos irmãos, ela falou assim, ela é uma mulher santa e só fala coisa boa, até de mim. Paulo e Lúcia, unânimes: "Minha vida muda quando as atitudes mudarem." Sempre à queima-roupa.

Aí pastor, o senhor disse que eu reúno todas as condições pra não estar vivo. Todo mundo ta certo, até Dª Noeme com o negócio lá da fé a serviço dos irmãos, afinal eu oro por eles né? A dificuldade maior mesmo é com Deus, é complicado tratar as coisas com Ele, e não tem escape, cedo ou tarde terei que despregar os olhos do chão, e olhar pra Ele; o difícil rev. Edson é que Ele ta sempre desapontado; e eu não consigo, não posso fazer nada pra mudar isso, imagine o desespero pastor!

Até me preparo pra dizer alguma coisa boa, mas já tem sempre uma pá de coisa que não presta que fiz, falei, pensei; aí trava tudo. Saio de cena, olho pro chão. Eu queria mesmo era uma chance de orar direito, fazer tudo direito.

Quem sabe receber um olhar de aprovação. Continua


 

(ex-interno do centro de recuperação de mendigos – Missão Vida)


 

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segunda-feira, 7 de setembro de 2009

Não sei lidar com Deus.

Não sei lidar com Deus.
Magno Aquino

Carta escrita quando o autor era interno no centro de recuperação de mendigos – Missão Vida, ao rev. Edson Alves, Ig. Metodista – BH –

Gastei os últimos anos olhando para a cruz; diante da autoridade da cruz o homem arrogante, violento e acostumado a dar as cartas foi demolido, desmontado; o sujeito de olhar ruim e armas sempre ao alcance das mãos, diluiu-se enfim.
Face a face com a cruz vivi momentos de tribulação e esvaziamento, sentia uma paz e regozijo que pude afirmar que outro ou mais excelente estado não poderia existir: ser crente. Baixei a guarda pra nunca mais reerguê-la, depus as armas pra nunca mais empunhá-las contra meu semelhante. Por qualquer ângulo eu era outra pessoa. Um crente.
Ao receber o amor de Cristo, de uma única vez me fiz presa desse amor e servo desse Reino. Dispus-me ao serviço do meu Senhor; sem, no entanto aprender o significado de descansar n’Ele. Sempre devedor intruso; persona non grata diante do trono da graça. No meio do seu povo eu cheirava diferente, falava diferente e era, de forma angustiante, diferente. Crente feito às pressas.
Durante quase duas décadas venho amando Jesus e cada palavra dita por Ele e sobre Ele; a Bíblia eu trato por “Santo Livro.”! Mas não relaxo na presença da Deus, falo muito, falo sandices e pra consertar erro de novo. Fui maluco até pra me queixar de um resfriado. Insano. Agora só falta me queixar da dor de dente.
Não sei lidar com Deus.
É grande demais pra alguém tão pequeno; puro demais pra alguém sujo demais; santo demais pra alguém pecador demais; belo demais pra mim. Simples pra ser só simples e amoroso, só assim e pronto; não dá pra entender como Deus pode ser assim! Se não fosse tão bom seria mais fácil ir embora. Um de nós está sempre longe; no lugar ou na prosa desencontrada.
Por temor e respeito sempre interrompo a oração quando suspeito que outro ora um assunto de maior importância e está a seqüestrar-Lhe a atenção; deixo pra lá, minha conversa não é importante, nunca é.
Li, estudei tanto sobre oração que posso criar um manual de oração, teoria é que não me falta; observo com que pressa Ele atende quando por outros peço, que por mim quase peço! Mas quando é assim pra mim eu me travo; pedidor insolente, inoportuno; ralho-me e calo, desvio o olhar e o assunto e desando a falar do céu e do mar e do vento, até aleluia eu falo, pra disfarçar a falta de tato; e sob o olhar de soslaio me ausento.
Num primeiro instante eu creio, pra em pouco tempo apoucar-me a fé que antes de tão densa fazia-me quase tocá-Lo; mas recolho a mão, quase desdigo a prece, peço perdão por medo; pois se não der certo o assunto da oração pode ser que eu murmure, aí se murmurar peco e de pecar estou farto.
Reaprendi a desviar o olhar, olho pro chão; é menos doloroso e menos humilhante do que olhar pra cima e dar de cara com o olhar d’Ele olhando pra outro rumo e não pra mim. Não é preciso que diga que não sei orar, eu digo e disso faço meus dias; sem sonhos grandes, nem pequenos.
Olho a cruz vazada no “Terra Nova” e estremeço, oro em voz alta, é um jeito novo de orar, e se percebo que estou desagradando mudo de assunto, pra não encher. Deus sem dúvida é muito ocupado.
Aprendi a confiar igual ao pastor, que gosta do salmo 40, confiantemente! Eu também creio, me entusiasmo até que venha o terror de deixar de crer e confiar; a fé que tenho é pouca, quase nada e pode secar, e aí? Com esse quase nada eu sobrevivo, mas só com o nada vou viver com o quê? Continua...

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Não sei lidar com Deus.

Magno Aquino

Carta escrita quando o autor era interno no centro de recuperação de mendigos – Missão Vida, ao rev. Edson Alves, Ig. Metodista – BH –

Gastei os últimos anos olhando para a cruz; diante da autoridade da cruz o homem arrogante, violento e acostumado a dar as cartas foi demolido, desmontado; o sujeito de olhar ruim e armas sempre ao alcance das mãos, diluiu-se enfim.

Face a face com a cruz vivi momentos de tribulação e esvaziamento, sentia uma paz e regozijo que pude afirmar que outro ou mais excelente estado não poderia existir: ser crente. Baixei a guarda pra nunca mais reerguê-la, depus as armas pra nunca mais empunhá-las contra meu semelhante. Por qualquer ângulo eu era outra pessoa. Um crente.

Ao receber o amor de Cristo, de uma única vez me fiz presa desse amor e servo desse Reino. Dispus-me ao serviço do meu Senhor; sem, no entanto aprender o significado de descansar n'Ele. Sempre devedor intruso; persona non grata diante do trono da graça. No meio do seu povo eu cheirava diferente, falava diferente e era, de forma angustiante, diferente. Crente feito às pressas.

Durante quase duas décadas venho amando Jesus e cada palavra dita por Ele e sobre Ele; a Bíblia eu trato por "Santo Livro."! Mas não relaxo na presença da Deus, falo muito, falo sandices e pra consertar erro de novo. Fui maluco até pra me queixar de um resfriado. Insano. Agora só falta me queixar da dor de dente.

Não sei lidar com Deus.

É grande demais pra alguém tão pequeno; puro demais pra alguém sujo demais; santo demais pra alguém pecador demais; belo demais pra mim. Simples pra ser só simples e amoroso, só assim e pronto; não dá pra entender como Deus pode ser assim! Se não fosse tão bom seria mais fácil ir embora. Um de nós está sempre longe; no lugar ou na prosa desencontrada.

Por temor e respeito sempre interrompo a oração quando suspeito que outro ora um assunto de maior importância e está a seqüestrar-Lhe a atenção; deixo pra lá, minha conversa não é importante, nunca é.

Li, estudei tanto sobre oração que posso criar um manual de oração, teoria é que não me falta; observo com que pressa Ele atende quando por outros peço, que por mim quase peço! Mas quando é assim pra mim eu me travo; pedidor insolente, inoportuno; ralho-me e calo, desvio o olhar e o assunto e desando a falar do céu e do mar e do vento, até aleluia eu falo, pra disfarçar a falta de tato; e sob o olhar de soslaio me ausento.

Num primeiro instante eu creio, pra em pouco tempo apoucar-me a fé que antes de tão densa fazia-me quase tocá-Lo; mas recolho a mão, quase desdigo a prece, peço perdão por medo; pois se não der certo o assunto da oração pode ser que eu murmure, aí se murmurar peco e de pecar estou farto.

Reaprendi a desviar o olhar, olho pro chão; é menos doloroso e menos humilhante do que olhar pra cima e dar de cara com o olhar d'Ele olhando pra outro rumo e não pra mim. Não é preciso que diga que não sei orar, eu digo e disso faço meus dias; sem sonhos grandes, nem pequenos.

Olho a cruz vazada no "Terra Nova" e estremeço, oro em voz alta, é um jeito novo de orar, e se percebo que estou desagradando mudo de assunto, pra não encher. Deus sem dúvida é muito ocupado.

Aprendi a confiar igual ao pastor, que gosta do salmo 40, confiantemente! Eu também creio, me entusiasmo até que venha o terror de deixar de crer e confiar; a fé que tenho é pouca, quase nada e pode secar, e aí? Com esse quase nada eu sobrevivo, mas só com o nada vou viver com o quê? Continua...


 

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domingo, 30 de agosto de 2009

Ainda amo a mensagem da cruz



"O teu sangue foi vertido

Expiraste, ó meu Jesus

E ficou por ti cumprido

Meu resgate sobre a cruz!"

O impacto desta letra sobre a minha alma é devastador; nela percebo ainda que tênuemente, a dimensão do amor de Jesus Cristo por mim, e nada pode se comparar ao amor de Deus morrendo na cruz, tomando um lugar que era meu. A cruz. Não pretendo fundar a "Legião do Calvário", a "Irmandade da Cruz" ou qualquer outra coisa de nome pomposo e objetivos dúbios; mas permaneço sem entender a aversão pela cruz, a resistência, o afastamento da mensagem da cruz promovido pela igreja.

Deixando as minhas referências, fingindo me esquecer de onde fui tirado pelo poder do Evangelho é que me apresentei reprovável. A igreja insiste em exibir símbolos estranhos ao Cristianismo; entre a cruz e o castiçal, com qual ficar? Não necessitamos de símbolos judeus, não somos judeus, nem devemos acatar as sandices judaizantes das igrejas "neo - um monte de coisas". Uma parafernália sem fim atropelando o culto.

Satanás gosta de confusão, beneficia-se dela, consegue entre os da igreja os melhores auxiliares para desviar os próprios santos; confusão é a palavra de ordem, ou de desordem na igreja "pós-moderna."

Sem a mensagem de vergonha e sangue quem encontrará salvação?

Na epístola aos gálatas S. Paulo diz sem rodeios: "Fui morto na cruz com Cristo." Gl 2: 20b – (edição pastoral, Ed. Paulus.) E em meio a ensinamentos concernentes a uma vida dominada pelo Espírito Santo, encontramos mais afirmações sobre a cruz: Os que pertencem a Cristo crucificaram os instintos egoístas junto com as suas paixões e desejos." Gl 5: 24 – (idem) (grifo do autor). A cruz nos rodeia e faz sombra.

Certamente as duas afirmações bastam para definir nossa real condição: CRUCIFICADOS! – (dirijo-me aos crentes) As expectativas de um crucificado não são lá muito animadoras; li tempos atrás alguns artigos sobre a crucificação; invenção dos persas que os romanos aprenderam em Cartago. Sei dizer que pelo pouco que entendi é pior que o pior dos pesadelos. Todas as torturas às quais fui submetido como ladrão, cobrador e cão de guarda parece afago de mãe quando comparadas às dores da cruz, nada equivale em agonia de tempo e dor!

De acordo com a segunda citação bíblica eu, crente, crucifiquei todas as afeições e intentos, todos os sonhos e planos e passei a pensar com a mente de Cristo. De que me serve na cruz o egoísmo diário? Exatamente o que faço com desejos e paixões quando me mudo de mala e cuia pro calvário? De lá vem a vitória sobre os males e sobre o pecado que assombram a minha existência. É na cruz que encontro as respostas que não encontrei em lugar algum e de lá irradia a esperança viva e nova de morar com Ele na glória; não tenho nem quero outro endereço, sou da cruz de Cristo.

Negar minha vontade é renegar o que prezo, literalmente trair aquilo que por precioso tenho, abandonar os caminhos que jurei seguir em troca de outro caminho, O Caminho. Seguir Jesus é pisar cada um dos passos pisados por Ele, acordar sempre com o mesmo e ambicioso projeto: MORRER HOJE NOVAMENTE. Ser crucificado antes do desjejum; pensar, sentir, falar, reagir e viver como crucificado.

Tomar posse da cruz e quando me perguntarem o meu endereço responder prontamente: Gólgota! Apossar-me do vexame dos cravos sem precisar de mais nada, de mais posses. Tenho a cruz, a cruz me basta!

Seguir Jesus, ir logo em seguida andar a Via Dolorosa "A fim de que não se torne inútil a cruz de Cristo, que é poder de Deus para aqueles que se salvam, nós." I co 1: 17, 18.Submetendo-me à cruz anulo meus direitos, todos eles; cancelo a minha agenda, toda ela pela vida toda. Estar crucificado e viver assim, crucificado e sem grandes sonhos relacionados com o presente século; amar Jesus a ponto de apresentar regularmente o coração agradecido pela cruz diária, constante. Não "descemos da cruz", nenhum compromisso ou assunto desviam-me do calvário, "descer da cruz" está fora de questão. Sequer tragédias podem fazer-me considerar estapafúrdia hipótese.

Optei pela cruz, optei eternamente; eternamente aqui, porvir também.

"Cristo vive em mim!" Habita-me o crucificado.


(ex-interno do centro de recuperação de mendigos – Missão Vida)


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sábado, 15 de agosto de 2009

O pecado mora ao lado, o perdão também.

                                                            Magno aquino

O pecado existe sim; espreitando, enleando, seduzindo.
O perdão existe sim; aliviando, desadoecendo, enlevecendo.
Pecado e perdão não são abstrações teológicas.
O pecado existe. Enquanto ato, cometemos, repetimos, reincidimos, chutamos o balde até sussurrar um semi-surdo pedido murmurante. Pecado adoece e quando é fato cometido aloja-se e cria raízes, cria caule, folhas, frutifica para o mal. Pecado pesa, prostra, tolda; faz a gente olhar pro chão. Pânico de dedos em riste. Pecado parece doença ruim (na minha terra classificamos as doenças moralmente, DST é doença ruim), parece que é pra sempre, que tem que aprender a conviver com, que é melhor pecar mais só pra ver se alivia um pouco... Mas não alivia, só parece.
Tentação depois que vira pecado perde o cheiro bom e o jeito bonito. Dói e fede.
O perdão existe. Perdão faz bem. Desfaz o mal, anula o mal, desencadeia o bem.
Só que entre perdão e pecado não tem convivência, não há acordo. Um tem que sair; perdão é resultado de arrependimento, desses de verdade. Tem sentimento confuso que se parece com perdão, mas não é, é remorso, que não traz nem faz bem. Traz morte, assunte na Bíblia... Iscariotes. Agonia.
Arrependimento existe, é quando Deus acha uma brecha em nós, inexpugnáveis malfeitores de nós mesmos, e enfia sua luz; aí, pasmos nos vemos como somos, como estamos. Somos e estamos entulhados.
Perdão de Deus é imediato, perdão de nós requer tempo; quem se atreve a se contemplar em pecado quando já não há a adrenalina do pecado? Quando o ofegante brilho do diabo já se foi? O brilho e a adrenalina que precedem o pecado se esvaecem pra deixar só uma desesperança covarde; o inebriante cheiro e o incomparável sabor sempre dão lugar ao desumano espetáculo de almas falidas. Íntimo horror.
Quando o que era formigante possibilidade se torna fato já não é mais formoso ou doce. Desagradável aos olhos, asqueroso ao toque; inconveniente hóspede.
Se não me arrependo, me perco, sinto só remorso e me arrisco à corda de Iscariotes por instantes. Morro um pouco em mim pra Deus; ou morre um pouco de Deus em mim? Dou-me por perdido.
Mas sou crente, a palavra não me é estranha posso olhar pra cruz. Posso abrir a alma e a boca e pedir socorro, e o socorro vem, o alívio vem, o perdão vem.
O pecado existe, o perdão existe. Conhecendo os dois, eu escolho não pecar.
Abençoada escolha!

(ex-interno do centro de recuperação de mendigos – Missão Vida)

Eu, interno.

                                                                                                       Magno Aquino ______________
   
Jamais me sentira tão desamparo com naqueles 16 de março; meu primeiro dia como interno no centro de recuperação de mendigos da Missão Vida. Em nenhuma outra ocasião, nem na prisão, odiara tanto gente ao mesmo tempo; desesperei.
Não pude suportar a entrevista, o quarto 18, os outros internos, o jantar, o culto; eu perdera. Fali em todas as minhas tentativas de ser feliz sem Deus; nada de bom pra recordar. Um derrotado de volta à casa de Deus, meus juramentos, todos eles estavam quebrados; de volta à presença d’Aquele que eu tentara ignorar.
À noite, no quarto 18 eu entendi o porquê da frase: “Passar um filme em minha cabeça.” Naquela noite tive sessão dupla; falar pelos outros internos não posso, mas afirmo que o primeiro pensamento geral é: “Como vim parar aqui?” E o filme em nossas cabeças, certamente tem dado respostas contundentes, desconcertantes.
Longe de dizer que me desapontara com a Missão Vida, tudo aqui é pensado visando o conforto e a praticidade, nada está fora do lugar; é quase a nossa casa, guardadas as proporções. Aqui é possível passar a noite quase em paz. 
Não era a Missão Vida o problema, mas eu, e a minha vida sem meio e, quase no fim. Minha dolorosa tarefa era tentar compreender a minha própria trajetória, começando no dia no qual engoli dois comprimidos, uma dose de run, e jurei que era o dono do mundo. Assim resumi: Viciado, ladrão, cobrador do tráfico, cão de guarda... Crente, estudante, cinegrafista, evangelista, seminarista, missionário... Relapso, arrogante, soberbo, alcoólatra, mentiroso, desempregado, ladrão, mendigo... Ladrão de mendigos. –
Era muito, era demais para os meus 38 anos, alguns destes sendo crente; era pra arrumar a trouxa e me mandar, “Nem o Deus da Missão Vida podia me ajudar!” Aquilo tudo, aquele papo de perdoar deveria ser bom pra outros; não servia pra mim. Passei.
Era tão perdedor que nem mesmo o afeto do pastor Arnaldo, a paciência amorosa do pastor Domingos e o amor exigente e cheio de broncas do pastor Antônio Silva me faziam reagir. Aquilo parecia não ter futuro.
 Tentaram encaixar-me na construção civil, mas eu não conseguia erguer a lata de 20 quilos. Valentemente resisti por três dias; compadecida, Dª Cleide me mandou varrer o chão, serviço leve, mas a sensação de “espaço aberto”. Tremia em lugares abertos.
Insone, dependente de 19 comprimidos/dia em troca de duas horas de sono ruim; arrastava-me. Passar o dia no arrozal espantando passarinhos da plantação era a minha terapia, e começava, sem que eu percebesse, a tornar-se a mão de Deus em mim.
O pavor que nutro por cobras me fez pensar em orar, nunca orara com responsabilidade, mas eram tantas as cobras que apareciam no arrozal, que “Só Deus na causa!” E então fiz aquilo que era meu costume: li todos os livros sobre oração; só não orei.
Até encontrar uma cascavel, eu e ela, e o tenebroso guiso, (mamãe disse que é chocalho) e não tive escolha, orei como nunca orara antes e não sei de onde arranquei coragem, e matei a cascavel. Foi um evento! Guardei a cobra, depois esfolei a dita cuja, guardei o couro (me furtaram o couro) e dei o guiso pro Joninhas chaveiro, e jamais fui tão grato a Deus.
Assim eu descia todos os dias, orando em voz alta; por estes tempos o pastor Arnaldo me visitou no arrozal, foi o gesto mais carinhoso e amigável que me lembro; eu era um restolho, complicado até pra falar, e ele ficou ali, quis ouvir e ouviu a minha história, e disse coisas que só o coração de pai que só ele tem poderia dizer. Quando se foi, deixou um homem transtornado.
Procurei minhas raivas, ressentimentos e, nada. Até do pastor Antônio Silva eu começara a gostar, e da Dª Joana; no início era impossível não sentir raiva deles, meu coração se fechava cada vez que os encontrava, olhava pro chão e seguia; um sentimento de revolta me invadia, sempre.
Após o culto final do retiro de homens daquele ano (leia: A despeito de nós – 26/02/2009 – nesta seção) eu simplesmente passei a orar, simples assim, o episódio com a cascavel despertara-me quanto à necessidade de orar, mas agora eu sabia que sem oração não iria muito longe. 
Poder afirmar, sem rodeios, que sou um milagre custou caro; ao Cristo custou a cruz; custou-me entender, crer, querer, submeter. Sou um milagre não por deixar de beber álcool combustível, roubar ou mendigar somente, mas por deixar de ser otário e aceitar que, sem Deus eu nunca fui nem serei alguém que valha algo. Deus me ama!
Nesta hora nada é mais importante do que tentar expressar gratidão! É isso que tento agora, ser grato a Deus, dizer isso a Ele, totalmente sem jeito já que não aprendi a mostrar gratidão nos seguidos anos de vício e roubo e violência; ser grato ao pastor Wildo por ter atendido o chamado de Deus e dedicar sua vida, toda ela a cuidar de gente como eu. Ser grato aos que nos alimentam na Missão Vida enquanto somos recuperados pra um dia, poder voltar pra casa. 

(ex-interno do centro de recuperação de mendigos – Missão Vida)

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quinta-feira, 16 de julho de 2009

Eu venho como estou... parte final


Os exames que o médico pediu ficaram prontos; fiz, não tinha ânimo pra discutir com ele, e precisava parecer bem, eu gostava da crente, mesmo sabendo que iria embora. Urinava com dificuldade e respirar era uma tarefa ingrata. Ficaria melhor em Montes Claros.

Ir embora significava reencontrar um monte de pessoas com as quais eu não queria encontrar; Corjesu, meu irmão mais velho me encontrou em frente ao BB, quase morto, overdose de “algafan” moído e injetado; a noite inteira tentando me reanimar; nos últimos dois meses foram seis paradas. Isso, e o pó de anjo. Suicídio.

Voltar pra casa era estranho, mamãe não sabia de nada, ou quase nada, jamais fora a uma cadeia me buscar, nem hospital, nem qualquer outro lugar; se tivesse que envergonhar minha mãe, se ela tivesse que passar vexame, morrer era melhor. Não era amor igual ao que os crentes sentiam pelas mães deles, mas era, acho que era. Ou era medo de desapontar mais.

Ficava tendo pesadelo com a carinha de mamãe, triste me olhando; fazia-me bem achar que ela pensava em mim, até falava: ”É melhor ter cuidado pra não chatear mamãe, ela é brava, fecha o tempo comigo se eu vacilar!” Às vezes bandido fica assim, “doidin” pra alguém se importar com ele, se for mãe então, vich!

“quantas vezes, eu chegava em casa, era garoto, e se mamãe não estivesse acordada, pra falar que: “Cê ainda vai me ver morta! Qualquer hora cê me encontra no chão!”Que estava sentindo “uns trem no peito” e que se morresse, não queria nem que eu fosse ao enterro... Eu ia dormir contrariado: “Ave cruz! Nem ta nem aí se chego vivo ou morto, depois fala que me ama, que isso, que aquilo... Falô, então ama né?”

Era por causa da lembrança do nome das mães que não desandava tudo, volta e meia alguém gritava: “Pelo amor da sua mãe!” E isso sempre atrapalhava; botar nome de mãe na conversa nunca deu certo.

As viagens agora eram raras, eu procurava ficar na cidade a maior parte do tempo, até estudava com o Davi, um crente batista que era colega na escola agrícola, detestava o papo de crente do Davi. Roubaram o dinheiro do crente e a culpa caiu em mim, eu não roubaria um crente.

Com os remédios a aparência melhorou, ia sempre à casa da família da namorada crente, ainda era confuso conviver com eles, riam demais.

Ir a igreja já deixara de ser motivo de gracejos, só mesmo quando tínhamos algum compromisso maior é que eu faltava; dizia ao contato do barão que era um bom álibi caso as notícias das cargas se espalhassem, alguns motoristas estavam nervosos; minha dívida com o barão já estava quase quitada.

Não odiava mais os crentes, só não entendia nem acreditava no negócio de levantar a mão. E a idéia de morar com Deus no Céu era muito cabulosa. E Deus lá ia querer saber de gente da minha laia?

“De manhã saímos da igreja e fomos visitar gente doente; todo dia os crentes arranjavam gente pra visitar, e orar; descobri que os crentes, se não estivessem rindo, é porque estavam orando. Todo dia tinha um doente pra visitar, e orar.”

À noite eu deixei minha mochila pronta, iria à igreja, e de manhã, antes que as coisas piorassem, nós estaríamos a caminho da Rio - Bahia, última entrega, acerto de contas e adeus. Era mais seguro não estar por ali quando a polícia da capital chegasse, ser encontrado com a crente seria ruim pra ela. Ser preso na frente dela seria ruim também.

Apocalipse 3: 20, e a história do quadro com o coração desenhado, aí chega o crítico de arte e desata a por defeito na pintura, e reclama que a porta não tem fechadura, até o artista explicar que aquela porta só seria aberta por dentro... Já contei essa parte em outro artigo.

O que não contei foi o quanto aquela historinha simples me atingiu, foi um estrago, seria capaz de jurar que jamais ouvira uma coisa tão linda, e cada palavra daquele homem era mais desejável que a outra, pensava em minha situação e desesperava, devia sair dali, mas esperava mais uma frase, e mais uma frase, só mais uma frase.

Estava irremediavelmente encantado com tudo que ouvia, ouviria até de manhã, como eu queria que aquelas palavras fossem pra mim! Pensava: “Porque não falam assim comigo? Se as pessoas escutassem isso, seria diferente!” Jesus era, naquela hora, do jeitinho que a música falava que era... “Oh! Vem! Sim, vem! Não te demores, vem já.” Como, naquele momento, eu queria ser como os crentes! Até ensaiaria um riso! “Eis bate à porta, paciente esperando, e chama: Ó pecador vem!”

Eu ficava ali parado e tremendo e já chorando e agonizava; “Será que esse infeliz vai esquecer, logo hoje de mandar levantar a mão? Do jeito que crente não me suporta é capaz dele não mandar levantar a mão, e aí, o que eu faço?!”

Quando dispararam: “Eu venho como estou...” Eu não quis mais saber se ele ia mandar levantar a mão, caminhei lá pra frente, nada poderia me impedir de levantar a mão, seja lá quais fossem as conseqüências. Naquela hora eu só queria levantar a mão.

Lá, perto do moço do supermercado que falava coisas da Bíblia, eu fui como eu estava, pra nunca mais ser como eu havia sido até então.

A arma incomodou na cintura, eu era um “bíblia!”

Magno Aquino - missionário

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Eu venho como estou... 2ª parte

“Crentes, tenho certeza, são combinados entre si, quando encasquetam com alguma coisa; perseguir alguém, por exemplo...”

Agora era assim, eu cada vez com problemas maiores, a polícia, concorrentes, outros cobradores. Mudava de cidade. Cada cidade pior que a anterior, e pra piorar não importava a distância ou o tamanho da cidade, uma coisa era certa, os crentes.

Na verdade eu não sabia dizer se sempre existiram tantos crentes no mundo e eu não notara antes, ou de uma hora pra outra brotavam crentes como brota o mato no cerrado após uma chuva. Também podia ser trauma, a experiência ruim na “toca do demo”, ou melhor, pracinha dos crentes. Era escurecer e pronto, daí a pouco eu encontrava uns crentes, se combinasse pra encontrar não daria tão certo! “Já refulge a glória eterna...” Parecia praga.

Podia dizer até em qual parte do culto eles estavam, dependia da música, isso eu sabia, dependia da música! Eu sabia. Só o lance de levantar a mão é que eu não entendia ainda.

Às vezes ouvia parte da fala, e cada vez mais odiava os crentes, recebia o folheto só pra embolar e jogar fora, lia alguns, só por ler; “fácil falar de paz, não estavam a centenas de quilômetros de casa (às vezes eu me lembrava de casa, e de mamãe.). Podiam falar de esperança, não estavam em fuga! Não corriam o risco de “rodar”, ou dar de cara com o carniceiro.” Eu estava devendo, pagavam bem pelo meu couro.

“Eram mentiras, aquilo tudo, só mentiras. Ninguém podia ser daquele jeito, feliz. Não existia lugar daquele jeito, gente daquele jeito, Deus devia ser bom, mas era para os crentes.” Torturava-me. “Bandido não fica velho, morre antes.” Vivia esperando, sempre. “Como alguém podia ser crente? Eu não cairia numa conversa daquelas!”. “Era bom demais, não era verdade.”

Agora eu vivia às voltas com os crentes, até na gang tinha o “aleluia”, um crente, filho de crente, desviado; era o meu trunfo, a prova que eu procurava; se vida de crente prestasse um crente não sairia da igreja dos crentes pra virar ladrão e cão de guarda! “Ah, na primeira chance eu o esfregaria na cara do pastor! Só pra ver aquele sorrisinho fugindo-lhe da cara!”

Observando o quanto “aleluia” sofria lembrando o tempo de crente ocorreu-me arranjar um jeito de dar drogas aos crentes, no colégio; um monte de crente, viciados e sem dinheiro pra comprar mais drogas e então um monte de crentes ladrões, prostitutas, cães de guarda... Colossal vingança. O fim dos crentes. Mas foi só um pensamento. Pensei, e estremeci.

Vale do Jequitinhonha, saíra apressado da cidade anterior.

Nenhum amigo no colégio agrícola. Era preciso estampar o meu “crachá de otário”, não chamar a atenção. Apesar de ser um colégio interno (EAF) havia um grande número de viciados, gente pequena, fumavam maconha que plantavam nos arredores da escola ou compravam pequenas quantidades na região.

As coisas mudam...

Era madrugada quando retornei ao colégio, à base de “algafan” passara os três últimos dias, voltava de Taiobeiras, encomendas do barão. Assisti às aulas na horta. Dia comum e ruim. À tarde, escondido nos últimos bancos do ônibus que levava os professores de volta à cidade, ouvia a conversa dos semi-internos, tomavam optalidon, cheiravam loló, lixo forte.

Na cidade fui apresentado a uma crente, aliás, fui apresentado a várias pessoas, todas sorridentes; por se tratar de uma crente eu dediquei-me a olhar somente pra garota, não olhava pra mais ninguém, e o sorriso não era assim tão irritante, era até bom de olhar. Não senti vontade de arrancar-lhe o sorriso, isso não! Era um belo sorriso. Aquele sorriso me descansava.

Presbiteriana! Não sabia o que significava, mas que era uma bela palavra, isso era. Presbiteriana!

Agora eu sempre falava com a irmã, até o começo do namoro eu sempre me referia a ela por: a irmã! Eu, fugitivo de tantas coisas, namorando uma crente, improvável, impensável, mas era a verdade. Namorava uma crente.

Até ir à casa da namorada crente (sim, fui conhecer a família crente da namorada!) eu não tinha uma noção clara do que era viver em família; lá em casa mamãe lecionava nos três turnos e ainda costurava. Sustentar-nos, educar-nos, rigidamente. Prioridades.

Sofri um choque, aquelas pessoas rindo, e comendo e falando e rindo mais. A atmosfera me apanhou de surpresa; rir, marca daquele povo estranho. Voltaria ali muitas vezes, mas nunca ia chapado ou armado, difícil era conviver com a alegria deles, nunca discutiam, não gritavam, nunca reclamavam. Já não odiava muito.

Fui à igreja; fora as partes que eu já sabia eles me mandaram ficar de pé e eu fiquei de pé. Não sei dizer o porquê de obedecer e ficar de pé. Só fiquei.

Com todos os problemas que carregava, e com a saúde em péssima situação, decidi ir embora, as coisas dando errado, e eu sentindo inveja da vida dos crentes. Era hora de voltar para a boca do inferno. Habitat. Segurança.


Sem rima, nem modos

Se dependesse de mim

Raptar-te-ia

Ainda hoje

Cativeiro no ermo

Castelo de fada

Torre de Rapunzel

Se por minha vontade se movesse o mundo

Só eu te acharia

Cedo ou tarde

Todas as horas

No mesmo lugar

Em mim

Morada e abrigo

Mas não depende de mim

De ti depende

Dependo

Até quase rimo

Pra chamar teus olhos

Pra olhar pra mim

Repetitivo e chato

Ensaiando versos

Que a ti nada dizem

E se dizem

Bem disfarças

Pra me ter sofrendo

Arriscando o mesmo verso

Sem pontos

Nem vírgulas

Sem exclamações

Nem reticências

Sem rima

Nem modos

Magno Aquino